sábado, 26 de outubro de 2024

Escolhas ...

Escolhas ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Amanhã será o 2º turno das eleições, em diversos municípios brasileiros. Mais um momento de reafirmação democrática, a partir da escolha representativa popular. Algo que esconde, para uma imensa maioria, a dimensão da importância e da complexidade desse ato. Afinal de contas, entre o ideal e a realidade, as marcas da historicidade nacional impossibilitam a inexistência de uma profunda frustração.

Começando, pelo fato de que em muitos lugares a representatividade político-partidária conserva elementos de um ranço colonial que contraria flagrantemente certos valores prezados pela democracia, como é o caso da liberdade e da autonomia no exercício do voto. Reafirmando, então, um sentimento de subserviência e de obediência às forças de dominância do poder local.

Depois, há de se considerar um quadro histórico de inércia repetitiva que aponta para a incapacidade de transformação social através do voto. De modo que, até mesmo, o cidadão menos letrado, consegue ver a ineficácia da sua escolha representativa, quando essa não consegue materializar, seja no legislativo ou no executivo, nenhum sinal de melhoria para a sua condição social. Em suma, ter um representante político-partidário não significa ser efetivamente representado nas esferas do poder.

Tanto que, em pleno século XXI, há quem barganhe o voto, como último recurso para materializar alguma melhoria na sua condição social. Alguns recebem dinheiro para votar em um determinado candidato. Outros recebem benefícios, tais como cesta básica, pintura da casa, atendimento médico-odontológico, ... Outros aguardam por alguma oportunidade no serviço público. Como se o voto pudesse valer o tamanho da necessidade do eleitor.

Assim, a percepção em relação ao exercício democrático do voto se distancia do que ele realmente representa na dinâmica da vida cotidiana. O cidadão passa a não estabelecer uma associação entre as suas escolhas representativas e as suas expectativas quanto aos ganhos ou prejuízos decorrentes delas. Há, portanto, um sentimento descompromissado em relação ao voto, que tende a legitimar todo o processo deteriorativo da política nacional.

Não é à toa que há quem fale em votar no menos pior. Outros, em anular o voto. E aqueles que simplesmente decidem por se abster em comparecer à sessão eleitoral. Tamanho o descaso que marca o inconsciente coletivo nacional, quando se trata da escolha de um representante político-partidário. Mas, não para por aí. Com o advento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), o descaso ganhou outros vieses.

A propagação de inverdades, a distorção de fatos, a destruição de reputações, a violência cibernética, ... por meio das mídias sociais, vem comprometendo a integridade do exercício democrático. Há um desvirtuamento completo em relação ao papel da construção política para o cotidiano da população. Muitos não entendem que más escolhas podem sim, repercutir terrivelmente sobre suas vidas.

Desse modo, lamentavelmente, chegamos a um nível de deformação de nossa incipiente consciência cidadã, que se pode dizer, em termos políticos, que o peso de ideias pré-fabricadas tem tido mais importância do que a resolução de problemas graves e reais, os quais assolam as unidades da Federação diariamente.