quinta-feira, 9 de setembro de 2021

A Carta...


A Carta...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Bem, placebo não é remédio; então, nada de resolutivo foi aplicado aos graves efeitos colaterais ocasionados em forma e conteúdo pelo Presidente da República, durante as manifestações por ele convocadas. Afinal, cartas são apenas cartas, papéis cheios de ideias e palavras, as quais, nem sempre, têm o poder de expressar fidedignamente o que se passa de mais profundo no ser. E vamos combinar, não estamos nos referindo a uma pessoa previsível, equilibrada, conscienciosa, muito pelo contrário. Então, pode ser que de hoje para amanhã ele dê asas a um novo rompante de estupidez e ignorância e faça com que tais palavras se dissolvam.

Nesse momento, o impacto inicial dessa mudança de tom, se resume a um constrangimento sem precedente para o país, porque dimensiona a total falta de compromisso e responsabilidade do mandatário do poder nacional em relação ao cargo que ocupa. Não se trata de um recuo motivado por um eventual equívoco; mas, em virtude, de um comportamento altamente nocivo e beligerante para com o equilíbrio e a preservação do Estado Democrático de Direito. Sem pensar nas consequências, ele cruzou a fronteira da ilegalidade e fomentou o acirramento do sentimento antidemocrático entre seus fiéis apoiadores.

De modo que as intenções estavam claríssimas. Como era de se esperar, então, as repercussões negativas vieram a galope; sobretudo, no campo da Economia. A situação do país que já não era favorável se deparou com mais obstáculos para enfrentar, porque as respostas do mercado quanto aos discursos do 7 de setembro foram totalmente adversas.

Sem contar que essa é uma conjuntura já conhecida da população, por isso, ela antevê e rechaça veementemente porque sabe que será a responsável por arcar com tais prejuízos. Inflação elevada. Juros exorbitantes. Disparada dos preços. Enfim... O prenúncio de caos havia sido instalado. Mesmo assim, foram necessários dois dias de intensa especulação e apreensão para um possível desfecho desse imbróglio.

Por força das pressões que cruzam os campos do poder, não houve outro caminho senão retroceder. Na minha opinião, a surpresa não foi necessariamente o fato em si; mas, a personagem que surgiu para tecer o processo, o Ex-Presidente da República, Michel Temer. Afinal, me pareceu um certo desprestígio aos atuais ministros e demais componentes do staff presidencial, os quais representam o apoio direto ao Presidente para situações dessa envergadura.

No fim das contas, foram mesmo a voz e as palavras do ex-presidente que reconfiguraram os traçados para a manutenção do jogo democrático no país, deixando patenteado, mais uma vez, a falta de habilidade e competência do atual Presidente para o exercício de sua função.

Sei que é comum, em diversos países do mundo, esse papel de conselheiro eventual realizado por ex-presidentes; mas, não me parece que foi este o caso por aqui. Houve uma necessidade imperativa de uma assessoria a fim de se evitar um verdadeiro desastre nacional. Tanto que foi tornada pública a extensão das ações do ex-presidente, incluindo a redação da tal carta dirigida aos brasileiros.  

A priori, pode-se dizer, então, que os ânimos foram contidos; mas, é só. Há quase 3 anos, o país vive aos sobressaltos com a inconveniência belicosa de tais movimentos políticos; de modo que esse 7 de setembro ficou marcado pela ruptura da desconfiança, da perda de credibilidade. Como se todos os dias fossem aguardadas mudanças repentinas no humor do presidente, dada a impossibilidade de suas promessas conseguirem efetivamente cumprir o propósito de conter seus impulsos durante o exercício da sua função. De modo que, na melhor das hipóteses, essa carta pode representar o início de uma transformação e, na pior, a pausa para um novo ataque. Aguardemos.