Bom
senso é o que clama o Censo
Por
Alessandra Leles Rocha
Em um país onde a consciência cidadã
ainda permanece incipiente, as opiniões acerca do Censo Demográfico tendem a
estar comumente distantes das grandes preocupações nacionais. Mas, não deveria.
Essa ferramenta estatística é fundamental para saber onde e como está o país e
para qual direção ele pretende seguir. É, caro (a) leitor (a), políticas
públicas dizem respeito a todos. Pobres. Ricos. Letrados. Não letrados. Enfim...
O último realizado no Brasil foi
em 2010. Geralmente cada censo apresenta o panorama de uma década, por trazer
um recorte temporal interessante às transformações sociais, as quais costumam
demandar esse limite razoável para acontecer. De modo que o próximo Censo
deveria ter ocorrido em 2020; mas, em razão da Pandemia, foi adiado para 2021.
Tomados pela hipotética ideia de
que o Sars-COV-2 já teria ido embora e o país estaria respirando a plenos pulmões,
eis que a realidade foi bem outra. Agora, o Censo está ameaçado de não acontecer,
dadas as restrições orçamentárias severas que lhe foram impostas. E aí, como é
que fica?
Uma enorme lacuna no perfil sócio-histórico
do país. Situação que não só retira a fundamentação para a proposição de
políticas de interesse nacional, como contribui para omitir as realidades
inconvenientes que emergiram no período, como é o caso daquelas relacionadas à Saúde
Pública. Não nos esqueçamos de que, nos últimos dias, se aventaram questionamentos
sobre a fidedignidade estatística dos óbitos pela COVID-19. É por essas e por
outras, que o Censo Demográfico precisa acontecer, para dirimir eventuais dúvidas,
equívocos e contradições.
Seus dados são um documento público
oficial, um registro de consulta para qualquer cidadão, pesquisador ou não, que
queira se inteirar de informações tanto macro quanto micro do país. Sim, porque
o Censo não traz só os dados gerais da União; mas, dos Estados, Municípios e Distrito
Federal. São coletadas informações a respeito, por exemplo, das características
dos domicílios, identificação étnico-racial, nupcialidade, núcleo familiar,
fecundidade, religião ou culto, deficiência, migração interna ou internacional,
educação, deslocamento para trabalho, mortalidade. Portanto, é uma forma
particular de dissecar o país, a partir da exatidão numérica.
Tendo em vista a ruptura socioeconômica
promovida pela Pandemia, mais do que nunca os dados do Censo tornam-se vitais
para o planejamento estratégico das ações em curto, médio e longo prazo. São eles
que irão delinear as perspectivas que melhor se adequam a realidade,
abandonando os casuísmos e achismos que, frequentemente, expõem a riscos e prejuízos
de grande repercussão social.
O Censo Demográfico é como um
mapa a guiar a sociedade. Seus números dão voz as demandas e criam escalas de
prioridades a serem supridas. É através do seu questionário que o Censo
oportuniza a visibilidade aos cidadãos. Porque, embora se trate de uma
amostragem estatística da população, ou seja, um percentual do contingente
atual, dada a sua aleatoriedade é possível garantir a diversidade e a representatividade
nas informações.
Como escreveu Émile Durkheim,
sociólogo francês, “a construção do ser
social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma
série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de
comportamento – que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do
que formador da sociedade, é um produto dela”. Portanto, o Censo
Demográfico é, independentemente de qualquer discussão, uma ferramenta imprescindível
para esse processo.
Sendo assim, não se pode criar
pretextos para desconsiderar sua realização e, nem tampouco, o resultado dos
dados obtidos. Porque isso seria permitir à sociedade vagar às cegas, sob uma
perspectiva limitada de interesses nada plurais, prejudicando o bem-estar e a sobrevivência
da totalidade dos cidadãos; sobretudo, dos mais vulneráveis. Em suma, seria
apenas mais um modo estranho de se lançar a história nacional ao insondável
abismo do obscurantismo social.