domingo, 14 de abril de 2024

Precisamos pensar, refletir e conversar sobre isso!


Precisamos pensar, refletir e conversar sobre isso!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Guerras nunca foram um bom negócio! Mesmo quando se pensa nos vultosos montantes capitalizados pela indústria armamentista, a destruição e a penúria instituídas são capazes de derreter as conquistas muito rapidamente. O pós-guerra é, portanto, desastroso para as economias envolvidas; sobretudo, aquelas com participação direta.

A grande pergunta a se fazer é: por que motivo, então, as guerras se arrastam por longos períodos? A resposta demanda diversas camadas. Bem, uma guerra não é feita só da belicosidade em si. Há uma teia narrativa que precisa ser tecida, para dar algum tipo de sustentação subjetiva, junto à população. É preciso convencer as pessoas de que aquele conflito é necessário, que existe uma razão consistente para se empregar o dinheiro público em nome da defesa, da segurança geográfica.

Segundo o Evangelho, “É melhor não prometer nada do que fazer uma promessa e não cumprir” (Eclesiastes 5:4-6). Entretanto, no contexto político, isso é o que mais acontece. Promessas vãs. Sobretudo, em tempos de guerra.

Assim, elas geram tensões, desconfortos, indignações, que ultrapassam as fronteiras do sentimento pessoal, de cada cidadão, para transformarem-se em ações de cobrança pública coletiva. Quanto mais o tempo passa, sem o desfecho esperado, mais as pessoas perdem o seu senso de equilíbrio e moderação.

Assim, percebendo a impossibilidade de dar a resposta condizente à promessa, as autoridades começam a gerar novos elementos de combatividade, no afã de aguardar uma solução apaziguadora junto aos seus apoiadores e simpatizantes. Porém, essa não só é uma estratégia fracassada, como ela tende a agravar as implicações socioeconômicas geradas pelos investimentos capitais para o conflito. Sim, guerras sempre acentuam crises econômicas avassaladoras.

O problema, então, é como explicar esse cenário para a população, que foi convencida e sensibilizada a apoiar a iniciativa bélica. Daí não é difícil perceber que, de repente, as razões que levam a um determinado conflito começam a se perder.

Os alvos começam a se diversificar e a expandir o raio de deflagração das hostilidades e ataques. Porque até que encontre um modo de não deflagrar uma desestabilização social interna, por parte da sua população, aquele governo que apostou todas as fichas naquela guerra precisa se manter combativo externamente.

Muitas vezes, aproveitando-se de uma relação histórica conturbada ou fragilmente constituída, com algum outro player regional. Desse modo, encontra-se o cenário, relativamente ideal, para uma expansão da beligerância. O que fez Israel ao decidir bombardear o consulado do Irã, em Damasco, na Síria.

Depois de meses afirmando que tinha plenos direitos de responder ao ataque do Hamas em seu território, ocorrido em 7 de outubro de 2023, e escalar uma guerra sem precedentes contra o povo palestino 1, Israel faz um ataque desses contra o Irã 2. A resposta veio através de drones. Segundo o governo iraniano, trata-se de um direito de resposta do país, sem pretensão de escalada da guerra.

Mas, acirrando ou não as tensões, fato é que a guerra aprofunda uma crise global sob diferentes aspectos. A desestabilização no Oriente Médio tem impacto direto nas commodities agrícolas e minerais, por exemplo. O que se reverbera sobre o mundo, no que diz respeito às pressões inflacionárias e ao custo de vida da população, por exemplo.

Rotas marítimas e aéreas precisam ser alteradas para evitar incidentes gravíssimos. Algo que também repercute sobre o valor do frete de mercadorias, nas passagens aéreas. A dinâmica expansionista das relações de comércio exterior é arrefecida diante da adversidade geopolítica global. Enfim.

Como disse no início dessa breve reflexão, guerras nunca foram um bom negócio! Considerando-se o fato de que a contemporaneidade já espelha um quadro repleto de incertezas, seja pelos eventos extremos do clima, seja pela ameaça de novas epidemias, seja pela avançada tecnologização em curso, as crises abertas pelas guerras e conflitos podem sim, catalisar a falência e a eliminação da raça humana sobre a Terra.

Ora, vivemos em um planeta que caminha para um envelhecimento em massa, significativamente empobrecido e desguarnecido de políticas públicas para atenuar os efeitos desse panorama. Portanto, não temos o direito de aprofundar ainda mais as nossas mazelas, através do apogeu do nosso fracasso civilizatório.

Vejam a que ponto chegamos! Temos duas guerras em curso. Estamos em franca abstenção do nosso senso ético e moral. Da nossa dignidade. Da nossa alteridade. Desvirtuamos a realidade a bel prazer. Distorcemos a verdade dos fatos, como se não houvesse consequências. ...

Assim, deixo como reflexão final, um pequeno texto encontrado após a Segunda Guerra Mundial, em um campo de concentração nazista, que diz: “Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre a educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros reinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e aritmética são importantes para fazer nossas crianças mais humanas. As tecnologias são importantes, mas apenas se soubermos utilizá-las. E saber utilizá-las não é apenas um problema técnico” 3.