quinta-feira, 14 de setembro de 2023

A sociedade dos cupins


A sociedade dos cupins

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A Natureza sempre foi um grande observatório de ideias para o ser humano. Veja, por exemplo, o avião. Ele surgiu da vontade do homem em voar livremente, como fazem tantas outras espécies.

Com base nesta constatação, comecei a analisar e correlacionar os últimos acontecimentos políticos no Brasil, os quais têm alvoroçado os meios de comunicação e a opinião pública, além de fomentar declarações consideradas bombásticas.

É notório um constante caminhar paralelo entre política e corrupção, em diversos países do mundo, inclusive o Brasil, desde os tempos mais remotos da história. Trata-se de um típico exemplo de infestação de cupins.

E, a título de esclarecimento, os cupins são insetos do Filo Arthropoda, que apresentam uma sofisticada organização, na qual todos os indivíduos executam suas funções com rigor e precisão; já que, quando isolados são animais cautelosos, mas, quando se reúnem, se tornam ousados e se comportam como um “grande indivíduo”. Eles têm como alimento primordial à madeira, por causa da celulose, onde fazem pequeninos orifícios e vão corroendo a estrutura interna do móvel ou objeto, sem que sejam percebidos.

No caso da corrupção brasileira, a infestação a que nos referimos neste texto, iniciada nos tempos das caravelas, com a vinda da Coroa Portuguesa para fixar-se na Terra Brasilis, é uma alusão à Natureza. Os cupins de que falamos, na verdade se referem a alguns indivíduos que desenvolveram semelhante comportamento ao dos insetos acima descritos. Passemos, então, a designá-los como “corrupins”.

Os corrupins foram se infiltrando nas instituições do poder nacional, fomentados pela ampla oferta de dinheiro, poder e status. Réis, cruzeiro, cruzado, cruzado-novo, real, dólar, euro, pouco importa a espécie. A voracidade é tamanha, que eles trabalham em turnos para saciar suas colônias.

Então, de vez em quando, um pedaço da estrutura nacional rui, por causa de sua ação devastadora, e alguns deles ficam à mostra para quem quiser olhar. Inicia-se aí um corre-corre para investigar o que aconteceu, tomar medidas para contê-los e/ou exterminá-los, esquecendo-se de que eles são cosmopolitas e têm que ser combatidos globalmente e não, somente, no local descoberto.

Mas, qual é o remédio eficaz nesse combate? Creolina, veneno, bioinseticida, são bons para cupins; mas, e para os corrupins? Mostra, mais uma vez, a Natureza que para acabar com vetores de doenças e com pragas, um excelente remédio é cortar as fontes básicas de sobrevivência, ou seja, água, alimento e abrigo.

Assim, a solução é eliminar o que mantêm os corrupins em ação, através de: boicote eleitoral, saneamento das dívidas públicas, ressarcimento aos cofres do país de todo ganho ilícito depositado em paraísos fiscais, inelegibilidade política, perda de pensões por atividade pública e julgamento de pessoa física e jurídica.

Entretanto, essa mazela tão antiga não será de uma hora para outra aniquilada. Trata-se de trabalho longo e árduo, individual e coletivo, no combate a essa espécie, que desagrega sumariamente a cadeia estrutural do país e lhe conduz ao descaminho do desenvolvimento.

Apesar das doses homeopáticas de medidas paliativas que vêm sendo empregadas ao longo do tempo, há de surgir uma fórmula ideal de ação rápida e satisfatória, para resolver essa endemia. Mas, para isso é preciso o empenho da sociedade brasileira no sentido de sanear o país, resgatando e exigindo a aplicação dos valores éticos e morais da cidadania, em prol do desenvolvimento sócio, político e econômico da nação.