A
Carta...
Por Alessandra Leles Rocha
Bem, placebo não é remédio;
então, nada de resolutivo foi aplicado aos graves efeitos colaterais
ocasionados em forma e conteúdo pelo Presidente da República, durante as
manifestações por ele convocadas. Afinal, cartas são apenas cartas, papéis
cheios de ideias e palavras, as quais, nem sempre, têm o poder de expressar
fidedignamente o que se passa de mais profundo no ser. E vamos combinar, não
estamos nos referindo a uma pessoa previsível, equilibrada, conscienciosa, muito
pelo contrário. Então, pode ser que de hoje para amanhã ele dê asas a um novo
rompante de estupidez e ignorância e faça com que tais palavras se dissolvam.
Nesse momento, o impacto inicial
dessa mudança de tom, se resume a um constrangimento sem precedente para o
país, porque dimensiona a total falta de compromisso e responsabilidade do
mandatário do poder nacional em relação ao cargo que ocupa. Não se trata de um
recuo motivado por um eventual equívoco; mas, em virtude, de um comportamento
altamente nocivo e beligerante para com o equilíbrio e a preservação do Estado
Democrático de Direito. Sem pensar nas consequências, ele cruzou a fronteira da
ilegalidade e fomentou o acirramento do sentimento antidemocrático entre seus fiéis
apoiadores.
De modo que as intenções estavam
claríssimas. Como era de se esperar, então, as repercussões negativas vieram a
galope; sobretudo, no campo da Economia. A situação do país que já não era
favorável se deparou com mais obstáculos para enfrentar, porque as respostas do
mercado quanto aos discursos do 7 de setembro foram totalmente adversas.
Sem contar que essa é uma
conjuntura já conhecida da população, por isso, ela antevê e rechaça
veementemente porque sabe que será a responsável por arcar com tais prejuízos.
Inflação elevada. Juros exorbitantes. Disparada dos preços. Enfim... O prenúncio
de caos havia sido instalado. Mesmo assim, foram necessários dois dias de
intensa especulação e apreensão para um possível desfecho desse imbróglio.
Por força das pressões que cruzam
os campos do poder, não houve outro caminho senão retroceder. Na minha opinião,
a surpresa não foi necessariamente o fato em si; mas, a personagem que surgiu
para tecer o processo, o Ex-Presidente da República, Michel Temer. Afinal, me pareceu
um certo desprestígio aos atuais ministros e demais componentes do staff presidencial, os quais representam
o apoio direto ao Presidente para situações dessa envergadura.
No fim das contas, foram mesmo a
voz e as palavras do ex-presidente que reconfiguraram os traçados para a
manutenção do jogo democrático no país, deixando patenteado, mais uma vez, a
falta de habilidade e competência do atual Presidente para o exercício de sua
função.
Sei que é comum, em diversos países
do mundo, esse papel de conselheiro eventual realizado por ex-presidentes; mas,
não me parece que foi este o caso por aqui. Houve uma necessidade imperativa de
uma assessoria a fim de se evitar um verdadeiro desastre nacional. Tanto que foi
tornada pública a extensão das ações do ex-presidente, incluindo a redação da
tal carta dirigida aos brasileiros.
A priori, pode-se dizer, então, que os ânimos foram contidos; mas, é só. Há quase 3 anos, o país vive aos sobressaltos com a inconveniência belicosa de tais movimentos políticos; de modo que esse 7 de setembro ficou marcado pela ruptura da desconfiança, da perda de credibilidade. Como se todos os dias fossem aguardadas mudanças repentinas no humor do presidente, dada a impossibilidade de suas promessas conseguirem efetivamente cumprir o propósito de conter seus impulsos durante o exercício da sua função. De modo que, na melhor das hipóteses, essa carta pode representar o início de uma transformação e, na pior, a pausa para um novo ataque. Aguardemos.