Atenção
aos exemplos!
Por
Alessandra Leles Rocha
Cabe perfeitamente bem, nesse
momento brasileiro, o provérbio espanhol que diz “quando você ver as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de
molho”. Pois é, observando que a “Tensão
na Ásia aumenta após Coreia do Norte disparar 23 misseis” 1,
“Rússia pede calma aos dois lados sobre mísseis coreanos” 2.
O que significa que a guerra, como tudo na vida, tem seus limites.
Depois do presidente russo
exceder todas as fronteiras do bom senso diplomático e humanitário, a iminência
de um conflito externo de proporções inimagináveis coloca a sua prepotência beligerante
em xeque. Ele sabe que a presença de mais um conflito armado no mundo,
inclusive com risco nuclear, é insustentável até mesmo para a sua megalomania. Então,
meio que a contragosto, ele foi levado a pedir calma. Quem diria, não é mesmo?
Na geopolítica, reconhecem os mais
atentos no campo das relações internacionais, que os limites surgem quando as
perdas se mostram superiores aos ganhos. Simples assim. Aqueles que tentaram
afrontar essa máxima caíram literalmente do cavalo e pagaram um preço alto pela
sua estupidez narcísica; sobretudo, em termos de capital político. E o
presidente russo sabe, muito bem, que a guerra contra a Ucrânia já foi longe
demais.
A falta, ou o erro, de estratégia
pode ser fatal. Especialmente, quando a conjuntura global mostrava um cenário
de total desconfiguração socioeconômica diante uma Pandemia ainda presente. Em maior
ou em menor escala, todos os países do mundo estavam em um momento de
redefinição da sua organização para mitigar os efeitos nocivos da COVID-19,
cientes de que seria um movimento de longo prazo para recuperação. Mas, eis que
a Rússia decidiu invadir a Ucrânia.
E apesar de todos os apelos
internacionais, de todos os prejuízos deflagrados desde então, o presidente
russo se manteve obstinado na sua beligerância, não importando o que isso
custaria ao seu país e aos demais. Acontece que esse tipo de resistência gera um
componente atrativo para outros que coadunam das mesmas ideias. Portanto, não é
de se espantar que, em algum momento, os norte-coreanos entrariam em ação com
as suas demonstrações de força.
Todas as grandes guerras são
assim. Elas têm essa capacidade aglutinadora de tensões. Haja vista a presença
do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – e dos Aliados – Reino Unido, França, União
Soviética e Estados Unidos –, durante à Segunda Guerra Mundial. De modo que os prejuízos
desses movimentos são sempre incalculáveis para a humanidade; visto que, a
chance de se perder o controle da situação é imensa.
Daí a necessidade de se pensar
muito bem, de se calcular os riscos, de enxergar as suas capacidades, antes de
embrenhar por uma situação de beligerância tão hostil. Porque o fracasso pode
ser o mínimo dos problemas a serem enfrentados. Basta ler sobre a recuperação
dos países que compuseram o Eixo, na Segunda Grande Guerra. Embargos,
retaliações, humilhações, estiveram entre os instrumentos aplicados ao final do
maior conflito já visto pela humanidade.
A realidade contemporânea neste século
XXI é suficiente para sinalizar uma conjuntura adversa para uma empreitada bélica
de grande envergadura. Os efeitos da guerra viral contra o Sars-Cov-2 ainda
reverberam e fragilizam a capacidade do mundo de se restabelecer
socioeconomicamente. Os efeitos dos eventos extremos do clima também se somam a
esse cenário e dificultam os caminhos. O planeta está mais pobre em todos os
sentidos e guerras custam um preço muito alto, especialmente, diante dessa
realidade.
Creio que chegamos a uma
encruzilhada existencial para a raça humana. Nada do que se viveu até aqui, em
termos de individualismo, de narcisismo, de consumismo, parece continuar fazendo
sentido dentro das novas conjunturas que se abriram. Os desafios que se
colocavam submersos sob camadas de invisibilização, de negação, de negligência,
foram abruptamente recrudescidos a partir da pandemia e das grandes catástrofes
climáticas, impondo ações imediatas em nome da sobrevivência humana.
É preciso entender que o planeta
Terra está cada vez mais próximo do seu ponto de não retorno. E não é somente sob
o aspecto ambiental; mas, político, econômico, social. Isso significa que as
ações antrópicas, em suas mais diversas formas e conteúdos, estão contribuindo
para que não haja capacidade de se retroalimentar os caminhos para o retorno
equilibrado da sobrevivência humana. Por isso, não se esqueça: “Só quando a última árvore for derrubada, o
último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que
não pode comer dinheiro” (provérbio indígena).