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a história ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Segundo a história nacional, no
próximo dia 22 de abril, marcam-se os 524 anos da chegada das caravelas
portuguesas a esse território. Não vejo como uma data comemorativa; mas, um
ponto de reflexão essencial, mesmo em tempos contemporâneos.
A saga de colônia de exploração
da Metrópole Portuguesa, em razão das práxis absolutistas da época, não restou
como lembrança de um tempo passado. Muito pelo contrário. O impacto foi tão
devastador que deixou cicatrizes históricas profundas a se perpetuar e
reverberar, como se algo tivesse sido incorporado ao inconsciente coletivo
nacional.
Pois é, mantivemos todos os
padrões coloniais. A casa grande e a senzala. O latifúndio exportador de
alimentos. A exploração de matéria-prima. O racismo. A misoginia. O trabalho
análogo à escravidão. A exploração e dizimação de povos originários. Enfim... Depois de 389 anos, quando a Corte Portuguesa
finalmente sai do país, após a Proclamação da República, a estrutura socioeconômica
organizada não se desfez.
As elites burguesas e seus
descendentes já estavam tão habituados às regalias e aos privilégios, que não
fizeram objeção em manter tudo como estava. Mas, um detalhe chama atenção, elas sequer se
importaram de se manterem alinhadas à subserviência das ex-Metrópoles, então,
alçadas ao posto de potências globais. Do colonialismo ao Neocolonialismo
(Imperialismo).
E isso deveria ser bastante
revelador! Na medida em que explica as razões que levaram o Brasil a se
permitir orbitar essa espiral retrógrada e profundamente obstaculizante às suas
pretensões de desenvolvimento e de progresso. Há quem diga que somos
emergentes; mas, basta uma tomada de posição mais incisiva, mais independente,
para que surjam sinais de reprovação e de descontentamento no cenário
diplomático mundial.
Vejam bem, em pleno século XXI,
segundo pensam os donos do mundo, o Brasil precisa se conter dentro da sua
bolha de ex-colônia. Subalterno. Inferior. Secundário. Submisso. Obediente. Humilde. Dependente. Como se não dispusesse de
autonomia, de soberania, de cidadania democrática.
Quem lhe reafirma essa impressão,
essa perspectiva, são justamente aqueles que, majoritariamente, na história
nacional, sempre detiveram o poder. Falo das elites burguesas e seus
descendentes, defensores da direita e de seus matizes, mais ou menos radicais e
extremistas, os quais mantêm o país sob as crenças, valores e princípios alicerçados
pela herança colonial.
Por isso, não é de se espantar os
seus esforços em se abrigar sob as asas do movimento ultradireitista
internacional, em franca expansão. O recente episódio de afronta, cometido por
um multimilionário norte-americano, dono de uma popular rede social, contra um
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), trata exatamente disso.
Simpatizante e apoiador do ideário
ultradireitista, ele não faz questão de esconder o seu desapreço pelas
legislações vigentes em cada país, pela Democracia, pela dignidade humana. Sua concepção
é de que o poder capital está acima de tudo e de todos. E para garantir seus
objetivos e interesses, ele ultrapassa quaisquer limites.
No caso do Brasil, o desdém é
ainda maior porque ele nos vê pela perspectiva de uma extensão do colonialismo
(séculos XV e XIX) e do imperialismo (século XIX e XX). Uma verdadeira “república
de bananas”; afinal, quem busca nele apoio são os próprios defensores da
direita e de seus matizes, embalados pela herança colonial.
Gente que melhor representa a
fragilidade da identidade nacional brasileira. Gente que não tem quaisquer
pudores em ser anticidadãos, antidemocratas, negacionistas, terraplanistas, ...
Gente que não exerce o respeito, a alteridade, a coletividade, sendo a
expressão bruta do individualismo narcisista contemporâneo.
Então, a pergunta que não quer
calar é: até quando estaremos submetidos aos humores do imperialismo contemporâneo?
Vejam que, de absurdo em absurdo, o país já recebeu, por exemplo, containers de
lixo de outros países 1. Já serviu
de esconderijo, durante décadas, para bandidos e criminosos oriundos de outras
partes do globo 2.
Então, basta! O Brasil não é um “puxadinho”
dos países desenvolvidos, das grandes potências globais. Pelo caminho que as
coisas estão indo, não demora muito, e ele acaba tomando para si a letra da
música ALUGA-SE 3 (1980), de Raul Seixas e Claudio Roberto
Andrade de Azeredo. Prestemos, então, bastante atenção ao que escreveu
Jean-Paul Sartre, “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós
mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.
1 https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/geral/audio/2021-09/conteineres-com-lixo-hospitalar-sao-encontrados-no-porto-de-santos#:~:text=Mais%20de%2060%20cont%C3%AAineres%20com,com%20a%20descri%C3%A7%C3%A3o%20da%20carga
https://noticias.r7.com/brasil/brasil-na-rota-do-trafico-internacional-de-lixo-27062023
https://saneamentobasico.com.br/residuos-solidos/brasil-rota-trafico-internacional-lixo/