Velhos
hábitos nunca morrem
Por Alessandra Leles Rocha
Velhos hábitos
nunca morrem; por isso, o Brasil, mais uma vez, copia o que outros países fazem
sem levar em consideração se vale realmente a pena fazê-lo. Então, amanhã começa mais um horário de verão
em pleno país tropical.
Seria curioso se
não fosse ridículo. Diminuição dos riscos de
queda de energia no horário de pico, redução da queima de combustível fóssil
para geração de energia de origem térmica, melhor aproveitamento de a luz solar
com dias mais longos para o lazer, maior segurança ao entardecer,... Nenhum
desses argumentos é de fato consistente e convincente o bastante para por em
prática essa decisão.
Bem, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou em
fevereiro deste ano, a economia gerada pelo Horário de Verão em 2015 foi de R$
162 milhões, o que representou uma redução na
demanda de energia de 0,5% da carga nas regiões onde o novo horário estava
vigente. Pois é, ele só não conseguiu
explicar porque a meta inicial de economia de R$ 240 milhões não havia sido atingida. ...Enfim, sobrou
mais uma vez para o cidadão aceitar que lhe alterassem a rotina sem mais nem por que.
Enquanto isso, milhões de pessoas têm seus ritmos e ciclos
biológicos agredidos, no que diz respeito à elevação dos níveis de stress,
sonolência durante o dia, crises de enxaqueca e, especialmente, do risco de
ataques cardíacos (infarto do miocárdio) 1.
A produtividade do individuo, diante dessas alterações, é drasticamente
reduzida nas primeiras semanas de implantação do horário de verão. Depois, o
organismo tenta uma busca pela compensação desse desequilíbrio; mas, aí, o
impacto deixado já fez seus estragos.
É
preciso entender que, naturalmente, as pessoas já vivem sob uma rotina
desequilibrada; sobretudo, nos grandes centros urbanos. As longas distâncias, a
má alimentação, a violência, e tantas outras questões já contribuem
significativamente na péssima qualidade de vida do cidadão brasileiro. Sem
contar as taxas de desemprego e tantos outros números da economia nacional que
só fazem mal à saúde física e mental de todos. Não, não é necessário nenhum
‘auxílio’ adicional no sentido de agravar essa situação. Já são tempos difíceis demais para tamanha
insensibilidade em relação à população. Aliás, decisões como essa deveriam, sempre,
passar pela consulta popular.
Isso significa ter a compreensão exata de que um povo feliz
produz mais e melhor. Não é à toa que a Organização das Nações Unidas, em junho
de 2012, decidiu criar o Dia Internacional Da
Felicidade (20/03), porque “a busca da felicidade é um dos objetivos
fundamentais do ser humano” e porque precisamos de “uma abordagem mais
inclusiva e equilibrada ao crescimento econômico que promova o desenvolvimento
sustentável e o bem-estar”.
O
ranking para se saber o grau de felicidade é estabelecido através de consulta
aos moradores de 156 países, que manifestam uma nota de 0 a 10 para seis
categorias: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida
saudável, ter alguém em quem confiar, percepção de liberdade para fazer escolhas,
corrupção e generosidade.
No
entanto, embora o Brasil tenha alcançado esse ano o 17º lugar, não creio que
estejamos assim tão perto da felicidade.
Medidas como o Horário de Verão, por exemplo, ao invés de serem implementadas poderiam ceder
espaço para propostas que efetivamente pudessem devolver a qualidade de vida, o
bem estar, a segurança e o sono sagrado para o cidadão; como um modo de simples
devolutiva diante da alta carga tributária que se paga no país. Bons serviços
essenciais, sendo executados a contento; isso sim é uma excelente tradução de
felicidade em países em desenvolvimento, como o nosso.