sábado, 28 de outubro de 2017

Relatório do Banco Mundial mostra disparidades entre estudantes ricos e pobres globalmente

As sensações de fracasso e impotência, entre outras, acompanham milhões de estudantes de países em desenvolvimento que não sabem ler, escrever ou fazer uma operação de aritmética, mesmo após vários anos de escolarização. Além de nascerem em desvantagem devido à pobreza, ao gênero ou a uma deficiência, eles chegam à idade adulta sem as aptidões mais básicas para a vida.
Alguns dados do mais recente Relatório de Desenvolvimento Global (WDR 2018, na sigla em inglês), do Banco Mundial, revelam as disparidades que existem entre os estudantes ricos e pobres de um mesmo país e entre esses mesmos alunos e os de uma economia desenvolvida. 

Em algum momento você fez um curso e sentiu que não aprendeu? Se a resposta for “sim”, imagine multiplicar essa sensação por muitos anos. Pense também que, daquele conhecimento nunca aprendido, dependem as suas chances de melhorar de vida. Como você se sente?
As sensações de fracasso e impotência, entre outras, acompanham milhões de estudantes de países em desenvolvimento que não sabem ler, escrever ou fazer uma operação de aritmética, mesmo após vários anos de escolarização. Além de nascerem em desvantagem devido à pobreza, ao gênero ou a uma deficiência, eles chegam à idade adulta sem as aptidões mais básicas para a vida.
Alguns dados do mais recente Relatório de Desenvolvimento Global (WDR 2018, na sigla em inglês), do Banco Mundial, revelam as disparidades que existem entre os estudantes ricos e pobres de um mesmo país e entre esses mesmos alunos e os de uma economia desenvolvida.
O documento concluiu que existe uma crise global de aprendizagem. Estudar sem aprender é uma grande injustiça, pois prejudica sobretudo os estudantes que precisam de uma boa educação para ter sucesso na vida, afirma o organismo internacional.
A Base de Dados Mundial sobre Qualidade da Educação, atualizada recentemente, sugere que nos países de renda média e baixa, mais de 60% das crianças avaliadas não conseguiram alcançar habilidades mínimas em matemática e leitura. Já nos ricos, quase todas as crianças ultrapassaram esse nível.
As estatísticas não levam em conta 260 milhões de crianças que, por motivo de conflito, discriminação, deficiência e outros obstáculos não estão matriculadas no ensino fundamental ou médio.
Segundo o documento, a crise global de aprendizagem não apenas impede esses jovens de terem salários maiores — de 9% a 11%, no caso da América Latina e Caribe (veja o gráfico) —, mas também aprofunda as diferenças entre ricos e pobres.
Nota: dados mais recentes disponíveis, 1992-2012. As regiões não incluem países de alta renda. Fonte: Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2018, com dados de Montenegro e Patrinos, 2017.
É possível reverter essa tendência? Segundo o WDR 2018, sim, mas é preciso um trabalho extenso para melhorar todos os fatores ligados à aprendizagem.
O estudo, que se baseia nos dados obtidos em consultas com governos, institutos de pesquisa e desenvolvimento, organizações da sociedade civil e setor privado em 20 países, traça alguns desafios e recomendações para a América Latina e Caribe, bem como para todo o mundo em desenvolvimento.

Avaliar a aprendizagem

Quando se trata da educação primária, a América Latina é a região em desenvolvimento que mais mede os resultados da aprendizagem. No entanto, a avaliação dos primeiros anos do ensino médio — uma importante fase, que prepara o jovem para níveis mais avançados de instrução — não recebe a mesma atenção.
Nota: as médias regionais excluem países de alta renda.
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Mundial 2018, utilizando o Banco de Dados Global sobre Qualidade Educacional de Altinok, Angrist e Patrinos, 2017.
Para enfrentar a crise de aprendizagem em todo o mundo, a primeira recomendação do WDR 2018 é ter mais e melhores sistemas para medi-la e definir prioridades. Segundo os autores, não basta se ater aos indicadores de aprendizagem: é importante “identificar os fatores decisivos que a impulsionam, como a preparação do aluno, as competências dos professores, a qualidade do gerenciamento escolar, o nível e a equidade do financiamento (para a educação)”. E por que não existem mais e melhores maneiras de avaliar a aprendizagem? Por obstáculos de caráter técnico e político, defende o estudo.

Construir políticas baseadas em evidências

Pesquisas realizadas em todo o mundo levantaram uma série de medidas que de fato contribuem para a aprendizagem. Uma delas é garantir o pleno desenvolvimento das crianças por meio da nutrição, da estimulação e dos cuidados na primeira infância, como o Chile vem fazendo.
Ao longo de toda a vida escolar, também funcionam as medidas que reduzem o custo da escolarização e usem ferramentas complementares — como a merenda e as transferências de renda para as famílias que têm filhos estudantes — de modo a aumentar a motivação e o esforço.
Outra atividade que costuma trazer bons resultados é, para compensar o fato de muitos jovens completarem o ensino básico sem as habilidades necessárias, oferecer-lhes aulas de apoio e recuperação antes de eles continuarem a avançar nas séries.

Tornar a educação uma causa coletiva

O relatório enfatiza que melhorar a aprendizagem rapidamente é viável quando isso se torna prioridade, e cita o Chile e o Peru como exemplos de países assumiram compromissos sérios e recentes nesse sentido.
“O aprendizado melhorou ao longo do tempo, nem sempre uniformemente, mas o suficiente para mostrar que as reformas do sistema podem valer a pena”, dizem os autores.
Para mobilizar a população, criar um senso de responsabilidade coletiva e impulsionar a vontade política, é preciso mais uma vez ter informações e avaliações de qualidade sobre o ensino local, segundo o WDR. Finalmente, o estudo incentiva envolver os cidadãos em todas as etapas da melhoria dos sistemas de ensino, do desenho à implementação de políticas.