Desordem,
Retrocesso, ... Anticidadania
Por
Alessandra Leles Rocha
Não foi necessária nenhuma
atitude dos outros, para que o ódio da ultradireita desnudasse o seu rosto e as
suas intenções. Agora, todos sabem quem são os representantes da turba da
balbúrdia, da confusão, da discórdia, da desordem e do retrocesso. Tomados pelo
seu inconformismo crônico e doentio, em relação ao controle do poder social, político
e econômico do país, eles vêm marcando raivosa e antidemocraticamente a sua
posição desde o fim das eleições deste ano.
Então, ontem, à noite, depois da
diplomação do Presidente e do Vice-Presidente da República, eleitos democraticamente,
um pequeno grupo de anticidadãos decidiu destruir as linhas da civilidade e tentaram
invadir a sede da Polícia Federal (PF), em Brasília/DF; além, de queimar 8
carros, 5 ônibus, e depredar uma Delegacia de Polícia 1.
Em suma, buscaram medir forças com a legalidade, criando um pequeno caos na
capital federal.
É uma pena que sua estupidez
beligerante seja bem maior do que o seu senso de cidadania e patriotismo, a tal
ponto que os faça desconsiderar a própria legislação vigente no país. Vejam que
os recentes acontecimentos atentam diretamente ao que estabelece o artigo 359-L
2, da lei n.º 14.197, de 1º de setembro
de 2021, e por isso, irão acarretar a todos os envolvidos, direta ou
indiretamente, a responsabilização cabível, estejam eles no campo da mentoria
intelectual ou na prática delituosa em si.
Tudo porque não admitem que nada
e nem ninguém ameace o modelo de organização social, política e econômica, que
julgam ser o ideal para não ameaçar suas regalias e privilégios, consolidados desde
os idos do Brasil Colonial. Sim, o desespero da ultradireita brasileira nasce
desse ranço histórico permeado de desigualdades, de intolerâncias, de
preconceitos e de violências, que sempre esteve presente no país, de uma
maneira, muitas vezes, subliminar; mas, que alcançou o ápice da sua
legitimidade nos últimos quatro anos.
Infelizmente, é dessa base ideológica
que se proliferam discursos e narrativas distorcidos, inverídicos, a fim de
estabelecer o medo e o terror entre a população; sobretudo, entre parcelas
menos politizadas. Não é à toa que tanto se ouviu falar, nos últimos tempos, em
ocupação do comunismo no país, em apropriação da propriedade privada, em
doutrinação escolar obrigatória quanto ao ideário de esquerda, liberação do
consumo de drogas, fechamento de igrejas, e coisas desse tipo. Tudo sem nenhum
respaldo real, jurídico e concreto, apenas um artifício linguístico de
intimidação e manipulação social.
É curioso que essas pessoas não
entendam que o fato de se valerem dessas estratégias para encobrir o seu próprio
desvirtuamento ético e moral, a sua ganância, a sua arrogância, a sua
anticidadania, na verdade, acaba deixando tudo muito mais às claras. De certo
modo, pode-se dizer que é o declínio e a ruína da autoaclamação como pessoas de bem, na medida em que há um
franco desvirtuamento entre a linguagem e a realidade. Afinal, uma pessoa de
bem deve ter boa índole, bom caráter, empatia, altruísmo; portanto, não sai por
aí investido de egoísmo, de individualismo, de narcisismo, de autoritarismo.
Talvez sejam essas as sementes do
fundamentalismo contemporâneo dispersadas entre nós. Segundo Umberto Eco, “Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância
e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo”.
Exatamente o que os relatos dos recentes atos e manifestações antidemocráticas
têm exibido, e que nos deixam a plena certeza de que “Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos
a ser convencido pelos nossos argumentos” (Karl Raimund Popper).
Portanto,
se
estamos diante de uma situação assim é porque “Ninguém pode negar, face aos indícios disponíveis, que é fácil, uma
vez garantido o poder militar, produzir uma população de lunáticos
fundamentalistas. Talvez fosse igualmente fácil produzir uma população de gente
razoável e sã, mas muitos governos preferem não o fazer, visto que essas
pessoas seriam incapazes de sentir admiração pelos políticos que lideram tais
governos” (Bertrand Russell). Entendeu,
agora???
1 https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/12/13/bolsonaristas-queimaram-7-carros-e-4-onibus-e-depredaram-delegacia-em-ato-em-brasilia-dizem-bombeiros.ghtml
2 Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.