Vulnerável…
Por Alessandra Leles Rocha
Um incêndio de grandes
proporções. Mortos. Feridos. Pessoas de diferentes idades, etnias, gêneros,
tomadas pela perplexidade do inesperado 1.
É em momento como esse que a raça humana deveria se por a pensar sobre a
vulnerabilidade que nos reveste o corpo.
Sabe, não é a
tecnologia que corre a velocidade da luz. Antes dela, a vida sempre fez isso.
Ao contrário da nossa arrogância pensante, não temos controle sobre
absolutamente nada. Somos escravos subservientes dos relógios. O que acontecerá
daqui a um segundo? Nem eu, nem você podemos responder.
Isso é ser vulnerável.
Não há como nos precaver ou nos proteger de toda e quaisquer intempéries. A
vida é um mutante sem freios. Morremos de fome. De sede. Por vírus. Por
bactérias. Por protozoários. Por fungos. Por plantas. Por remédios. Por
venenos. ...Por tudo o que vemos e o que não vemos. Basta um descuido aqui ou
ali, para que a nossa vulnerabilidade se agigante e nos faça microscópicos.
Mas, talvez, seja pela nossa estupidez intelectualizada o caminho mais curto
para esse inevitável fim.
Portanto, sem que haja
nenhum esforço de nossa parte para tornar a vida desafiadora e difícil, ela é
capaz de assim fazê-lo. Então, por que insistimos em colaborar com o caos? É
estranho, mas a humanidade parece se comprazer com o caos. Entres as lágrimas e
o sofrimento ostentados, hasteados como bandeira de autopiedade, não se esconde
uma parcela, ainda que mínima, de responsabilidade por nosso caos. Nem sempre
as responsabilidades são diretas e palpáveis; no entanto, nas omissões e nas
escolhas encontram-se o nosso quinhão.
Esse caos inflamável
que consome a paz mundial intensifica com ares perversos a nossa
vulnerabilidade humana. Nossas ideias, nossas palavras, nossos mínimos gestos
que contrariam o equilíbrio de uma coexistência pacífica e altruísta nos
colocam nas linhas de fronte desnecessariamente. Em nome do poder, em nome do
dinheiro, em nome de... elevamos a índices estratosféricos o nosso ser
vulnerável e somos substituídos por outros, e outros, e outros... Porque esse
processo em série, apontado pelo viés do vulnerável, também nos dá conta do
ridículo. Queremos tudo. Queremos tanto. Queremos. Queremos. Queremos. Até que
em uma fração de segundos somos varridos e abruptamente esquecidos.
Enquanto teimamos em
viver perigosamente, flertando de luz acesa com inimigos imaginários, realçamos
a tolice de acreditar na imortalidade e na invencibilidade, como se de alguma
forma tivéssemos descoberto o segredo para vencer a vulnerabilidade. Mas, o ser
humano de carne e osso não é e nunca será um herói dos quadrinhos. Se ele não é
capaz de proteger a si mesmo, o que dirá, os fracos e oprimidos que ele
encontra pelo caminho, hein?
Pensar na
vulnerabilidade é só um gesto consciente de maturidade sobre o que de fato
somos nesse mundo. Quem se reconhece na medida exata, não ocupa os espaços
alheios, não perturba o sossego do mundo, não usufruiu o que não lhe pertence
(e, muito menos, do que não precisa). Que se reconhece ao dar o melhor de si
naquilo faz, naquilo pensa, sem, no entanto, esperar aplauso, plateia, ou
recompensa. Portanto, a vulnerabilidade nos liberta de amarras nem sempre
visíveis e/ou efetivamente compreensíveis. Pensemos mais sobre isso.