É
inútil resistir...
Por
Alessandra Leles Rocha
Um mundo em conflito. Cabos de
guerra sendo exercidos por todos os lados. Nem se trata de uma discussão sobre o
certo ou o errado, mas de quem é mais forte e capaz de gritar mais alto, de
demonstrar mais poder. A baixa fundamentação e qualidade argumentativa está
explícita. E o cansaço que paira sobre nossas cabeças é fruto do medo que
assombra alguns membros da sociedade contemporânea diante das mudanças. Só que
elas, caro (a) leitor (a), são inevitáveis!
Assim como não controlamos o
correr do tempo, os movimentos da Terra, o fluxo das marés, ... também, não
somos páreos diante das mudanças, das metamorfoses da vida. Veja, por exemplo,
que um dia apareceram Os Beatles, os
quatro rapazes de Liverpool, e o mundo nunca mais foi o mesmo! Com sua rebeldia
“bem-comportada” eles não apenas revolucionaram a música, mas o comportamento e
o pensamento de uma juventude; de tal forma, que as marcas desse processo
repercutem até hoje. E esse é só um entre tantos casos para citar.
Beira o ridículo, então, esse
esforço descomunal e desnecessário em polir os hábitos mais retrógrados, como
fizeram nossas avós nos tempos das pratarias. Porque antes que pisquem seus
olhos as borboletas já romperam seus casulos e voaram pela imensidão azul. O
fio da vida é dinâmico e altamente conectado. Entre vieses de linhas e
entrelinhas as mudanças vão sendo tecidas, muitas vezes, sem que se perceba o
ponto exato do gatilho fatal.
Talvez seja por isso, que muitos
alertem para o cuidado com as letrinhas miúdas nos rodapés dos contratos.
Estamos sempre tão atentos aos gigantismos da vida que deixamos passar
despercebidas as diminutas peças que irão fazer toda a diferença no resultado
final. No entanto, mesmo se quiséssemos exercer um controle minucioso sobre
esse processo seria impossível. São tantos recortes. Tantos caminhos. Tanta
gente envolvida. Inevitavelmente, seríamos obrigados a desistir e deixar fluir
como tem que ser.
Já experimentou segurar areia nas
mãos? Os grãos escorrem entre os dedos. Como a vida. Aqui e ali alguém vai
chegar munido de uma novidade que vai fazer alguma coisa sair do controle,
transformar o curso da história, revolucionar. Salve, salve, Albert Einstein!
Marie Curie! Charles Darwin! Stephen Hawking! Isaac Newton! Daniel Gabriel
Fahrenheit! Galileu Galilei! Louis Pasteur! Gregor Mendel! Nise da Silveira!
Juliano Moreira! Chiquinha Gonzaga! ... Ah! São tantos, entre famosos e
anônimos, para agradecer e reverenciar.
E assim o mundo vai sendo
diferente todo dia. Único. Singular. O importante, como bem escreveu Victor
Hugo, é ser capaz de mudar as próprias opiniões, mantendo os princípios.
Trocando as folhas; mas, mantendo as raízes 1.
Esse é o verdadeiro processo evolutivo, no que tange ao que tem de mais
importante e fundamental que é a adaptação.
Em tempos tão sisudos como os que
vivemos agora, deveríamos lançar um olhar mais atento para as dinâmicas que
regem a nossa sobrevivência desde sempre. Enquanto o COVID-19 não tem o menor
medo ou pudor de ir se adaptando rapidamente para garantir sua permanência no
mundo; nós, os pobres mortais, nos apegamos em atos inconsequentes e absurdos
de resistência quase tirânica, que nem se importa com o preço da morte. Observe
a que ponto chegamos!
Pode se dizer, então, que estamos
diante do ápice da perda dos sentidos. Enquanto a raça humana faz uma revolução
equivocada de seus valores e princípios, alterando por completo a escala de
demandas e prioridades, a fim de mantê-los estagnados no tempo e no espaço sob
uma melancólica rede de reminiscências, ela não percebeu que as grandes
transformações já estão em curso e à revelia de sua própria consciência ou
vontade. Isso só faz confirmar a ideia de que “os conservadores são pessimistas quanto ao futuro e otimistas quanto
ao passado” (Lewis Mumford – historiador norte-americano). Isso vale uma
boa reflexão a respeito; concorda?!
1 “Mude suas
opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes”.
(Victor Hugo). Massin, J. Oeuvres completes: Volume 7, Victor Hugo, le Club
français du livre, 1850.