Habemus
Papam
Por
Alessandra Leles Rocha
Habemus Papam. Depois de um
trabalho de pouco mais de uma década, realizado pelo Papa Francisco, no sentido
de promover um alinhamento da Santa Sé a algumas demandas contemporâneas, Leão
XIV acena com a continuidade desse movimento. No entanto, muito se falou, nos
últimos dias, a respeito das divergências ideológicas existentes dentro da
Igreja, por conta de certas mudanças promovidas por Francisco.
De modo que me coloquei a
refletir a respeito. Bem, divergências fazem parte da vida e estão em todos os
lugares, em todos os tempos. Contudo, não há como se construir um senso comum
dentro dos muros do Vaticano, tendo em vista que, do lado de fora deles, o mundo
transita pela efervescência das transformações e das pluralidades.
Isso porque a Igreja, enquanto
corpo social organizado e instituído por Jesus Cristo, exerce o papel
fundamental de trazer alento, solidariedade e orientação aos seus seguidores.
Portanto, seus ensinamentos, pautados nos princípios da ética cristã, precisam transmitir
significado e significância ajustados às demandas manifestas por seus fiéis. Em
pleno século XXI, não há como a Igreja se enclausurar em si mesma, mantendo a
sua base teológica alheia à evolução social.
E ao se colocar disposto a seguir
o caminho de Francisco, Leão XIV dá sinais de compreender exatamente esse
cenário. Formado pelos valores fundamentais da Ordem Agostiniana, ou seja, a
interioridade, a verdade, a liberdade, a amizade, a comunidade e a justiça
solidária, o novo Papa emana um sentimento de grande esperança, para o mundo.
Temos que concordar que a
realidade contemporânea tem se mostrado oposta a tais valores. Pela tríade do
individualismo, do narcisismo e do egoísmo, o planeta parece entregue às mais
diversas expressões da beligerância, da desumanidade, do desrespeito, da
desunião, ... Nem de longe, nos assemelhamos a uma vivência em comunidade
universal de irmãos.
Daí a importância de uma Igreja
que tenha em si a genuína disposição ao diálogo, dentro e fora de seus muros. Afinal,
muitas das mazelas do mundo são comuns a todos os viventes – desigualdades,
fome, doenças, guerras, violências, preconceitos -, algo que aponta para a
busca de soluções conjuntas através do diálogo interreligioso e interinstitucional.
Como disse Santo Agostinho, “O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa
lê somente uma página”; por isso, a práxis da fé precisa estar sempre em contínuo
serviço.
É com base nessas perspectivas e expectativas,
que milhões de pessoas estiveram unidas na Praça de São Pedro, nas últimas
semanas. Impulsionadas pelo sentimento esperançoso de continuidade dos
trabalhos de Francisco. E não foi uma manifestação estritamente católica. Foi uma
manifestação da diversidade e da pluralidade ecumênica, em nome da preservação de
valores e de princípios humanos.
Que Leão XIV seja, de fato, um
arauto de transformação; mas, sobretudo, da conscientização de que “Se você
crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no
evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo” (Santo Agostinho). Esse é,
então, o ponto de partida para que a interioridade, a verdade, a liberdade, a
amizade, a comunidade e a justiça solidária, ultrapassem a fronteira da
esperança e se tornem a realidade factual almejada por Cristo.