quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Atenção aos exemplos!


Atenção aos exemplos!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Cabe perfeitamente bem, nesse momento brasileiro, o provérbio espanhol que diz “quando você ver as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”. Pois é, observando que a “Tensão na Ásia aumenta após Coreia do Norte disparar 23 misseis” 1, “Rússia pede calma aos dois lados sobre mísseis coreanos” 2. O que significa que a guerra, como tudo na vida, tem seus limites.

Depois do presidente russo exceder todas as fronteiras do bom senso diplomático e humanitário, a iminência de um conflito externo de proporções inimagináveis coloca a sua prepotência beligerante em xeque. Ele sabe que a presença de mais um conflito armado no mundo, inclusive com risco nuclear, é insustentável até mesmo para a sua megalomania. Então, meio que a contragosto, ele foi levado a pedir calma. Quem diria, não é mesmo?

Na geopolítica, reconhecem os mais atentos no campo das relações internacionais, que os limites surgem quando as perdas se mostram superiores aos ganhos. Simples assim. Aqueles que tentaram afrontar essa máxima caíram literalmente do cavalo e pagaram um preço alto pela sua estupidez narcísica; sobretudo, em termos de capital político. E o presidente russo sabe, muito bem, que a guerra contra a Ucrânia já foi longe demais.

A falta, ou o erro, de estratégia pode ser fatal. Especialmente, quando a conjuntura global mostrava um cenário de total desconfiguração socioeconômica diante uma Pandemia ainda presente. Em maior ou em menor escala, todos os países do mundo estavam em um momento de redefinição da sua organização para mitigar os efeitos nocivos da COVID-19, cientes de que seria um movimento de longo prazo para recuperação. Mas, eis que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia.  

E apesar de todos os apelos internacionais, de todos os prejuízos deflagrados desde então, o presidente russo se manteve obstinado na sua beligerância, não importando o que isso custaria ao seu país e aos demais. Acontece que esse tipo de resistência gera um componente atrativo para outros que coadunam das mesmas ideias. Portanto, não é de se espantar que, em algum momento, os norte-coreanos entrariam em ação com as suas demonstrações de força.

Todas as grandes guerras são assim. Elas têm essa capacidade aglutinadora de tensões. Haja vista a presença do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – e dos Aliados – Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos –, durante à Segunda Guerra Mundial. De modo que os prejuízos desses movimentos são sempre incalculáveis para a humanidade; visto que, a chance de se perder o controle da situação é imensa.

Daí a necessidade de se pensar muito bem, de se calcular os riscos, de enxergar as suas capacidades, antes de embrenhar por uma situação de beligerância tão hostil. Porque o fracasso pode ser o mínimo dos problemas a serem enfrentados. Basta ler sobre a recuperação dos países que compuseram o Eixo, na Segunda Grande Guerra. Embargos, retaliações, humilhações, estiveram entre os instrumentos aplicados ao final do maior conflito já visto pela humanidade.

A realidade contemporânea neste século XXI é suficiente para sinalizar uma conjuntura adversa para uma empreitada bélica de grande envergadura. Os efeitos da guerra viral contra o Sars-Cov-2 ainda reverberam e fragilizam a capacidade do mundo de se restabelecer socioeconomicamente. Os efeitos dos eventos extremos do clima também se somam a esse cenário e dificultam os caminhos. O planeta está mais pobre em todos os sentidos e guerras custam um preço muito alto, especialmente, diante dessa realidade.

Creio que chegamos a uma encruzilhada existencial para a raça humana. Nada do que se viveu até aqui, em termos de individualismo, de narcisismo, de consumismo, parece continuar fazendo sentido dentro das novas conjunturas que se abriram. Os desafios que se colocavam submersos sob camadas de invisibilização, de negação, de negligência, foram abruptamente recrudescidos a partir da pandemia e das grandes catástrofes climáticas, impondo ações imediatas em nome da sobrevivência humana.

É preciso entender que o planeta Terra está cada vez mais próximo do seu ponto de não retorno. E não é somente sob o aspecto ambiental; mas, político, econômico, social. Isso significa que as ações antrópicas, em suas mais diversas formas e conteúdos, estão contribuindo para que não haja capacidade de se retroalimentar os caminhos para o retorno equilibrado da sobrevivência humana. Por isso, não se esqueça: “Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro” (provérbio indígena).