Sempre em
tempo ... de pensar, de refletir, de aprender, com a própria cabeça!
Por Alessandra
Leles Rocha
Direta ou indiretamente, o efeito
sabidamente deletério das mídias sociais é motivo para uma reflexão cada vez
mais consciente e profunda.
Na construção de um extremo entre
indivíduos que refutam tamanha exposição e outros que fazem de tudo pelos seus
15 minutos de fama, essa é uma seara que afeta indistintamente a sociedade como
um todo.
Como toda boa novidade, as novas
tecnologias não se furtaram em propagandear o seu lado mais bonito, mais
convidativo, mais atraente, ocultando de maneira consciente as armadilhas perigosas
e os interesses escusos, intrínsecos à sua gênese.
Digo isso, porque não precisou de
muito tempo para que os sonhos começassem a virar pesadelos e o desvirtuamento
social apontasse o rumo dos descaminhos impostos por esse movimento.
Nesse sentido, lembrei-me de uma
cena marcante do filme O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada),
de 2006, quando a editora-chefe da revista de moda, interpretada por Meryl
Streep, comenta com sua assistente, interpretada por Anne Hathaway, sobre seu
divórcio e o quanto ela deveria receber dos grandes conglomerados de imprensa,
pela notícia, tendo em vista que o sofrimento alheio sempre rende milhões ao
setor.
Quem diria! Passadas quase duas décadas,
deveríamos estar cientes de que, agora, são as Big Techs a fazerem
fortuna através da disseminação do ódio, da violência, da ignorância, da
pós-verdade, das fragilidades e carências existenciais, enfim.
Infelizmente, são tempos de capitalização
das desgraças 1, como se
houvesse um cabresto da mercantilização humana 2,
que transforma seres humanos em mercadoria 3.
Pois é, a tecnologização contemporânea
tem levado milhares de seres humanos a uma escravização social, tão
aterrorizante, que é capaz de destruir vidas, enquanto contabiliza cifras bilionárias
para pessoas que não têm quaisquer compromissos éticos e morais com a própria
humanidade.
Mas, qual é o espanto? Desde a 1ª
Revolução Industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra,
que a práxis é essa. Não acredita? Quer um exemplo?
Leia, então, a matéria “Quem
eram as ‘crianças da chaminé’ exploradas nos países industrializados até o
século 19?” 4 e descubra o lado
horrendo e vergonhoso que se esconde na miragem eufórica e extasiante da
industrialização.
São muitas as razões que levaram,
e ainda levam, milhares de seres humanos a se render às teias do
desenvolvimento e do progresso, simplesmente denominadas de Revolução
Industrial.
Já estamos na sua 4ª versão e se
não é, ao menos deveria ser, preocupante o fato de a humanidade não ser mais contundente
nos seus questionamentos sobre “como ela deve afetar nossas vidas” 5.
Afinal de contas, seja objetiva
ou subjetivamente, a 4ª Revolução Industrial ou Revolução 4.0 diz que chegamos ao
auge da automação, através de múltiplas tecnologias, as quais utilizam conceitos
de sistemas ciber-físicos, internet das coisas e computação em nuvem.
Em nome da eficiência e da
produtividade, máquinas de última geração dominam a dinâmica cotidiana e
exercem um poder, nunca antes visto, sobre os mais de 8 bilhões de seres
humanos.
Lamento; mas, não é força de
expressão dizer que saltamos, sem paraquedas, de um modo de vida em que seres
humanos eram protagonistas de sua própria história, podiam decidir sobre
questões simples e complexas do seu dia a dia, para um extremo, sem que
houvesse qualquer preparo psíquico e emocional.
Foi tudo de repente! Literalmente.
Sem redes proteção, sem manuais, fomos lançados a uma busca frenética para que pudéssemos
caber dentro dessa nova realidade.
Mas, parece que não estamos
obtendo o êxito desejado. Informações, daqui e dali, dão conta de uma realidade
que passa sobre os seres humanos, como um verdadeiro rolo compressor, e afeta a
sua estabilidade em todo os sentidos.
Vamos e convenhamos, a franca
disposição, presente nas mídias sociais, em homogeneizar os indivíduos está destruindo
o seu alicerce identitário.
É tanta pressão, tanta opressão,
que apesar de toda a negligência e invisibilização em torno do assunto, o mundo
já assiste a uma escalada pandêmica de doenças mentais.
Depressão. Síndrome de Burnout.
Ansiedade. Síndrome do Pânico. Obesidade. Transtornos alimentares.
Bipolaridade. ... só para citar algumas.
A questão é que a insalubridade
mental, quase sempre, termina em vidas ceifadas precocemente, enquanto o mundo
continua a girar em sua espiral de loucura, sem quaisquer constrangimentos ou
culpas.
Infelizmente, conscientemente ou
não, a raça humana deu demasiados poderes ao que pode matá-la. Se colocou em
xeque-mate, ou seja, em processo de massificação social – a difícil decisão
entre o ser e o ter 6 .
Mas é preciso pensar! Buscar uma
maneira de equacionar tamanho desequilíbrio, em nome da preservação da própria espécie.
O adoecimento populacional não fala só de corpos; mas, de almas, de sonhos, de
desejos, de perspectivas, ...
Assim, essa é a hora de despertar,
de olhar para dentro de si mesmo, de reconhecer os fatos como são. Só peço que não esmoreça, não desanime; pois, “O
óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar” (Clarice Lispector – Uma aprendizagem
ou o Livro dos Prazeres, 1969).
Afinal, é ele o que nos confronta
a admitir que “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós
mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós” (Jean-Paul Sartre).