Precisamos
pensar, refletir e conversar sobre isso!
Por Alessandra
Leles Rocha
Guerras nunca foram um bom
negócio! Mesmo quando se pensa nos vultosos montantes capitalizados pela indústria
armamentista, a destruição e a penúria instituídas são capazes de derreter as
conquistas muito rapidamente. O pós-guerra é, portanto, desastroso para as
economias envolvidas; sobretudo, aquelas com participação direta.
A grande pergunta a se fazer é:
por que motivo, então, as guerras se arrastam por longos períodos? A resposta
demanda diversas camadas. Bem, uma guerra não é feita só da belicosidade em si.
Há uma teia narrativa que precisa ser tecida, para dar algum tipo de
sustentação subjetiva, junto à população. É preciso convencer as pessoas de que
aquele conflito é necessário, que existe uma razão consistente para se empregar
o dinheiro público em nome da defesa, da segurança geográfica.
Segundo o Evangelho, “É melhor
não prometer nada do que fazer uma promessa e não cumprir” (Eclesiastes 5:4-6).
Entretanto, no contexto político, isso é o que mais acontece. Promessas vãs. Sobretudo,
em tempos de guerra.
Assim, elas geram tensões,
desconfortos, indignações, que ultrapassam as fronteiras do sentimento pessoal,
de cada cidadão, para transformarem-se em ações de cobrança pública coletiva. Quanto
mais o tempo passa, sem o desfecho esperado, mais as pessoas perdem o seu senso
de equilíbrio e moderação.
Assim, percebendo a
impossibilidade de dar a resposta condizente à promessa, as autoridades começam
a gerar novos elementos de combatividade, no afã de aguardar uma solução
apaziguadora junto aos seus apoiadores e simpatizantes. Porém, essa não só é
uma estratégia fracassada, como ela tende a agravar as implicações socioeconômicas
geradas pelos investimentos capitais para o conflito. Sim, guerras sempre
acentuam crises econômicas avassaladoras.
O problema, então, é como
explicar esse cenário para a população, que foi convencida e sensibilizada a
apoiar a iniciativa bélica. Daí não é difícil perceber que, de repente, as
razões que levam a um determinado conflito começam a se perder.
Os alvos começam a se
diversificar e a expandir o raio de deflagração das hostilidades e ataques. Porque
até que encontre um modo de não deflagrar uma desestabilização social interna, por
parte da sua população, aquele governo que apostou todas as fichas naquela
guerra precisa se manter combativo externamente.
Muitas vezes, aproveitando-se de
uma relação histórica conturbada ou fragilmente constituída, com algum outro
player regional. Desse modo, encontra-se o cenário, relativamente ideal, para uma
expansão da beligerância. O que fez Israel ao decidir bombardear o consulado do
Irã, em Damasco, na Síria.
Depois de meses afirmando que tinha
plenos direitos de responder ao ataque do Hamas em seu território, ocorrido em
7 de outubro de 2023, e escalar uma guerra sem precedentes contra o povo
palestino 1, Israel faz um ataque desses contra o
Irã 2. A resposta veio através de drones. Segundo
o governo iraniano, trata-se de um direito de resposta do país, sem pretensão
de escalada da guerra.
Mas, acirrando ou não as tensões,
fato é que a guerra aprofunda uma crise global sob diferentes aspectos. A desestabilização
no Oriente Médio tem impacto direto nas commodities agrícolas e minerais, por
exemplo. O que se reverbera sobre o mundo, no que diz respeito às pressões
inflacionárias e ao custo de vida da população, por exemplo.
Rotas marítimas e aéreas precisam
ser alteradas para evitar incidentes gravíssimos. Algo que também repercute
sobre o valor do frete de mercadorias, nas passagens aéreas. A dinâmica expansionista
das relações de comércio exterior é arrefecida diante da adversidade geopolítica
global. Enfim.
Como disse no início dessa breve reflexão,
guerras nunca foram um bom negócio! Considerando-se o fato de que a contemporaneidade
já espelha um quadro repleto de incertezas, seja pelos eventos extremos do
clima, seja pela ameaça de novas epidemias, seja pela avançada tecnologização
em curso, as crises abertas pelas guerras e conflitos podem sim, catalisar a falência
e a eliminação da raça humana sobre a Terra.
Ora, vivemos em um planeta que
caminha para um envelhecimento em massa, significativamente empobrecido e
desguarnecido de políticas públicas para atenuar os efeitos desse panorama. Portanto,
não temos o direito de aprofundar ainda mais as nossas mazelas, através do
apogeu do nosso fracasso civilizatório.
Vejam a que ponto chegamos! Temos
duas guerras em curso. Estamos em franca abstenção do nosso senso ético e
moral. Da nossa dignidade. Da nossa alteridade. Desvirtuamos a realidade a bel
prazer. Distorcemos a verdade dos fatos, como se não houvesse consequências.
...
Assim, deixo como reflexão final,
um pequeno texto encontrado após a Segunda Guerra Mundial, em um campo de
concentração nazista, que diz: “Prezado Professor, sou sobrevivente de um
campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras
de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos
diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados
e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas
suspeitas sobre a educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se
humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros reinados ou psicopatas
hábeis. Ler, escrever e aritmética são importantes para fazer nossas crianças
mais humanas. As tecnologias são importantes, mas apenas se soubermos
utilizá-las. E saber utilizá-las não é apenas um problema técnico” 3.
1 https://www.brasildefato.com.br/2023/11/07/massacre-de-israel-contra-palestinos-completa-um-mes-com-10-mil-mortos-situacao-tende-a-piorar-segundo-analistas