Diante do
fato consumado ... e agora?
Por Alessandra
Leles Rocha
Nessas alturas do campeonato,
negar ou não negar os eventos extremos do clima, não vai fazer a menor
diferença! O fato está consumado e os mais de 8 bilhões de seres humanos
existentes no planeta irão arcar com as consequências devastadoras que se
desenham no horizonte.
E não falo apenas das perdas
materiais decorrentes de enchentes, tsunamis, furacões, tornados, secas,
terremotos, vulcões. Falo das perdas humanas, dos corpos que não foram programados
para o desafio de amplitudes térmicas tão drásticas, das doenças que se proliferam
e se aproximam dos indivíduos por conta das intempéries climáticas.
Nem adianta falar de adaptação,
porque para isso acontecer demanda muito tempo, muitas gerações. Nem adianta
pensar que a ciência e a tecnologia irão nos socorrer, porque na contramão do
seu pensamento está o fato objetivo de que as invenções, até aqui, criadas para
mitigar os efeitos do clima demandam a exaustão dos recursos naturais.
Portanto, quanto mais tecnológico
se torna o planeta; mais, exacerbadas se tornam as consequências dos eventos
climáticos. Um exemplo disso é a energia
elétrica, cuja maior matriz é a água. A maioria das pessoas pensam no uso doméstico,
na utilização de inúmeros eletrodomésticos disponíveis. Mas, o buraco é bem
mais embaixo! O consumo energético industrial para produzir os bens de consumo contemporâneos
é elevadíssimo.
De modo que somando-se todos os
papéis que a energia elétrica desempenha na sociedade contemporânea é possível
perceber como acontece a exaustão dos recursos hídricos. Aí, você pode alegar a
existência de outras matrizes, tais como a solar e a eólica. Acontece que o
mundo não é autossuficiente nesses processos; bem como, eles ainda não são totalmente
acessíveis a toda população.
Dito isso, não se pode esquecer
de que a água não resume ao papel da produção energética. A água é bem vital,
os seres vivos dependem dela para a sobrevivência. Portanto, sua utilização
também é vasta. Água para beber. Água para higiene corporal e dos ambientes. Água
para cozinhar. Água para irrigação. Água para transporte e escoamento de
produtos. Água para resfriamento e produção de gelo.
Tudo isso, sem contar o processo
natural do ciclo hidrológico, que tem sido tão absurdamente comprometido pelas
ações de desmatamento, queimadas, ocupações ilegais e garimpagem. O que
significa que a troca contínua de água na hidrosfera, entre a atmosfera, a água
do solo, águas superficiais, subterrâneas e das plantas, está cada vez mais impactada
pelas ações antrópicas.
Haja vista o exemplo recente do
que vem acontecendo no estado do Amazonas, “Conhecido pelas águas escuras e
extensão de quase 1.700 Km, o Rio Negro alcançou a marca de 13,59 metros e a
seca de 2023 já é a pior da história em Manaus”. De modo que “Manaus,
assim como quase todos os municípios do Amazonas, vive uma severa crise
ambiental. Além da seca, que é recorde e tem deixado comunidades isoladas, a
cidade precisou fechar escolas nas áreas rurais e sofre prejuízos na navegação
de embarcações e com o escoamento de produção do Polo Industrial” 1.
Infelizmente, a humanidade
assinou o contrato da Revolução Industrial sem ler as notas de rodapé, se
deixando lançar em uma odisseia de possíveis aventuras; mas, também, de muitas
desventuras que cobram preços altos demais. Basta ver como a urbanização
desencadeada pela industrialização ocupou os espaços naturais inadvertidamente,
poluiu o ar, o solo e a água, criou montanhas de lixo que atraíram inúmeros vetores
de doenças, trouxe uma perturbação provocada por diferentes tipos de ruídos,
promoveu uma cultura de consumo desenfreado, inclusive, alimentos
ultraprocessados, enfim...
O que significa que somos parte
sim, dos problemas socioambientais que afligem o planeta. Somos causa; mas,
podemos nos reformular em solução. Podemos desenvolver novos hábitos, novos comportamentos,
novas atitudes. Sermos mais analíticos, reflexivos, críticos, em relação ao que
somos e ao que vemos no mundo. Novas gerações podem ser orientadas a trilhar
novos caminhos, a desenvolver um novo senso de humanidade. Afinal, é fundamental
entender que estamos pagando alto demais pela nossa própria destruição.