sábado, 17 de dezembro de 2022

A desafiadora tarefa brasileira no protagonismo ambiental


A desafiadora tarefa brasileira no protagonismo ambiental

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É triste ratificar que o Brasil viveu por quatro anos sob a batuta de um governo que desconhece os princípios da administração pública, ou seja, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Por isso, não é de se surpreender que ao apagar das luzes ele decida flexibilizar a exploração madeireira em terras indígenas 1, acenando com mais um toque melancólico ao fim de sua gestão.

Sinceramente, uma afronta a mais outra a menos para o governo que irá tomar posse em 1º de janeiro, não faz qualquer diferença e nem tão pouco uma carga a mais de trabalho. O relatório elaborado pela equipe de transição, na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade, já tem a devida dimensão dos desafios que deverão ser enfrentados, em relação a esse assunto, o qual afeta os diferentes biomas nacionais.

Mas, da fronteira para fora do país, aí sim, faz total diferença; sobretudo, para a União Europeia (UE) que acaba de aprovar restrições a produtos com origem em áreas desmatadas 2. Não sei se depois da aclamada participação do presidente eleito à COP-27, apontando os novos rumos da política brasileira no cenário Ambiental e Sustentável do mundo, madeira explorada em terras indígenas possa despertar qualquer interesse para o mercado internacional.

A medida é só mais do mesmo que se viu acontecer ao longo da gestão que se finda em 31 de dezembro. Uma volta ao passado colonial de exploração dos recursos naturais de maneira incivilizada e predatória, com vistas a não deixar sequer uma árvore. Aliás, a materialidade da expressão terra arrasada se dá pela visão dos principais biomas nacionais – Amazônia, Pantanal e Cerrado -, onde o meio ambiente foi sumariamente devastado pelas práticas antrópicas do desmatamento e das queimadas ilegais.   

E tamanha destruição foi apenas um pretexto para a empreitada maior, no caso do bioma Amazônico, que era a exploração das jazidas minerais. O ouro que trouxe o derramamento de mercúrio e de sangue nas terras e nos rios amazônicos, é só uma das riquezas existentes no subsolo da região. Daí a fúria com que se permitiu investir contra indigenistas, ribeirinhos, povos originários e quaisquer outros que se colocassem em oposição a essas práxis. Só se esqueceram de que não estamos mais no século XVI. Estamos no século XXI, quando as ciências e as tecnologias não deixam que nada e nem ninguém passe despercebido aos olhos do mundo.

Os crimes ambientais contemporâneos vêm correndo pelos veículos de informação e comunicação, como um rastilho de pólvora. Por isso, chegaram as altas cortes internacionais de defesa dos Direitos Humanos em tempo recorde, dando nome e sobrenome aos culpados diretos e indiretos, aos mentores intelectuais e aos serviçais de primeira ordem. Portanto, aqui, ali e acolá, todos já sabem o que aconteceu ao meio ambiente brasileiro nesse período e puderam fazer seu próprio juízo de valor a respeito. O que explica o motivo da decisão da União Europeia (UE), por exemplo.

Pois é, foi se baseando nos tempos tristes de colônia de exploração que o Brasil se apequenou diante do mundo, arrastando uma corrente de vergonhas e de constrangimentos que tão bem dimensionaram a sua desordem e retrocesso contemporâneo na área ambiental. Foram quatro anos na contramão da vanguarda de um mundo que busca desenvolver-se a partir da Sustentabilidade de uma Economia Verde, como se isso fosse totalmente aceitável e vantajoso.

Que bom, então, que o Brasil esteja de volta! A realidade é senhora de si, ela não se sujeita as vontades e quereres de ninguém, ela é o que é. E mesmo que ainda não seja na totalidade, o mundo contemporâneo já percebeu que é inútil remar contra essa maré. Eventos extremos do clima. Escassez de alimentos e dificuldades de produção agrícola. Surgimento de epidemias. Deslocamento geográfico forçado. ... A relação estreita entre sustentabilidade e sobrevivência se torna cada vez mais visível.  

É por essa razão que as discussões sobre meio Ambiente e Sustentabilidade não são meros mimimi, como uns e outros querem fazer parecer. O planeta Terra ainda é o único abrigo que dispõe a raça humana. Não há outra opção. Ou trabalhamos pela sustentabilidade ou sucumbiremos à resposta violenta do Meio ambiente em relação às ações antrópicas.

Não é à toa que, há pouco mais de três décadas, o Brasil já registrava constitucionalmente o seu entendimento sobre isso, ou seja, “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (art. 225, CF de 1988).