segunda-feira, 11 de setembro de 2023

11/09... Qual o sentido da beligerância diante de tantas catástrofes socioambientais?


11/09... Qual o sentido da beligerância diante de tantas catástrofes socioambientais?

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Em pleno 11 de setembro, uma data que ficou marcada na história da humanidade em razão do ataque contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, em 2001, a grande pergunta que a humanidade deveria se fazer é: qual o sentido da beligerância diante de tantas catástrofes socioambientais?

Só na última semana o planeta passou por um terremoto no Chile, de 6.4° de magnitude 1. Um ciclone extratropical atingiu o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, trazendo chuvas torrenciais, inundações, destruição e mortes para a população local; bem como, deixando em alerta máximo os outros estados da região sul brasileira 2. Um terremoto no Marrocos, de 6.8° de magnitude, que até o momento fez mais de 2000 vítimas fatais e milhares de desabrigados e feridos 3.  E ontem, o vulcão Kilauea, no Havaí, entrou em erupção pela terceira vez no ano 4.

Pois é, nada disso a raça humana tem como controlar. Os eventos extremos do clima são consequências sim, das ações antrópicas; mas, isso não significa quaisquer possibilidades de evitar a sua ocorrência ou minimizar a sua extensão geográfica. Eles simplesmente acontecem. Impondo, em fração de minutos, uma destruição aterrorizante materializada por um volume incomensurável de perdas materiais, humanas e subjetivas.

Já passou da hora de entender que para a fome, a miséria, a ruína, a morte, a desolação, não é preciso aviões, tanques, canhões, drones, metralhadoras ou quaisquer outros artefatos. O próprio colapso do equilíbrio ambiental está sendo suficientemente capaz de construir esse cenário. Não adianta negar os fatos, negar a ciência, negar. A cada minuto nos aproximamos de ser a bola da vez a ser impactada pelos eventos extremos da natureza.

De modo que certos comportamentos, certas discussões, certas disputas no campo político ou geopolítico parecem totalmente non sense. Lamento, mas as narrativas impostas não convencem e a resistência à realidade se mostra, cada vez mais, diretamente proporcional às calamidades. O que torna grande parte das lideranças político-partidárias responsáveis diretamente pelos resultados nefastos desses acontecimentos.

Sim, porque ainda que seja fato a imprevisibilidade dos episódios, a geografia dos espaços urbanos permite visualizar as fragilidades e vulnerabilidades, para a construção de protocolos e a implementação de ações preventivas e mitigadoras. Deixou de ser uma necessidade para se transformar em urgência, a consolidação de novos paradigmas para a geografia das cidades, a fim de compreender os processos de produção desse espaço e as relações entre os indivíduos, esse meio e o atual panorama dos eventos ambientais extremos.

Particularmente, me causa um certo estranhamento perceber que, apesar de todos os acontecimentos terríveis e de todas as inovações científicas e tecnológicas, as quais trouxeram grandes e importantes contribuições para as análises preventivas em relação ao clima, as lideranças governamentais brasileiras, por exemplo, ainda não conseguiram estabelecer uma dialogia com essas informações que lhes permitisse construir um modelo de prevenção efetivamente robusto.

Não é à toa que o Brasil esteja repleto de escombros que se amontoam ao relento sem solução. Na iminência de um outro episódio que lhe coloque uma camada a mais. Isso sem contar as inúmeras famílias desalojadas, desamparadas, destituídas da sua dignidade humana e à mercê do adoecimento decorrente das conjunturas. Não apenas no que diz respeito à rede de saneamento básico afetada pela destruição; mas, pelo volume de resíduos sólidos e água contaminada presente nas ruas.

Ora, é importante que se diga, se os eventos ambientais extremos têm apresentado um padrão democrático para a sua área de abrangência, ainda sim, as parcelas menos favorecidas e privilegiadas da sociedade permanecem sendo as mais afetadas. Afinal de contas, elas quase sempre estão em áreas de risco, com menos acesso à infraestrutura básica.

No entanto, contrariando às expectativas, as lideranças governamentais brasileiras permanecem alheias ao que realmente exige suas responsabilidades constitucionais e humanitárias. Muito falatório. Muito midiatismo. Muito placebo. Porém, nenhuma ação que vá ao cerne do problema, como seria de se esperar. De modo que teima em perturbar a velha questão: E agora, José? 5.

Talvez, porque no mais profundo da alma pulse a certeza de uma inércia para esse tipo de problema. Como se houvesse sido dada carta branca para a natureza fazer o que intendesse por bem. Em contrapartida, no campo das beligerâncias, tudo permanece ativo, inflamado. O que faz crer que a vida não importa mais. Que não figuramos mais no rol das nossas próprias prioridades. Que o instinto de sobrevivência da espécie humana desapareceu. Simplesmente, porque nos esquecemos de que “A sobrevivência de um organismo depende da sobrevivência de um outro” (Charles Darwin).