sexta-feira, 26 de março de 2021

Viva a Ciência!


Viva a Ciência!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Se recordar é viver, dizia o jornalista, crítico e colunista social brasileiro, Ibrahim Sued, que “Os cães ladram e a caravana passa”. Uma afirmação perfeita para o momento! Não entendeu? Uma parcela significativa do caos e horror que se vive no país é decorrente das labaredas políticas. Sim, uma disputa politiqueira e sem sentido que retirou o foco da realidade para se perder nos devaneios de um 2022 que ainda não existe.

Então, não fossem os esforços do Instituto Butantan 1, um dos mais importantes celeiros de pesquisa biológica no mundo, com 120 anos de existência recém-completados, não teríamos a vacina CoronaVac, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. É ela que tem garantido, até o momento, o maior número de doses aplicadas no país.

Mas, não ficou só nisso. Apesar do evidente desestímulo e obstaculização dos campos científicos no território nacional, com constantes cortes de verbas e ingerências nas esferas acadêmicas, o Instituto Butantan mostrou sua resiliência e obstinação em uma incansável jornada de esforços, por parte de seu corpo de especialistas, para ir além na sua contribuição à segurança sanitária nacional.

De modo que suas frentes de trabalho e pesquisa puderam ao longo dessa semana comemorar os novos feitos. Primeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) autorizou a realização de testes em humanos de um soro anticoronavírus, a partir do plasma de cavalos, que vem sendo desenvolvido há um ano. O objetivo desse imunobiológico é atenuar os sintomas em pacientes graves ou gravíssimos de COVID-19, especialmente, aqueles portadores de algum tipo de comorbidade.

E, hoje, o Instituto Butantan anunciou que vai pedir a ANVISA a autorização para a fase de testes em humanos de uma nova vacina contra a COVID-19, a ButanVac; um produto genuinamente nacional. Trata-se de uma vacina criada a partir da mesma tecnologia da vacina da gripe e que já conta com a variante brasileira do Sars-COV-2, a P1.

A perspectiva do Instituto é que os trâmites burocrático-científicos junto à ANVISA possibilitem que em maio deste ano a nova vacina comece a ser fabricada e que 40 milhões de doses estejam disponíveis para a população, a partir de julho.

Porque vidas humanas não podem ficar à mercê das vaidades, das megalomanias, dos delírios de poder. Aliás, nem elas, nem a Ciência, nem a Educação, nem direito fundamental algum. A esfera política não pode se afastar do seu compromisso basilar com o desenvolvimento do país, para atender a interesses individuais e minoritários. Quando isso acontece... o exemplo está à disposição. Mais de 300 mil mortos. Mais de 12 milhões de casos de COVID-19.

Por sorte, a Ciência tem bom senso e não tem tempo a perder. Ao invés de responder aos desaforos, as afrontas, as “filosofias de botequim”, permaneceu em silêncio, trabalhando ininterruptamente para fornecer certezas ao contrário de suposições infundadas. Talvez, na maior maratona contra o tempo já experimentada por qualquer cientista. Um misto de desafio e busca pela consagração.

Afinal, a pujança do Instituto Butantan se conserva atemporal por meio do tripé “ensino-pesquisa-extensão”. Por isso, onde estejam seus grandes entusiastas, Vital Brazil, Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz, Emílio Ribas, eles estão sendo devidamente reverenciados pela continuidade dos esforços e conquistas que empenharam no passado. Um trabalho que repercutiu, e permanece repercutindo, muito além das fronteiras da cidade de São Paulo; mas, pelo seu Estado, pelo país e pelo mundo.

E que maravilha será, então, se essas duas boas novas de fato se comprovarem eficazes dentro de seus propósitos. Só a vida humana tem a ganhar com esse feito. O que quer dizer milhões delas em cada cantinho de chão desse mundo.

Quanto mais descobertas, quanto mais tentativas de extrair da Ciência algo de bom e útil para a humanidade, melhor. Somente a união dessa dedicação científica poderá atenuar o prolongamento dessa Pandemia.

De modo que não há espaço para discussões que não contemplem a Ciência; ela é o único caminho para a reconstrução nesse momento. A única luz de candeeiro capaz de resgatar esperança onde só parece existir desalento em forma de aridez trevosa. No entanto, não nos esqueçamos de que “a ambição da ciência não é abrir a porta do saber infinito, mas pôr um limite ao erro infinito” (Bertolt Brecht – escritor e dramaturgo alemão).

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