Jeitinho
Brasileiro: Comportamento habitual ou está mesmo no DNA?
Por Alessandra
Leles Rocha
Jeitinho brasileiro.
Ah, como tantos adoram esse slogan e fazem dele uma forma de vangloriarem suas
“espertezas”, por aí. Não é à toa que chegamos ao fundo do poço mais dramático
de todos os tempos, por conta disso. No entanto, se muitas brasileiras e brasileiros
passaram a se dar conta do que os mal feitos nacionais, em maior ou menor
escala, são capazes de fazer; outros não fazem outra coisa senão remar na
direção contrária e lutar com unhas e dentes pela manutenção dessa famigerada
práxis.
Quando estourou o
escândalo do Mensalão se chegou a pensar que este seria o início da purgação
dos “pecados” nacionais. O chamado Crime do Colarinho Branco, por exemplo,
finalmente perdia o glamour para ganhar as páginas policiais e a atenção da
Suprema Corte. Estaria a sociedade brasileira diante de uma nova lição de
cidadania? Pelo menos, é o que parecia ser.
Mas, que nada! Logo
depois emergiu a Operação Lava Jato em sucessivas operações, inclusive com
participação de gente graúda, já citada no Mensalão. Então, nos demos conta de
que o país não havia aprendido nada. Há três anos, o Brasil vive o constante
palpitar de escândalos a cada nova fase dessa operação de investigação da
corrupção e da lavagem de dinheiro, como se não houvesse um fundo do poço a se
chegar.
Enquanto isso, as
mazelas crônicas do país foram também explicadas, na medida em que não era mais
possível negar os descaminhos do dinheiro público. Lentamente a população
começou a ter a devida dimensão da ineficiência e da irresponsabilidade dos
gestores públicos a fazer o contraponto à eficiência e a responsabilidade deles
para com a corrupção nacional.
Foi, então, que
milhares de brasileiras e brasileiros decidiram apoiar as propostas do
Ministério Público Federal para o aprimoramento da legislação brasileira no
combate à corrupção, através de um abaixo-assinado cujo número expressivo de
assinaturas possibilitou a conversão dessas propostas em Projeto de Lei de
Iniciativa Popular, como foi com o Projeto da Ficha Limpa.
Entretanto, a voz que a
Constituição de 1988 reservou ao cidadão comum, na figura desse tipo de
projeto, na verdade foi calada nos silêncios das madrugadas de Brasília com a
desconfiguração, por completo, das propostas que foram referendadas pelos mais
de 2 milhões de assinaturas. O que se
fez travar uma discussão acalorada que chegou até o Supremo Tribunal Federal
(STF) e que, no fim das contas, apesar da promessa de confirmação das milhões
de assinaturas para dar legalidade ao processo, o Legislativo Federal acabará
aprovando um Projeto, cujo teor não é mais aquele sobre o qual o cidadão se
manifestou.
Como se vê, o tal
jeitinho não deixa de tentar se manter de pé. São muitas as estratégias de
discurso para tal. Inclusive de que a crise é culpa dessas ações anticorrupção (e
não o contrário). É na perpetuação da nossa pouca virtude cidadã que fazem
morada os nossos mais graves problemas sociais, porque, enquanto fazemos vista
grossa e ouvidos de mercador, no rolar do cotidiano, as sutis más intenções se
consolidam e cronificam, sem que haja oposição. Daqui e dali, pequenos e
grandes praticantes do jeitinho tentam capitalizar simpatia entre aqueles que
ainda não têm clara essa compreensão ou preferem, simplesmente, aguardar por
uma sobra de quirela de alguma benesse. Por isso, riem, acham graça das suas aventuras
em nome do “se dar bem”, como se fosse algo realmente inofensivo. Só se
esquecem de que os discursos são mais enfáticos e nocivos pelos exemplos, do
que pelas próprias palavras.
Enquanto ruminamos nossa
indignação raivosa, mantendo um sorriso etéreo e bem educado, quem nos mal
trata continuará a fazê-lo, pois não reconhece nenhum sinal de resistência; tudo
parece tranquilo e favorável. É por isso que precisamos nos cansar de nossas
ilusões, dessa esperança vazia de que o mundo muda sozinho, sem nenhuma dose do
nosso esforço e da nossa responsabilidade. Nossas abstenções de cidadania,
conscientes ou não, têm nos custado caro e, como dizia o filósofo Jean-Paul
Sartre, “O que somos é o que fizemos do que fizeram de nós”, então...