A sociedade dos
cupins
Por Alessandra
Leles Rocha
A
Natureza sempre foi um grande observatório de ideias para o ser humano. Veja,
por exemplo, o avião. Ele surgiu da vontade do homem em voar livremente, como
fazem tantas outras espécies.
Com
base nesta constatação, comecei a analisar e correlacionar os últimos
acontecimentos políticos no Brasil, os quais têm alvoroçado os meios de
comunicação e a opinião pública, além de fomentar declarações consideradas
bombásticas.
É
notório um constante caminhar paralelo entre política e corrupção, em diversos
países do mundo, inclusive o Brasil, desde os tempos mais remotos da história.
Trata-se de um típico exemplo de infestação de cupins.
E,
a título de esclarecimento, os cupins são insetos do Filo Arthropoda, que
apresentam uma sofisticada organização, na qual todos os indivíduos executam
suas funções com rigor e precisão; já que, quando isolados são animais
cautelosos, mas, quando se reúnem, se tornam ousados e se comportam como um “grande
indivíduo”. Eles têm como alimento primordial à madeira, por causa da
celulose, onde fazem pequeninos orifícios e vão corroendo a estrutura interna
do móvel ou objeto, sem que sejam percebidos.
No
caso da corrupção brasileira, a infestação a que nos referimos neste texto,
iniciada nos tempos das caravelas, com a vinda da Coroa Portuguesa para
fixar-se na Terra Brasilis, é uma
alusão à Natureza. Os cupins de que falamos, na verdade se referem a alguns
indivíduos que desenvolveram semelhante comportamento ao dos insetos acima
descritos. Passemos, então, a designá-los como “corrupins”.
Os
corrupins foram se infiltrando nas instituições do poder nacional,
fomentados pela ampla oferta de dinheiro, poder e status. Réis, cruzeiro,
cruzado, cruzado-novo, real, dólar, euro, pouco importa a espécie. A voracidade
é tamanha, que eles trabalham em turnos para saciar suas colônias.
Então,
de vez em quando, um pedaço da estrutura nacional rui, por causa de sua ação
devastadora, e alguns deles ficam à mostra para quem quiser olhar. Inicia-se aí
um corre-corre para investigar o que aconteceu, tomar medidas para contê-los
e/ou exterminá-los, esquecendo-se de que eles são cosmopolitas e têm que ser
combatidos globalmente e não, somente, no local descoberto.
Mas,
qual é o remédio eficaz nesse combate? Creolina, veneno, bioinseticida, são
bons para cupins; mas, e para os corrupins? Mostra, mais uma vez, a
Natureza que para acabar com vetores de doenças e com pragas, um excelente
remédio é cortar as fontes básicas de sobrevivência, ou seja, água, alimento e
abrigo.
Assim,
a solução é eliminar o que mantêm os corrupins em ação, através de:
boicote eleitoral, saneamento das dívidas públicas, ressarcimento aos cofres do
país de todo ganho ilícito depositado em paraísos fiscais, inelegibilidade
política, perda de pensões por atividade pública e julgamento de pessoa física
e jurídica.
Entretanto,
essa mazela tão antiga não será de uma hora para outra aniquilada. Trata-se de
trabalho longo e árduo, individual e coletivo, no combate a essa espécie, que
desagrega sumariamente a cadeia estrutural do país e lhe conduz ao descaminho
do desenvolvimento.
Apesar das doses homeopáticas de medidas paliativas que vêm sendo empregadas ao longo do tempo, há de surgir uma fórmula ideal de ação rápida e satisfatória, para resolver essa endemia. Mas, para isso é preciso o empenho da sociedade brasileira no sentido de sanear o país, resgatando e exigindo a aplicação dos valores éticos e morais da cidadania, em prol do desenvolvimento sócio, político e econômico da nação.