Pairando
no ar...
Por
Alessandra Leles Rocha
Nem é preciso dizer o quanto as Fake News têm causado mal à sociedade contemporânea,
prestando um imenso desserviço na construção de opiniões equivocadas e
tendenciosas; além de inúmeras teorias conspiratórias. Entretanto, elas também
já demonstraram toda a sua permeabilidade e capilaridade para se disseminarem e
transporem a fronteira das ideias para as ações.
E esse é o ponto que merece toda
a atenção, porque elas podem sim, desencadear uma onda de violência e
perturbação bastante significativa. Ora, tomando como base a conjuntura atual pandêmica,
isso não seria nada bom.
Diante de uma situação caótica já
instalada e de todos os outros problemas satélites que orbitam sua esfera,
ninguém precisa de uma “cereja do bolo”
às avessas, nesse momento. Daí a necessidade de observação do que se espelha
pelos campos virtuais.
Há muitas mensagens implícitas;
mas, há muitas totalmente explícitas e de caráter profundamente belicoso. Fáceis
de inflamar e induzir pessoas a ultrapassar o bom senso e o equilíbrio real, a
partir de eventuais divergências de pensamento e pontos de vista.
O que muitas pessoas ainda não
entenderam é que não há benefício na desagregação para a sociedade. Ainda que
em uma proporção muito maior, a Guerra Fria pode ser um bom exemplo do
significado prático da fragmentação social pela ideologização.
Socialistas e capitalistas
venderam para o mundo uma propaganda maciça do que os tornava melhores um em
relação ao outro. Mas... apesar de seus esforços, a Terra não se transformou em
um lugar melhor para viver. Centenas de milhares de pessoas permaneceram em
condições precárias de dignidade e sobrevivência. Conflitos armados e doenças
dizimaram outras tantas. O poder econômico permaneceu um sonho de consumo
distante da realidade de muita gente. Na prática o discurso se fez bem diferente.
São muitas as razões que levam o
ser humano a se deixar manipular; sobretudo, quando são envolvidos por algo que
satisfaça o seu interesse. Porque as pessoas não gostam de ser contrariadas. Esse
é, portanto, o sinal verde para elas se tomarem de entusiasmo e euforia e saírem
por aí, defendendo ideias, princípios e valores, sem a menor reflexão ou
entendimento sobre onde tudo isso pode chegar.
Engana-se completamente quem
atribui o extremismo, o radicalismo a grupos específicos. Indivíduos dispostos
a matar ou morrer em nome de um ideal, de uma crença, de um sentimento
nacionalista, podem surgir em qualquer lugar. Especialmente, entre aqueles que
se sentem à margem da sociedade, inferiorizados, estigmatizados, desprovidos de
visibilidade e senso cidadão.
Assim, basta que sejam
persuadidos e envolvidos de maneira precisa por gente com habilidade suficiente
para tal. As promessas de honra e glória, de consagração, de superioridade, são
demasiadamente atraentes e inebriantes; por isso, tão perigosas.
A história já viu os Kamikazes,
durante a 2ª Guerra Mundial. Os radicais islâmicos em suas investidas contemporâneas.
Os lobos solitários que atiram contra locais com alguma aglomeração social, nos
EUA. Supremacistas brancos investindo com toda a fúria da violência contra
migrantes em países nórdicos ... são muitos os exemplos. Cada um movido por
razões introjetadas a partir de discursos e narrativas de ódio, de segregação,
de polarização.
Isso significa que não se pode trivializar
ou banalizar quaisquer movimentos nesse sentido. Não se pode esperar por uma
ação mais contundente e letal para tomar alguma providência.
A vida humana já padece o infortúnio
de viver sob a ameaça de inúmeros acontecimentos que fogem totalmente ao controle
da previsibilidade; mas, algo nesse sentido pode e deve ser evitado. É fundamental
garantir a segurança e a coexistência pacífica na sociedade. Sobretudo, em
tempos tão adversos como agora, em que a dinâmica da vida foi posta em xeque à
revelia das próprias possibilidades de contestação humana.
O mundo está fragilizado de uma
maneira singular. A intensidade do cotidiano e das relações humanas foi freada
abruptamente. Novos e antigos problemas estão flutuando ao nosso redor,
dificultando a concentração e o foco na tomada de decisões.
De modo que a sociedade não
precisa de mais turbulência, de mais violência, de mais elementos dispersivos
para ter que lidar. Por isso, nos lembremos sempre de que “é muito fácil enfraquecer
e destruir. Os heróis são os que pacificam e constroem” (Nelson Mandela – ex-presidente
da África do Sul). Portanto, só há um lado para se posicionar; o lado da vida
seja ela de quem for.