segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Sem rumo...


Sem rumo...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

 

Não há como dissociar trajeto e objetivo final; pois, se você não sabe o resultado que quer alcançar, também, não saberá que caminhos trilhar para consegui-lo. Olhando com atenção para esse momento conjuntural brasileiro isso me parece cada vez mais evidente. De modo que a espiral de problemas gira em uma velocidade assustadora diante de nossos olhos sem dar sinais de algum motivo de esperança por dias melhores.

Segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegamos a 2021 com um percentual de aproximadamente 14 milhões de desempregados no país. O que representa um entrave e tanto para o movimento de recuperação e de alavanca para melhoria dos índices econômicos.

No entanto, o panorama se agrava significativamente pelo fato de que o auxílio emergencial, pago durante os meses de abril a dezembro de 2020 por conta da situação de calamidade pandêmica, foi finalizado. Como não se chegou a uma nova proposta para atender, ao menos, os mais necessitados dentro do contingente inicial, manteve-se apenas o pagamento para os Programas Assistenciais já vigentes, como é o caso do Bolsa Família.

Isso significa que a cada intempérie que surge no horizonte e afeta o campo econômico, a crise social se aprofunda e ressalta as fronteiras da desigualdade que impactam com severidade o desenvolvimento e o progresso nacionais. Há uma evidente carência de planejamento para romper com o ciclo somativo de inação brasileira; haja vista, por exemplo, o fato de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,2% entre 2011 a 2020.

O país parece acostumado a viver de perdas e não apresenta planejamento algum que contrarie esse fenômeno. As notícias do dia, por exemplo, trazem uma proposta de demissão voluntária de cerca de 5000 funcionários do Banco do Brasil, com base no fechamento de 361 unidades, o que inclui 112 agências; e, a notícia de que a Ford encerrará a produção de veículos em suas fábricas fixadas em nosso território. Portanto, mais desemprego a vista.

É como se toda a construção de autossuficiência produtiva que se veio galgando, a duras penas, décadas a fio, encolhesse até o patamar de sermos apenas importadores de manufaturados. No fundo, o Brasil se satisfaz com a condição colonialista de produtor/exportador de matérias-primas e produtos agrícolas.

Entretanto, isso não é o suficiente para atender as demandas de uma população de mais de 212 milhões de habitantes, cuja grande maioria habita os centros urbanos e não tem nenhuma relação com esses setores produtivos. A vida dessas pessoas se concentra nas expectativas oriundas do universo urbanizado do país. Escolas. Universidades. Tecnologia. ... Enfim.

Por isso a situação é tão grave. Tamanha indefinição socioeconômica só faz alimentar um caos de proporções inimaginadas que pode, inclusive, colocar o país em posição de atraso em décadas se comparado a outras de mesmo porte. Sem planejamento, sem método, capazes de mitigar a situação atual, o Brasil desconstrói a sua vitrine de competitividade internacional e se lança na posição de simples comprador de bens, produtos, tecnologias e serviços; enquanto, simultaneamente, elimina quaisquer possibilidades de igualdade e equidade na sua pirâmide social.

Todas essas questões me fazem, então, pensar que José Saramago tinha mesmo razão, quando manifestou que “O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas covardias do cotidiano, tudo isso contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses”. Veja que nem essa Pandemia foi capaz de produzir um efeito transformador para essa prática socioeconômica devastadora; pois, “ sente-se uma insatisfação, sobretudo dos jovens, perante um mundo que já não oferece nada, só vende! ” (José Saramago).

Desse modo, a continuar a vagar assim, nos cabe aguardar para descobrir se algum propósito nesse sentido será realmente alcançado. Porque a verdade é que “sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse. Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos; mas, então, deixará de ser humanidade”.  (José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira).


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