A
pergunta que não quer calar...
Por Alessandra
Leles Rocha
A quem interessa o caos contemporâneo?
Essa deveria ser a pergunta de todo cidadão. Sim, porque na medida em que a vida
passa a transcorrer sob níveis de tensão absurdos, da mais completa
instabilidade beligerante, o caos está instalado. E isso nada tem de
producente. O caos não gera desenvolvimento, não gera progresso, de nenhuma
forma ou conteúdo. Simplesmente, porque ele é um componente desagregador.
Pois é, o que lhe diz as
seguintes palavras: confusão, desordem, anarquia, bagunça, balbúrdia, obscuridade,
pandemônio, perturbação, transtorno? Agora, percorra as manchetes dos veículos de
comunicação e de informação, tradicionais e alternativos 1.
Daqui e dali cada uma dessas palavras está presente, de algum modo. É, caro (a)
leitor (a), o caos está entre nós!
Solapando gradualmente nossos
míseros momentos de paz. Se é que ainda temos algum! Mas, o caos contemporâneo age
dessa maneira, exaurindo nossas energias, nos afastando uns dos outros pela
imposição de partidarismos vãos, alienando nossa capacidade crítico-reflexiva,
adoecendo nossos corpos. Só não admite, quem não quer! Porque não há bolha que
seja suficientemente capaz de nos blindar dos efeitos nocivos desses tempos
insanos.
Ora, temos olhos para enxergar,
ouvidos para ouvir, sensibilidade para discernir. Então, não dá para passar à
margem dos acontecimentos, fingir que não sabe ou que não viu, ostentar a mais
absoluta indiferença. Quaisquer dessas atitudes significa compactuar voluntariamente
com o caos. Mas, por quê? Que motivos podem levar a raça humana a apostar todas
as suas fichas no “quanto pior, melhor”?
Resposta difícil, não é mesmo? Nem
sei se há, de fato, uma resposta. Afinal, tudo isso contraria, profundamente, o
nosso senso racional, o nosso instinto de preservação da espécie. Todos contra
todos, pelos mais diversos motivos, é surreal! É como o ápice do individualismo!
Algo que me faz lembrar da parábola do porco-espinho, “uma metáfora usada
pelo filósofo Arthur Schopenhauer para se referir às dificuldades de convívio
entre os seres humanos” 2.
Nela, a causa do afastamento eram
os espinhos. Bem, é dessa espécie desenvolver espinhos sobre a pele. De modo
que não são as diferenças que os afastam; mas, as afinidades. Trazendo para a
perspectiva humana, quando o outro espelha aquilo que eu não quero ver,
desperta em mim um desconforto terrível. Não, que ele o faça intencionalmente;
mas, se ele é semelhante a mim, a sua própria existência faz com que seja difícil
negar essa verdade indigesta. Assim, o caos ao afastar as pessoas, pelo menos
em tese, estabelece um controle sobre esses incômodos. Mas será?
A verdade é que a desagregação é
uma ameaça real de extinção. Quando o individualismo é colocado a enésima potência
em detrimento da coletividade, nada mais importa, nem a própria vida. Se cada
um sair, por aí, defendendo os seus interesses, as suas vontades, os seus
quereres, independentemente de quaisquer limites ou leis, desrespeitando
voluntariamente os seus pares, sem a menor intenção de alcançar o equilíbrio do
consenso, o caos se imporá de maneira definitiva em relação à sobrevivência humana.
As tentativas de estabelecer
tensões e desestabilizações, em diversos países, refletem isso muito bem. Tem sido
sim, tempos em que o caos se lança contra a soberania, a cidadania, a dignidade
humana, o pluralismo político, sem a menor cerimônia e de maneira bastante
impetuosa. E isso só acontece porque se está esgarçando os laços sociais,
fragmentando as sociedades. Fazendo com que cada um fique à mercê da própria sorte.
O mais curioso é pensar, por exemplo, nas palavras de George Orwell, de que “Toda propaganda de guerra, toda gritaria, as mentiras e o ódio, vem invariavelmente das pessoas que não estão lutando”. Verdade! As partículas promotoras do caos estão sempre fora do olho do furacão. Observando. Controlando. Manipulando. Estimulando. Para alcançar os seus objetivos o mais plenamente possível. Mais do que nunca, eles precisam da desagregação para garantirem a sua integridade; pois, individualmente, os outros se tornam inofensivos, arrefecidos na sua ânsia de lutar pela união, paz, harmonia, entendimento e conciliação.
1 https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn03xl538ypo
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c89zpglggrdo
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp0gyzy39ryo
https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce4393801v0o
https://iclnoticias.com.br/milei-corta-enia-contra-gravidez-adolescencia/
https://iclnoticias.com.br/arquivos-politicos-americanos-revelam-crimes/