11/09...
Qual o sentido da beligerância diante de tantas catástrofes socioambientais?
Por
Alessandra Leles Rocha
Em pleno 11 de setembro, uma data
que ficou marcada na história da humanidade em razão do ataque contra as torres
gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, em 2001, a grande pergunta que a
humanidade deveria se fazer é: qual o sentido da beligerância diante de tantas
catástrofes socioambientais?
Só na última semana o planeta
passou por um terremoto no Chile, de 6.4° de magnitude 1.
Um ciclone extratropical atingiu o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil,
trazendo chuvas torrenciais, inundações, destruição e mortes para a população
local; bem como, deixando em alerta máximo os outros estados da região sul
brasileira 2. Um terremoto no
Marrocos, de 6.8° de magnitude, que até o momento fez mais de 2000 vítimas
fatais e milhares de desabrigados e feridos 3. E ontem, o vulcão Kilauea, no Havaí, entrou
em erupção pela terceira vez no ano 4.
Pois é, nada disso a raça humana
tem como controlar. Os eventos extremos do clima são consequências sim, das
ações antrópicas; mas, isso não significa quaisquer possibilidades de evitar a
sua ocorrência ou minimizar a sua extensão geográfica. Eles simplesmente
acontecem. Impondo, em fração de minutos, uma destruição aterrorizante
materializada por um volume incomensurável de perdas materiais, humanas e
subjetivas.
Já passou da hora de entender que
para a fome, a miséria, a ruína, a morte, a desolação, não é preciso aviões, tanques,
canhões, drones, metralhadoras ou quaisquer outros artefatos. O próprio colapso
do equilíbrio ambiental está sendo suficientemente capaz de construir esse
cenário. Não adianta negar os fatos, negar a ciência, negar. A cada minuto nos
aproximamos de ser a bola da vez a ser impactada pelos eventos extremos da
natureza.
De modo que certos
comportamentos, certas discussões, certas disputas no campo político ou
geopolítico parecem totalmente non sense. Lamento, mas as narrativas
impostas não convencem e a resistência à realidade se mostra, cada vez mais,
diretamente proporcional às calamidades. O que torna grande parte das
lideranças político-partidárias responsáveis diretamente pelos resultados
nefastos desses acontecimentos.
Sim, porque ainda que seja fato a
imprevisibilidade dos episódios, a geografia dos espaços urbanos permite
visualizar as fragilidades e vulnerabilidades, para a construção de protocolos
e a implementação de ações preventivas e mitigadoras. Deixou de ser uma
necessidade para se transformar em urgência, a consolidação de novos paradigmas
para a geografia das cidades, a fim de compreender os processos de produção
desse espaço e as relações entre os indivíduos, esse meio e o atual panorama
dos eventos ambientais extremos.
Particularmente, me causa um
certo estranhamento perceber que, apesar de todos os acontecimentos terríveis e
de todas as inovações científicas e tecnológicas, as quais trouxeram grandes e
importantes contribuições para as análises preventivas em relação ao clima, as
lideranças governamentais brasileiras, por exemplo, ainda não conseguiram
estabelecer uma dialogia com essas informações que lhes permitisse construir um
modelo de prevenção efetivamente robusto.
Não é à toa que o Brasil esteja
repleto de escombros que se amontoam ao relento sem solução. Na iminência de um
outro episódio que lhe coloque uma camada a mais. Isso sem contar as inúmeras famílias
desalojadas, desamparadas, destituídas da sua dignidade humana e à mercê do
adoecimento decorrente das conjunturas. Não apenas no que diz respeito à rede
de saneamento básico afetada pela destruição; mas, pelo volume de resíduos
sólidos e água contaminada presente nas ruas.
Ora, é importante que se diga, se
os eventos ambientais extremos têm apresentado um padrão democrático para a sua
área de abrangência, ainda sim, as parcelas menos favorecidas e privilegiadas
da sociedade permanecem sendo as mais afetadas. Afinal de contas, elas quase
sempre estão em áreas de risco, com menos acesso à infraestrutura básica.
No entanto, contrariando às expectativas,
as lideranças governamentais brasileiras permanecem alheias ao que realmente
exige suas responsabilidades constitucionais e humanitárias. Muito falatório. Muito
midiatismo. Muito placebo. Porém, nenhuma ação que vá ao cerne do problema,
como seria de se esperar. De modo que teima em perturbar a velha questão: E
agora, José? 5.
Talvez, porque no mais profundo
da alma pulse a certeza de uma inércia para esse tipo de problema. Como se
houvesse sido dada carta branca para a natureza fazer o que intendesse por bem.
Em contrapartida, no campo das beligerâncias, tudo permanece ativo, inflamado. O
que faz crer que a vida não importa mais. Que não figuramos mais no rol das
nossas próprias prioridades. Que o instinto de sobrevivência da espécie humana desapareceu.
Simplesmente, porque nos esquecemos de que “A sobrevivência de um organismo
depende da sobrevivência de um outro” (Charles Darwin).
1 https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2023/09/06/terremoto-de-magnitude-64-e-atinge-o-chile.htm
2 https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2023/09/10/morte-no-rs-apos-passagem-de-ciclone.ghtml
4 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/09/10/vulcao-kilauea-entra-em-erupcao-pela-terceira-vez-no-ano-no-havai.ghtml
5 E agora, José? (1942) – Carlos Drummond de Andrade.