sábado, 15 de outubro de 2016

Horário de Verão...

Velhos hábitos nunca morrem

Por Alessandra Leles Rocha

Velhos hábitos nunca morrem; por isso, o Brasil, mais uma vez, copia o que outros países fazem sem levar em consideração se vale realmente a pena fazê-lo.  Então, amanhã começa mais um horário de verão em pleno país tropical.
Seria curioso se não fosse ridículo. Diminuição dos riscos de queda de energia no horário de pico, redução da queima de combustível fóssil para geração de energia de origem térmica, melhor aproveitamento de a luz solar com dias mais longos para o lazer, maior segurança ao entardecer,... Nenhum desses argumentos é de fato consistente e convincente o bastante para por em prática essa decisão.
Bem, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou em fevereiro deste ano, a economia gerada pelo Horário de Verão em 2015 foi de R$ 162 milhões, o que representou uma redução na demanda de energia de 0,5% da carga nas regiões onde o novo horário estava vigente.  Pois é, ele só não conseguiu explicar porque a meta inicial de economia de R$ 240 milhões não havia sido atingida. ...Enfim, sobrou mais uma vez para o cidadão aceitar que lhe alterassem a rotina sem mais nem por que. 
Enquanto isso, milhões de pessoas têm seus ritmos e ciclos biológicos agredidos, no que diz respeito à elevação dos níveis de stress, sonolência durante o dia, crises de enxaqueca e, especialmente, do risco de ataques cardíacos (infarto do miocárdio) 1. A produtividade do individuo, diante dessas alterações, é drasticamente reduzida nas primeiras semanas de implantação do horário de verão. Depois, o organismo tenta uma busca pela compensação desse desequilíbrio; mas, aí, o impacto deixado já fez seus estragos. 
É preciso entender que, naturalmente, as pessoas já vivem sob uma rotina desequilibrada; sobretudo, nos grandes centros urbanos. As longas distâncias, a má alimentação, a violência, e tantas outras questões já contribuem significativamente na péssima qualidade de vida do cidadão brasileiro. Sem contar as taxas de desemprego e tantos outros números da economia nacional que só fazem mal à saúde física e mental de todos. Não, não é necessário nenhum ‘auxílio’ adicional no sentido de agravar essa situação. Já são tempos difíceis demais para tamanha insensibilidade em relação à população. Aliás, decisões como essa deveriam, sempre, passar pela consulta popular.
Isso significa ter a compreensão exata de que um povo feliz produz mais e melhor. Não é à toa que a Organização das Nações Unidas, em junho de 2012, decidiu criar o Dia Internacional Da Felicidade (20/03), porque “a busca da felicidade é um dos objetivos fundamentais do ser humano” e porque precisamos de “uma abordagem mais inclusiva e equilibrada ao crescimento econômico que promova o desenvolvimento sustentável e o bem-estar”.
O ranking para se saber o grau de felicidade é estabelecido através de consulta aos moradores de 156 países, que manifestam uma nota de 0 a 10 para seis categorias: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida saudável, ter alguém em quem confiar, percepção de liberdade para fazer escolhas, corrupção e generosidade.  
No entanto, embora o Brasil tenha alcançado esse ano o 17º lugar, não creio que estejamos assim tão perto da felicidade.  Medidas como o Horário de Verão, por exemplo, ao invés de serem implementadas poderiam ceder espaço para propostas que efetivamente pudessem devolver a qualidade de vida, o bem estar, a segurança e o sono sagrado para o cidadão; como um modo de simples devolutiva diante da alta carga tributária que se paga no país. Bons serviços essenciais, sendo executados a contento; isso sim é uma excelente tradução de felicidade em países em desenvolvimento, como o nosso.   




1 Shifts to and from Daylight Saving Time and Incidence of Myocardial Infarction - http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc0807104