Amor
e Ódio – o que guarda o poder das palavras
Por
Alessandra Leles Rocha
Palavras não são ditas a esmo. Por detrás
de cada uma delas há, inevitavelmente, uma intenção. O importante é que se
possa manifestá-las, pois foi para esse fim que viemos – nós, seres humanos -
dotados da capacidade intelectual e cognitiva. Entre concordâncias e divergências,
as palavras vêm sintetizando a nossa evolução histórica, científica, tecnológica,...
Humanística.
E, sem grandes esforços, esse
processo natural das palavras formalizou caminhos imprescindíveis para o
desenvolvimento das relações sociais, a partir da consolidação dos meios de comunicação
e da profissão jornalística. Aliás, o que seria de nós, sem a mídia a nos
informar sobre o que acontece além das fronteiras de nosso próprio quintal, não
é mesmo? Longe da onipresença e onisciência, que tantos gostariam de ter, nossa
capacidade de saber o que acontece aqui, ali e acolá, no exato instante, é
limitada. Então, cabe a essas pessoas nos satisfazerem a curiosidade.
Ora, mas se entre nós e a notícia há
um ou mais intermediários é óbvio que as palavras virão traduzir o discurso de
quem estava diante do acontecimento. Portanto, esses olhos e percepções são sempre
singulares. Além disso, mesmo os profissionais independentes de imprensa, no
frigir dos ovos, acabam subordinados as linhas editoriais das empresas que
contratam seus trabalhos. Nesse caso, mais um crivo interpretativo que incide
anteriormente aos olhos do cidadão comum.
No entanto, mesmo existindo um
movimento, uma intenção, as palavras e as ideias que representam não perdem o
seu valor informativo. Daquilo que recebemos é dever de cada um o exercício de
uma nova reflexão e interpretação crítica; inclusive, porque esse é o caminho
de construção de nossa própria cidadania.
Mas, ao contrário disso, o ofício
da informação pública tem sido ameaçado, por conta da incapacidade de muitas
pessoas em lidar com a divergência ou a discordância de opiniões. O que durante
muito tempo foi atribuído aos regimes ditatoriais e de extremo radicalismo,
hoje se vê, em plena luz do dia, acontecer em terras ditas democráticas e
tolerantes.
Não é à toa, a preocupação constante
da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a crescente onda de violência que
tem se abatido sobre os jornalistas ao redor do mundo. Contudo, além da violência
tipificada pelas práticas excessivas de agentes subordinados ao poder público, há,
também, uma violência subliminar (não menos radical) que tem se propagado entre
cidadãos comuns que se opõem ao trabalho jornalístico.
Movidas pelas paixões ideológicas manifestas
à flor da pele, esses indivíduos se colocam na posição intransigente de não aceitar
outros discursos que diferem dos seus; como se apregoassem a existência de uma única
verdade a ser dita e aceita pela coletividade. Na fúria da sua contestação,
eles chegam a se esquecer de que “é livre a manifestação de pensamento, sendo
vedado o anonimato” 1, bem como, “é livre a expressão
de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença” 2
e, se deve respeitar o outro, na medida em que, “são invioláveis a intimidade,
a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” 3.
Sabe, o ser humano é mesmo
interessante. Na hora de apontar o dedo em riste para o radicalismo que se
exaspera mundo afora contra os meios de comunicação, ninguém mede esforços;
mas, logo em seguida, comunga de práticas semelhantes no âmbito da própria geografia, sem
o menor pudor. Só que a intolerância é intolerância em qualquer lugar ou situação,
porque não há como ranquear uma ação que fere diretamente o ser humano, seja física,
psicológica ou moralmente.
Além disso, também é parte do
coletivo humano ter sempre alguém na contramão, torcendo pelo “quanto pior
melhor”. Então, essas manifestações extremistas de intolerância servem como combustível
bastante inflamável para desenvolver situações que podem eventualmente não acabar
de maneira pacífica.
Naturalmente, a realidade
brasileira não está favorecendo uma convivência equilibrada, diante de uma
crise social e econômica sem precedentes que tenciona de forma drástica o
cotidiano dos cidadãos. Por isso, qualquer traço potencial de conflito deveria
ser evitado, inclusive como gesto de profunda consciência cidadã. Ser cidadão é
manifestar ideias e não, sair por aí, distribuindo intolerância e violência por
onde passa, porque isso não constrói absolutamente nada.
Aos que andam enceguecidos pelos descaminhos
da anticidadania, destilando ódio e intolerância, “a manifestação do
pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo
ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto na Constituição”
4. Portanto, talvez, seja esse o momento de
se informar um pouco mais, começando pelas próprias leis que regem o seu país.