O
ponto alto do debate eleitoral: CORRUPÇÃO
Por
Alessandra Leles Rocha
Caro (a) leitor (a), por favor,
não se engane com a beleza paradisíaca da geografia brasileira. Aqui não é o Céu!
Aqui não vivem anjos com asas e auréolas! Talvez a beleza tenha vindo de brinde
para ajudar a realidade a ser um pouco mais palatável e menos difícil de lidar!
Mas é só. A grande verdade é que o dia a dia por aqui não é missão para
qualquer um.
Dito isso, nos deixemos invadir
pelas reflexões a respeito do dia seguinte ao primeiro debate eleitoral entre
os presidenciáveis, ocorrido na noite de ontem 1,
tomando por assunto principal a corrupção. Sim, porque daqui e dali ela
apareceu na boca de todos eles, como se estivessem tratando de uma questão
puramente contemporânea, o que não é fato.
Vamos estudar história, minha
gente! Há pouco mais de 500 anos, essa terra nunca viveu sob ares dissociados
de quaisquer vestígios dessa praga social! Chego a pensar que ela veio
escondida em alguma nau e, por aqui, encontrou água, alimento e abrigo para
viver e se multiplicar. Pois não há momento na história brasileira em que a
corrupção não se faça presente como protagonista ou coadjuvante. Mudam-se os
cenários, os roteiros, as personagens, o momento..., mas, lá está ela, como uma
das atrizes mais importantes da companhia.
Então, precisamos rasgar o verbo
e colocar os pingos nos is! É parte das relações sociais brasileiras o velho
hábito de lançar sobre ombros alheios as responsabilidades e obrigações, que
não se pretende assumir ou resolver. De modo que a culpa de tudo aquilo que dá
errado, que foi mal feito, que gerou problema, é “dos otro”. Esse sujeito genérico, sem rosto, sem identidade, que
veste bem a qualquer um que esteja em linha de colisão com o remetente
interlocutor.
E assim, cada geração tem o rol “dos otro” composto por figuras próprias
de sua época. A questão é que a corrupção só ganha corpo no Brasil, ou melhor,
só cai na boca do povo, quando os malfeitos escapolem e alcançam à luz do Sol.
Ora, já deveriam saber que não há
crime perfeito! E se não há, mais dia menos dia, ele ganha as páginas dos veículos
de informação e comunicação através do ato falho de algum participante mais
imprevidente ou da divulgação de alguma investigação policial que chegou a
termo. Resultado, o corre-corre ferve na sociedade! Afinal, ninguém quer estar
no rol “dos otro”.
De modo
que o contexto da corrupção acaba caindo na formatação de seriado de TV. Cada temporada
tem seu núcleo de corrupção definido e é sobre ele que recaem todo tipo de
comentários, maledicências, acusações, como se fossem o mais absurdo retrato da
excepcionalidade da realidade nacional.
Êpa! Mas,
não são! Mas, imbuídas em fazer parecer que sim, as narrativas são esquentadas
e requentadas inúmeras vezes com o único propósito de conter a disseminação
totalitária dos casos; pois, isso representaria o caos completo no país. Um
verdadeiro balaio de gatos!
E enquanto
alguém aponta a corrupção “dos otro",
se esquece de todos os outros dedos que apontam para si. Simples de entender,
quando se olha para as últimas décadas brasileiras. No entanto, há algo de mais
podre nesse reino brasileiro, que remonta também das nossas heranças coloniais.
O fato de
que o poder e a governança no país estiveram majoritariamente, transitando, ao
longo desses mais de 500 anos, dentro de um padrão que partiu de um berço monárquico,
depois caiu nos braços de sua descendência burguesa republicana até chegar na
elite ideologicamente estruturada nos vieses da direita. Então, é claro que
eles não querem se colocar em risco.
Portanto,
a solução oportuna, que veio a calhar perfeitamente para a direita nacional, foi
a presença de um governo de esquerda no país. A novidade faria com que a
população prestasse atenção neles e desconsiderasse o resto da história.
Como se
pudessem tecer a corrupção por uma trama indissociada à esquerda, cujo
resultado inevitável estivesse alicerçado por esse arcabouço ideológico. Tudo
para não admitirem as marcas da corrupção da direita e, nem tampouco, a
insatisfação de terem temporariamente sido preteridos do poder, o qual sempre acreditaram
lhes pertencer.
Bizarro?
Bizarríssimo. Porque a corrupção não tem partido, não tem bandeira, não tem
ideologia. Corrupção é um comportamento humano. Pessoas promovem corrupção e/ou
se deixam corromper. Fraqueza de caráter? Sim. Ambição desmedida? Sim. Ganância?
Sim. Fazer da vida um jogo? Sim. ...
São
muitas as possibilidades; mas, todas elas perpassam pela condição existencial
humana. É esse ser estranho e complexo que, vez por outra, se deixa enredar
pelos caminhos tortuosos e delirantes da vida para sentir correndo nas veias a
adrenalina do poder.
E esse
movimento prospera tão bem nos campos da política porque encontra neles um
terreno para florescer, ou seja, o fisiologismo. Um país de profundas
desigualdades, de uma frágil consciência identitária e cidadã, como não seria
inevitável que certos representantes e servidores públicos não viessem a luzir
a ideia de satisfazer seus interesses pessoais, individual ou coletivamente, a
partir da obtenção de vantagens e benefícios ainda que em detrimento do bem
comum?
É por isso
que a corrupção não é privilégio nacional! Há corrupção em todo o mundo. Em alguns
lugares mais. Em outros menos. Portanto é preciso romper com essa ingenuidade,
esse puritanismo de ocasião, e enfrentar os fatos como são. O ponto é, como pretendemos
lidar com essas práxis tão arraigadas historicamente?
Quais as nossas
propostas para romper com esses ares de perplexidade a cada novo escândalo de
corrupção, quando sempre estivemos cientes de que ela se escondia quieta sob
nossos olhos? Pretendemos ser mais vigilantes? Pretendemos punir os
responsáveis? Pretendemos cobrar as restituições materiais e imateriais da
corrupção?
Veja bem,
se não fomos ainda corrompidos pelos moldes das práticas fisiológicas vigentes,
fomos corrompidos com o nosso silêncio, a nossa inação, a nossa dissociação em
relação ao senso cidadão. Quando banalizamos, naturalizamos, trivializamos as
corrupções nacionais a tal ponto de considerarmos algum tipo de gradação ou estratificação
para elas.
Ora, ora!
Acontece que corrupção é corrupção. Não tem maior ou menor. Não tem pior ou
melhor. Não tem de esquerda e nem de direita. E o que é pior, infelizmente,
sempre haverá o risco de ela existir. Afinal, onde há seres humanos haverá
sempre a possibilidade ameaçadora de a corrupção acontecer. Entendeu agora?