Em plena preparação para o inverno, temperaturas
caindo lentamente pelas manhãs e fins de tarde, a vegetação perdendo o
esplendor de sua beleza, tudo parece recolher-se ao silencioso pulsar da própria
existência. Tempos de balanço? Talvez! Hora de contabilizar a vida, fazer
planos, refletir sobre o que não deu muito certo, reorganizar as emoções,
pensar, pensar, pensar...
A começar pelo guarda-roupa, o que estava guardado
volta à cena. Vestuário quentinho para nos proteger do vento nada acariciante. Casacos,
cachecóis, meias, gorros e luvas para os mais friorentos; tudo muito pouco
colorido para não destoar da estação. Preparação para o inverno, o outono não
tem por hábito o prazer de chamar a atenção; mas, que torna as pessoas enigmáticas
e bem mais elegantes, essa é uma verdade inconteste! O ser de carne e osso é,
por hora, obrigado a esconder-se sob várias roupas e fazer, ao invés dos
atributos corpóreos, da sua personalidade e comportamento suas maiores armas de
conquista e sedução.
E por mais quentinhos que possamos parecer, o
friozinho sempre dá o seu jeito de se fazer presente. Sabedoria da vovó: é
preciso também esquentar por dentro! Época boa para driblar as costumeiras
restrições e cair em tentação com as delícias culinárias. Chocolate quente,
sopas e caldos saindo fumaça, vinho, quentão, canjica, mingau de todos os
tipos, foundes, queijos,... e o que mais a mente e o corpo confabularem!
Mas, de repente, muita gente percebe nessa época do
ano que tudo isso não é suficiente para aquecer de verdade; é preciso aquecer a
vida, os sentimentos. Não é à toa que o outono parece aumentar o fogo e fazer o
romance estourar como pipoca na panela. O clima dos arraiais juninos (e
julhinos) estimula as pessoas a saírem de casa, a buscar uma diversão, a reunir
a família e os amigos, e quem sabe, flertar com a paixão. De brincadeiras em
brincadeiras, correio elegante aqui e ali, danças que unem as mãos e os corpos,
céu estrelado e lua cheia iluminando o cenário; enfim, o amor conspira e
inspira a favor! O inexplicável rouba o momento e flecha os corações de todas
as idades.
Para onde mesmo foi à sisudez do outono? Sei lá! Talvez,
ele não seja exatamente sisudo, mas um cadinho envergonhado, precisando apenas
um empurrãozinho para se libertar e mostrar os olhinhos melados e suspirosos. Para
deixar fluir os risos e os sorrisos de um ser coberto da cabeça aos pés. Para ver
graça nos dias cinzentos e gelados de um lugar que é tipicamente calorento na
maior parte dos dias.
A
vida nunca para, nunca faz uma pausa efetiva para mudar de ato. Tudo é dinâmico,
intenso, efervescente. São nossos olhos do corpo e da alma que desaceleram vez
por outra, estimulados pelos efeitos da natureza, para que possamos entender e aperfeiçoar
a nossa própria existência. As estações são nossos ciclos recicladores e sem
que, plenamente conscientes, nos damos conta das transformações, navegamos num
ritmo proposto de fora para dentro. Por isso sempre é tempo para se redescobrir,
se reinventar, se metamorfosear, ainda que, para muitos, lá fora seja
simplesmente OUTONO!
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Trabalho Gráfico de Alessandra Leles Rocha