Viva
a Ciência!
Por
Alessandra Leles Rocha
Se recordar é viver, dizia
o jornalista, crítico e colunista social brasileiro, Ibrahim Sued, que “Os cães ladram e a caravana passa”. Uma
afirmação perfeita para o momento! Não entendeu? Uma parcela significativa do
caos e horror que se vive no país é decorrente das labaredas políticas. Sim, uma
disputa politiqueira e sem sentido que retirou o foco da realidade para se
perder nos devaneios de um 2022 que ainda não existe.
Então, não fossem os
esforços do Instituto Butantan 1, um dos
mais importantes celeiros de pesquisa biológica no mundo, com 120 anos de existência
recém-completados, não teríamos a vacina CoronaVac, em parceria com a farmacêutica
chinesa Sinovac. É ela que tem garantido, até o momento, o maior número de
doses aplicadas no país.
Mas, não ficou só
nisso. Apesar do evidente desestímulo e obstaculização dos campos científicos
no território nacional, com constantes cortes de verbas e ingerências nas
esferas acadêmicas, o Instituto Butantan mostrou sua resiliência e obstinação
em uma incansável jornada de esforços, por parte de seu corpo de especialistas,
para ir além na sua contribuição à segurança sanitária nacional.
De modo que suas
frentes de trabalho e pesquisa puderam ao longo dessa semana comemorar os novos
feitos. Primeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) autorizou
a realização de testes em humanos de um soro anticoronavírus, a partir do
plasma de cavalos, que vem sendo desenvolvido há um ano. O objetivo desse imunobiológico
é atenuar os sintomas em pacientes graves ou gravíssimos de COVID-19,
especialmente, aqueles portadores de algum tipo de comorbidade.
E, hoje, o Instituto Butantan
anunciou que vai pedir a ANVISA a autorização para a fase de testes em humanos
de uma nova vacina contra a COVID-19, a ButanVac; um produto genuinamente nacional.
Trata-se de uma vacina criada a partir da mesma tecnologia da vacina da gripe e
que já conta com a variante brasileira do Sars-COV-2, a P1.
A perspectiva do
Instituto é que os trâmites burocrático-científicos junto à ANVISA possibilitem
que em maio deste ano a nova vacina comece a ser fabricada e que 40 milhões de
doses estejam disponíveis para a população, a partir de julho.
Porque vidas humanas
não podem ficar à mercê das vaidades, das megalomanias, dos delírios de poder. Aliás,
nem elas, nem a Ciência, nem a Educação, nem direito fundamental algum. A esfera
política não pode se afastar do seu compromisso basilar com o desenvolvimento
do país, para atender a interesses individuais e minoritários. Quando isso
acontece... o exemplo está à disposição. Mais de 300 mil mortos. Mais de 12 milhões
de casos de COVID-19.
Por sorte, a Ciência
tem bom senso e não tem tempo a perder. Ao invés de responder aos desaforos, as
afrontas, as “filosofias de botequim”,
permaneceu em silêncio, trabalhando ininterruptamente para fornecer certezas ao
contrário de suposições infundadas. Talvez, na maior maratona contra o tempo já
experimentada por qualquer cientista. Um misto de desafio e busca pela
consagração.
Afinal, a pujança do Instituto
Butantan se conserva atemporal por meio do tripé “ensino-pesquisa-extensão”. Por
isso, onde estejam seus grandes entusiastas, Vital Brazil, Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz, Emílio Ribas, eles estão
sendo devidamente reverenciados pela continuidade dos esforços e conquistas que
empenharam no passado. Um trabalho que repercutiu, e permanece repercutindo,
muito além das fronteiras da cidade de São Paulo; mas, pelo seu Estado, pelo
país e pelo mundo.
E que maravilha será,
então, se essas duas boas novas de fato se comprovarem eficazes dentro de seus propósitos.
Só a vida humana tem a ganhar com esse feito. O que quer dizer milhões delas em
cada cantinho de chão desse mundo.
Quanto mais descobertas,
quanto mais tentativas de extrair da Ciência algo de bom e útil para a
humanidade, melhor. Somente a união dessa dedicação científica poderá atenuar o
prolongamento dessa Pandemia.
De modo que não há
espaço para discussões que não contemplem a Ciência; ela é o único caminho para
a reconstrução nesse momento. A única luz de candeeiro capaz de resgatar
esperança onde só parece existir desalento em forma de aridez trevosa. No
entanto, não nos esqueçamos de que “a
ambição da ciência não é abrir a porta do saber infinito, mas pôr um limite ao
erro infinito” (Bertolt Brecht – escritor e dramaturgo alemão).