quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Diante do fato consumado ... e agora?


Diante do fato consumado ... e agora?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Nessas alturas do campeonato, negar ou não negar os eventos extremos do clima, não vai fazer a menor diferença! O fato está consumado e os mais de 8 bilhões de seres humanos existentes no planeta irão arcar com as consequências devastadoras que se desenham no horizonte.

E não falo apenas das perdas materiais decorrentes de enchentes, tsunamis, furacões, tornados, secas, terremotos, vulcões. Falo das perdas humanas, dos corpos que não foram programados para o desafio de amplitudes térmicas tão drásticas, das doenças que se proliferam e se aproximam dos indivíduos por conta das intempéries climáticas.

Nem adianta falar de adaptação, porque para isso acontecer demanda muito tempo, muitas gerações. Nem adianta pensar que a ciência e a tecnologia irão nos socorrer, porque na contramão do seu pensamento está o fato objetivo de que as invenções, até aqui, criadas para mitigar os efeitos do clima demandam a exaustão dos recursos naturais.

Portanto, quanto mais tecnológico se torna o planeta; mais, exacerbadas se tornam as consequências dos eventos climáticos.  Um exemplo disso é a energia elétrica, cuja maior matriz é a água. A maioria das pessoas pensam no uso doméstico, na utilização de inúmeros eletrodomésticos disponíveis. Mas, o buraco é bem mais embaixo! O consumo energético industrial para produzir os bens de consumo contemporâneos é elevadíssimo.

De modo que somando-se todos os papéis que a energia elétrica desempenha na sociedade contemporânea é possível perceber como acontece a exaustão dos recursos hídricos. Aí, você pode alegar a existência de outras matrizes, tais como a solar e a eólica. Acontece que o mundo não é autossuficiente nesses processos; bem como, eles ainda não são totalmente acessíveis a toda população.

Dito isso, não se pode esquecer de que a água não resume ao papel da produção energética. A água é bem vital, os seres vivos dependem dela para a sobrevivência. Portanto, sua utilização também é vasta. Água para beber. Água para higiene corporal e dos ambientes. Água para cozinhar. Água para irrigação. Água para transporte e escoamento de produtos. Água para resfriamento e produção de gelo.

Tudo isso, sem contar o processo natural do ciclo hidrológico, que tem sido tão absurdamente comprometido pelas ações de desmatamento, queimadas, ocupações ilegais e garimpagem. O que significa que a troca contínua de água na hidrosfera, entre a atmosfera, a água do solo, águas superficiais, subterrâneas e das plantas, está cada vez mais impactada pelas ações antrópicas.

Haja vista o exemplo recente do que vem acontecendo no estado do Amazonas, “Conhecido pelas águas escuras e extensão de quase 1.700 Km, o Rio Negro alcançou a marca de 13,59 metros e a seca de 2023 já é a pior da história em Manaus”. De modo que “Manaus, assim como quase todos os municípios do Amazonas, vive uma severa crise ambiental. Além da seca, que é recorde e tem deixado comunidades isoladas, a cidade precisou fechar escolas nas áreas rurais e sofre prejuízos na navegação de embarcações e com o escoamento de produção do Polo Industrial” 1.

Infelizmente, a humanidade assinou o contrato da Revolução Industrial sem ler as notas de rodapé, se deixando lançar em uma odisseia de possíveis aventuras; mas, também, de muitas desventuras que cobram preços altos demais. Basta ver como a urbanização desencadeada pela industrialização ocupou os espaços naturais inadvertidamente, poluiu o ar, o solo e a água, criou montanhas de lixo que atraíram inúmeros vetores de doenças, trouxe uma perturbação provocada por diferentes tipos de ruídos, promoveu uma cultura de consumo desenfreado, inclusive, alimentos ultraprocessados, enfim...

O que significa que somos parte sim, dos problemas socioambientais que afligem o planeta. Somos causa; mas, podemos nos reformular em solução. Podemos desenvolver novos hábitos, novos comportamentos, novas atitudes. Sermos mais analíticos, reflexivos, críticos, em relação ao que somos e ao que vemos no mundo. Novas gerações podem ser orientadas a trilhar novos caminhos, a desenvolver um novo senso de humanidade. Afinal, é fundamental entender que estamos pagando alto demais pela nossa própria destruição.