quinta-feira, 25 de março de 2021

OK?!


OK?!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

A beleza da comunicação é que ela não se limita as palavras oralizadas ou escritas. Símbolos. Signos. Gestos. Também dão conta desse movimento de ideias e pensamentos entre os seres humanos. No entanto, independentemente da forma, nada é expresso ou manifesto sem intenção. Não existe acaso. As flechas lançadas têm sempre destino certo.  

E isso não é coisa do agora. Nossos ancestrais mais primitivos já faziam das pinturas rupestres um importante aceno à complexidade comunicativa. E mesmo, em tempos high tech, os já consagrados mecanismos de comunicação continuam se disseminando pelas relações sociais mundo afora. Especialmente, quando querem garantir uma certa privacidade grupal, onde só membros daquele coletivo específico conseguem decodificar a mensagem.

Quem assistiu ao filme “O Código Da Vinci” (2006) 1, deve se lembrar do início do filme, quando o professor Robert Langdon, interpretado por Tom Hanks, faz uma conferência a respeito de diversos símbolos presentes na história da humanidade. Seja na ficção ou na realidade, a verdade é que somos recortados por manifestações de linguagem, as quais no fundo não deixam de ser uma expressão muito forte da nossa própria identidade.

Incide aí, portanto, o grande desafio da comunicação humana. Porque mesmo que nenhuma palavra seja proferida ou registrada formalmente, a comunicação não verbal não perde a sua eloquência, a sua contundência. Embora saibamos, por exemplo, que hospitais são espaços de silêncio e tranquilidade para os convalescentes, em seus corredores há sempre a imagem da enfermeira com o dedo indicador sobre os lábios; mas, sem nenhuma marca verbal.  

De fato, ao longo da vida adquirimos um rol de expressões comunicativas muito maior do que possamos imaginar. Desde estratégias de jogos até códigos de sociedades secretas, o ser humano vai construindo a sua compreensão do mundo muito além daquilo que está escrito ou formulado em algum lugar. E esse entendimento vai lhe mostrando os “campos minados”, ou não, da convivência humana.

Afinal, a comunicação tanto pode unir quanto segregar. Depende de onde e quando se pretende estabelecê-la. Isso porque o mundo já foi desgastado demais pelos acontecimentos trágicos e desumanos da história, de modo que não há muito espaço para uma coexistência pacífica em relação a persistência de determinados discursos e narrativas.

Aliás, de certo modo, a ruptura com antigos e equivocados paradigmas vem sendo uma importante meta de transformação no século XXI, a fim de se reparar dívidas e comportamentos sociais definitivamente antiproducentes e desprezíveis. Isso porque esses “ruídos” de comunicação sempre foram um obstáculo importante ao desenvolvimento de um diálogo saudável e bem-sucedido entre pessoas e nações.

De modo que a liberdade de expressão, uma premissa fundamental das sociedades democráticas, seja garantida; desde que não se extravie pelo caminho dos abusos, excessos, desrespeitos, intolerância e violências. Daí a necessidade de não se compactuar com qualquer comunicação que esteja desalinhada aos valores e princípios humanos.

Inclusive porque, quando se estabelece no rol da verborragia, a comunicação perde o que tem de melhor e se torna argumentativamente rasa e ignorante; bem como, repetitiva em tolices e inverdades. O que é sabidamente o retrato das chamadas Fake News. Elas são a tradução da comunicação de baixa qualidade e sentido, que existe para atender as correntes de caos e loucura que transitam no mundo, tentando moldá-lo à sua maneira.

Mas, apesar de todos os pesares que rondam por aí, comunicação ainda é coisa séria. Não importa a linguagem que se use para estabelecê-la. Porque ela continua podendo destruir relações. Abalar diplomacias. Criar ódios e resistências. Destruir reputações. ... Para o bem ou para o mal, ela permanece o eixo de sustentação das relações humanas.

Por isso, suas linguagens e ações precisam estar milimetricamente ajustadas para não comprometer a sua credibilidade, a sua verdade; afinal, “... Numa época de superpopulação crescente, de crescente superorganização e de meios de comunicação cada vez mais eficientes com as massas, como podemos manter intactos a integridade e reafirmar o valor do ser humano individual? ” (Aldous Huxley – Regresso ao Admirável Mundo Novo, 1959). Ok?!