segunda-feira, 8 de abril de 2024

Consulte a história ...


Consulte a história ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Segundo a história nacional, no próximo dia 22 de abril, marcam-se os 524 anos da chegada das caravelas portuguesas a esse território. Não vejo como uma data comemorativa; mas, um ponto de reflexão essencial, mesmo em tempos contemporâneos.

A saga de colônia de exploração da Metrópole Portuguesa, em razão das práxis absolutistas da época, não restou como lembrança de um tempo passado. Muito pelo contrário. O impacto foi tão devastador que deixou cicatrizes históricas profundas a se perpetuar e reverberar, como se algo tivesse sido incorporado ao inconsciente coletivo nacional.

Pois é, mantivemos todos os padrões coloniais. A casa grande e a senzala. O latifúndio exportador de alimentos. A exploração de matéria-prima. O racismo. A misoginia. O trabalho análogo à escravidão. A exploração e dizimação de povos originários. Enfim...  Depois de 389 anos, quando a Corte Portuguesa finalmente sai do país, após a Proclamação da República, a estrutura socioeconômica organizada não se desfez.

As elites burguesas e seus descendentes já estavam tão habituados às regalias e aos privilégios, que não fizeram objeção em manter tudo como estava.  Mas, um detalhe chama atenção, elas sequer se importaram de se manterem alinhadas à subserviência das ex-Metrópoles, então, alçadas ao posto de potências globais. Do colonialismo ao Neocolonialismo (Imperialismo).

E isso deveria ser bastante revelador! Na medida em que explica as razões que levaram o Brasil a se permitir orbitar essa espiral retrógrada e profundamente obstaculizante às suas pretensões de desenvolvimento e de progresso. Há quem diga que somos emergentes; mas, basta uma tomada de posição mais incisiva, mais independente, para que surjam sinais de reprovação e de descontentamento no cenário diplomático mundial.

Vejam bem, em pleno século XXI, segundo pensam os donos do mundo, o Brasil precisa se conter dentro da sua bolha de ex-colônia. Subalterno. Inferior. Secundário. Submisso. Obediente.  Humilde. Dependente. Como se não dispusesse de autonomia, de soberania, de cidadania democrática.

Quem lhe reafirma essa impressão, essa perspectiva, são justamente aqueles que, majoritariamente, na história nacional, sempre detiveram o poder. Falo das elites burguesas e seus descendentes, defensores da direita e de seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, os quais mantêm o país sob as crenças, valores e princípios alicerçados pela herança colonial.

Por isso, não é de se espantar os seus esforços em se abrigar sob as asas do movimento ultradireitista internacional, em franca expansão. O recente episódio de afronta, cometido por um multimilionário norte-americano, dono de uma popular rede social, contra um dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), trata exatamente disso.

Simpatizante e apoiador do ideário ultradireitista, ele não faz questão de esconder o seu desapreço pelas legislações vigentes em cada país, pela Democracia, pela dignidade humana. Sua concepção é de que o poder capital está acima de tudo e de todos. E para garantir seus objetivos e interesses, ele ultrapassa quaisquer limites.

No caso do Brasil, o desdém é ainda maior porque ele nos vê pela perspectiva de uma extensão do colonialismo (séculos XV e XIX) e do imperialismo (século XIX e XX). Uma verdadeira “república de bananas”; afinal, quem busca nele apoio são os próprios defensores da direita e de seus matizes, embalados pela herança colonial.

Gente que melhor representa a fragilidade da identidade nacional brasileira. Gente que não tem quaisquer pudores em ser anticidadãos, antidemocratas, negacionistas, terraplanistas, ... Gente que não exerce o respeito, a alteridade, a coletividade, sendo a expressão bruta do individualismo narcisista contemporâneo.

Então, a pergunta que não quer calar é: até quando estaremos submetidos aos humores do imperialismo contemporâneo? Vejam que, de absurdo em absurdo, o país já recebeu, por exemplo, containers de lixo de outros países 1. Já serviu de esconderijo, durante décadas, para bandidos e criminosos oriundos de outras partes do globo 2.

Então, basta! O Brasil não é um “puxadinho” dos países desenvolvidos, das grandes potências globais. Pelo caminho que as coisas estão indo, não demora muito, e ele acaba tomando para si a letra da música ALUGA-SE  3 (1980), de Raul Seixas e Claudio Roberto Andrade de Azeredo. Prestemos, então, bastante atenção ao que escreveu Jean-Paul Sartre, “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.

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