quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Em pleno dezembro...


Em pleno dezembro...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A deterioração social atingiu um grau inimaginável. É triste dizer isso, em pleno dezembro, quando milhares de seres humanos celebram, ainda que de maneira um tanto quanto equivocada e distorcida, o nascimento de Jesus.

Pois é, o mês que se consolidou no inconsciente coletivo como a renovação de votos de afeto, de ternura, de amizade, de esperança, de fraternidade, de família, e que, agora, emerge manchado pelo extremo oposto desses sentimentos e emoções, nos deixando estarrecidos.

Vejam essas manchetes, por exemplo, “Quatro crianças são encontradas mortas dentro de casa em Alvorada; suspeito é o pai” 1, “Homem invade escola e ataca professores com faca em Ipaussu” 2.  O dezembro natalino festivo substituído pela sanha da violência. O dezembro das celebrações coletivas entre amigos e familiares destroçado pela dor das perdas irreparáveis e injustificáveis.

Se alguém ainda tem dúvida, esse é o retrato da deterioração social em estado bruto. Um tsunami de incivilidade, de bestialidade, de ignorância absoluta, que está varrendo a convivência e a coexistência humana.

Acontece que se tudo isso tem um custo material, é na sua imaterialidade, na sua subjetividade, que ele causa o impacto mais devastador e irreparável.

Afinal, falar de saúde mental, infelizmente, ainda é um tabu na sociedade contemporânea. No entanto, todo esse movimento irracional tem feito emergir uma legião de indivíduos com transtornos de estresse pós-traumático (TSPT).

Violências, sejam elas de que natureza forem, são importantes promotoras desse fenômeno. Se a morte parece colocar um ponto final na história, a verdade é que a reverberação da violência sobre quem permanece vivo se torna um fator limitante, não apenas para as relações humanas; mas, para a dinâmica do cotidiano e para o fluxo natural do desenvolvimento e do progresso nacional.

Sim, transtornos de estresse pós-traumático desencadeiam reações disfuncionais intensas e de longa duração, que repercutem fisiologicamente e no comportamento dos indivíduos afetados. Isso significa que eles deixam de viver dentro dos parâmetros da normalidade e do bem-estar.

Já pensou quantas pessoas se queixam diariamente de ansiedade, pânico, raiva, culpa, irritabilidade, baixa concentração, perda de memória, manifestações antissociais, e/ou fadiga e dores excessivas? Sem que você saiba, talvez, muitas delas sejam vítimas de transtornos de estresse pós-traumático direto ou indireto.

Dizem por aí, que os males da contemporaneidade são o estresse e a depressão; mas, eles são só a espuma da insalubridade mental que ronda a humanidade, a ponta de um gigantesco iceberg em plena rota de colisão com milhões de pessoas.

Porém, por conta do tabu estabelecido há tempos, não há reflexão, nem discussão, nem ação, para conter o seu avanço devastador. De modo que o silêncio e a inação nesse caso culminam em retroalimentar a deterioração social.

O que não se resolve pelas vias adequadas acaba, portanto, resolvido por rompantes e explosões de fúria, os quais têm por único objetivo o arrefecimento temporário das pressões e tensões sociais, tanto individuais quanto coletivas.

Daí a necessidade de recompor a consciência de que cada instante é único. Pode não haver amanhã, nem depois, nem um próximo dezembro; pois, vivemos naturalmente sob o signo da incerteza.

Esse é o ponto, então, que impõe uma análise mais crítica e reflexiva sobre a deterioração social. Vamos e convenhamos, ela vem sendo o grande catalisador da autodestruição humana sem encontrar quaisquer resistências às suas investidas.  

Portanto, aproveite que é dezembro; esse é um tempo bastante oportuno para internalizar a ideia de que “É natal, sempre que deixares Deus amar os outros através de ti... sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe ofereceres a tua mão” (Madre Teresa de Calcutá). Afinal de contas, “Deus ensinou à humanidade, naquele primeiro dia de Natal, o que era ser homem. Dar e não tomar. Servir e não dominar. Nutrir e não devorar” (Charles Kingsley).

Como dizia Santo Agostinho, “Não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia” e, nesse contexto, possivelmente, nos veremos aptos a aceitar as seguintes “Sugestões de presentes para o Natal: Para seu inimigo, perdão. / Para um oponente, tolerância. Para um amigo, seu coração. / Para um cliente, serviço. / Para tudo, caridade. / Para toda criança, um exemplo bom. / Para você, respeito” (Oren Arnold). Não se esqueça, “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova” (Mahatma Gandhi)!