OK?!
Por
Alessandra Leles Rocha
A beleza da comunicação
é que ela não se limita as palavras oralizadas ou escritas. Símbolos. Signos. Gestos.
Também dão conta desse movimento de ideias e pensamentos entre os seres
humanos. No entanto, independentemente da forma, nada é expresso ou manifesto
sem intenção. Não existe acaso. As flechas lançadas têm sempre destino certo.
E isso não é coisa do
agora. Nossos ancestrais mais primitivos já faziam das pinturas rupestres um
importante aceno à complexidade comunicativa. E mesmo, em tempos high
tech, os já consagrados mecanismos de comunicação continuam se disseminando
pelas relações sociais mundo afora. Especialmente, quando querem garantir uma
certa privacidade grupal, onde só membros daquele coletivo específico conseguem
decodificar a mensagem.
Quem assistiu ao
filme “O Código Da Vinci” (2006) 1, deve se lembrar do início do filme,
quando o professor Robert Langdon, interpretado por Tom Hanks, faz uma
conferência a respeito de diversos símbolos presentes na história da
humanidade. Seja na ficção ou na realidade, a verdade é que somos recortados
por manifestações de linguagem, as quais no fundo não deixam de ser uma
expressão muito forte da nossa própria identidade.
Incide aí, portanto, o
grande desafio da comunicação humana. Porque mesmo que nenhuma palavra seja
proferida ou registrada formalmente, a comunicação não verbal não perde a sua eloquência,
a sua contundência. Embora saibamos, por exemplo, que hospitais são espaços de
silêncio e tranquilidade para os convalescentes, em seus corredores há sempre a
imagem da enfermeira com o dedo indicador sobre os lábios; mas, sem nenhuma
marca verbal.
De fato, ao longo da
vida adquirimos um rol de expressões comunicativas muito maior do que possamos
imaginar. Desde estratégias de jogos até códigos de sociedades secretas, o ser
humano vai construindo a sua compreensão do mundo muito além daquilo que está
escrito ou formulado em algum lugar. E esse entendimento vai lhe mostrando os “campos minados”, ou não, da convivência
humana.
Afinal, a comunicação
tanto pode unir quanto segregar. Depende de onde e quando se pretende estabelecê-la.
Isso porque o mundo já foi desgastado demais pelos acontecimentos trágicos e
desumanos da história, de modo que não há muito espaço para uma coexistência pacífica
em relação a persistência de determinados discursos e narrativas.
Aliás, de certo modo,
a ruptura com antigos e equivocados paradigmas vem sendo uma importante meta de
transformação no século XXI, a fim de se reparar dívidas e comportamentos
sociais definitivamente antiproducentes e desprezíveis. Isso porque esses “ruídos” de comunicação sempre foram um obstáculo
importante ao desenvolvimento de um diálogo saudável e bem-sucedido entre
pessoas e nações.
De modo que a
liberdade de expressão, uma premissa fundamental das sociedades democráticas, seja
garantida; desde que não se extravie pelo caminho dos abusos, excessos,
desrespeitos, intolerância e violências. Daí a necessidade de não se compactuar
com qualquer comunicação que esteja desalinhada aos valores e princípios humanos.
Inclusive porque, quando
se estabelece no rol da verborragia, a comunicação perde o que tem de melhor e
se torna argumentativamente rasa e ignorante; bem como, repetitiva em tolices e
inverdades. O que é sabidamente o retrato das chamadas Fake News. Elas são a
tradução da comunicação de baixa qualidade e sentido, que existe para atender
as correntes de caos e loucura que transitam no mundo, tentando moldá-lo à sua
maneira.
Mas, apesar de todos
os pesares que rondam por aí, comunicação ainda é coisa séria. Não importa a
linguagem que se use para estabelecê-la. Porque ela continua podendo destruir relações.
Abalar diplomacias. Criar ódios e resistências. Destruir reputações. ... Para o
bem ou para o mal, ela permanece o eixo de sustentação das relações humanas.
Por isso, suas linguagens
e ações precisam estar milimetricamente ajustadas para não comprometer a sua
credibilidade, a sua verdade; afinal, “...
Numa época de superpopulação crescente, de crescente superorganização e de
meios de comunicação cada vez mais eficientes com as massas, como podemos
manter intactos a integridade e reafirmar o valor do ser humano individual? ”
(Aldous Huxley – Regresso ao Admirável Mundo Novo, 1959). Ok?!