Em
pleno dezembro...
Por
Alessandra Leles Rocha
A deterioração social atingiu um
grau inimaginável. É triste dizer isso, em pleno dezembro, quando milhares de
seres humanos celebram, ainda que de maneira um tanto quanto equivocada e distorcida,
o nascimento de Jesus.
Pois é, o mês que se consolidou
no inconsciente coletivo como a renovação de votos de afeto, de ternura, de
amizade, de esperança, de fraternidade, de família, e que, agora, emerge
manchado pelo extremo oposto desses sentimentos e emoções, nos deixando
estarrecidos.
Vejam essas manchetes, por
exemplo, “Quatro crianças são encontradas
mortas dentro de casa em Alvorada; suspeito é o pai” 1,
“Homem invade escola e ataca professores com faca em Ipaussu” 2. O dezembro natalino festivo substituído pela
sanha da violência. O dezembro das celebrações coletivas entre amigos e
familiares destroçado pela dor das perdas irreparáveis e injustificáveis.
Se alguém ainda tem dúvida, esse
é o retrato da deterioração social em estado bruto. Um tsunami de incivilidade,
de bestialidade, de ignorância absoluta, que está varrendo a convivência e a coexistência
humana.
Acontece que se tudo isso tem um
custo material, é na sua imaterialidade, na sua subjetividade, que ele causa o
impacto mais devastador e irreparável.
Afinal, falar de saúde mental,
infelizmente, ainda é um tabu na sociedade contemporânea. No entanto, todo esse
movimento irracional tem feito emergir uma legião de indivíduos com transtornos
de estresse pós-traumático (TSPT).
Violências, sejam elas de que
natureza forem, são importantes promotoras desse fenômeno. Se a morte parece
colocar um ponto final na história, a verdade é que a reverberação da violência
sobre quem permanece vivo se torna um fator limitante, não apenas para as
relações humanas; mas, para a dinâmica do cotidiano e para o fluxo natural do
desenvolvimento e do progresso nacional.
Sim, transtornos de estresse
pós-traumático desencadeiam reações disfuncionais intensas e de longa duração,
que repercutem fisiologicamente e no comportamento dos indivíduos afetados. Isso
significa que eles deixam de viver dentro dos parâmetros da normalidade e do
bem-estar.
Já pensou quantas pessoas se
queixam diariamente de ansiedade, pânico, raiva, culpa, irritabilidade, baixa
concentração, perda de memória, manifestações antissociais, e/ou fadiga e dores
excessivas? Sem que você saiba, talvez, muitas delas sejam vítimas de transtornos
de estresse pós-traumático direto ou indireto.
Dizem por aí, que os males da
contemporaneidade são o estresse e a depressão; mas, eles são só a espuma da
insalubridade mental que ronda a humanidade, a ponta de um gigantesco iceberg em plena rota de colisão com
milhões de pessoas.
Porém, por conta do tabu
estabelecido há tempos, não há reflexão, nem discussão, nem ação, para conter o
seu avanço devastador. De modo que o silêncio e a inação nesse caso culminam em
retroalimentar a deterioração social.
O que não se resolve pelas vias
adequadas acaba, portanto, resolvido por rompantes e explosões de fúria, os
quais têm por único objetivo o arrefecimento temporário das pressões e tensões
sociais, tanto individuais quanto coletivas.
Daí a necessidade de recompor a consciência
de que cada instante é único. Pode não haver amanhã, nem depois, nem um próximo
dezembro; pois, vivemos naturalmente sob o signo da incerteza.
Esse é o ponto, então, que impõe uma
análise mais crítica e reflexiva sobre a deterioração social. Vamos e convenhamos,
ela vem sendo o grande catalisador da autodestruição humana sem encontrar
quaisquer resistências às suas investidas.
Portanto, aproveite que é
dezembro; esse é um tempo bastante oportuno para internalizar a ideia de que “É natal, sempre que deixares Deus amar os
outros através de ti... sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe
ofereceres a tua mão” (Madre Teresa de Calcutá). Afinal de contas, “Deus ensinou à humanidade, naquele primeiro
dia de Natal, o que era ser homem. Dar e não tomar. Servir e não dominar. Nutrir
e não devorar” (Charles Kingsley).
Como dizia Santo Agostinho, “Não é tanto o que fazemos, mas o motivo
pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia” e, nesse contexto, possivelmente, nos veremos aptos a aceitar
as seguintes “Sugestões de presentes para
o Natal: Para seu inimigo, perdão. / Para um oponente, tolerância. Para um
amigo, seu coração. / Para um cliente, serviço. / Para tudo, caridade. / Para
toda criança, um exemplo bom. / Para você, respeito” (Oren Arnold). Não se
esqueça, “Se queremos progredir, não
devemos repetir a história, mas fazer uma história nova” (Mahatma Gandhi)!