Aplausos,
só no final!
Por
Alessandra Leles Rocha
Muita calma! O julgamento de
inelegibilidade do ex-presidente da República pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) 1 é sim, uma resposta importante ao povo
brasileiro. No entanto, é imperioso ressaltar a sua incapacidade de responder
satisfatoriamente aos inúmeros ataques deflagrados contra a Democracia, o
Estado de Direito e as Instituições nacionais, ocorridos nos últimos anos no
país.
O Brasil, diante de sua população
e do mundo, assistiu a uma série de atos delituosos graves que não podem passar
impunes, mais uma vez. E isso não significa quaisquer vestígios de revanchismo.
Muito pelo contrário! Trazer à tona a responsabilização por todos os
acontecimentos de natureza nefasta ao país, aponta para um olhar amplo sobre muitos
personagens. Afinal, o ex-Presidente nunca esteve só na sua empreitada golpista,
como é de conhecimento público e notório.
Justamente, por isso, é que o
simples fato de ele vir a tornar-se inelegível já fez florescer, nos veículos de
informação e comunicação, as especulações em torno de quem o sucederia no
espectro da direita nacional, com todos os seus matizes mais ou menos radicais
e extremistas. Sinal de que todos os horrores e desmantelamentos, que se viu operacionalizar
pelas mãos do projeto político desse grupo, contam com a clemência da
impunidade. Em todas as expressões do seu silêncio, da sua inação, da sua
negligência, do seu corporativismo, ...
Aliás, distante de qualquer obra
do acaso, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), em curso no Congresso
Nacional, demonstram exatamente a estratégia do enviesamento
político-partidário para desqualificar a proposta investigativa de apuração dos
fatos e conduzir o processo à velha práxis do “acabar em pizza”. Muito bate-boca. Muito oposicionismo de ocasião.
Muito desrespeito. Muita superficialidade e omissão no trato dos trabalhos. Porque,
no fundo, ninguém ali quer se comprometer. Sobretudo, aqueles cujas digitais
estão presentes nas rotas dos assuntos discutidos.
Lamento, mas não dá para sentir
alívio e julgar encerrados os absurdos, apenas com o tal julgamento no TSE. O
Brasil foi subitamente tomado por figuras anticidadãs, terroristas, que se
encontravam, ao longo de décadas, escondidas nas sombras de um
pseudopatriotismo de fachada, garantido a peso de ouro pelo poder capital.
Afinal, pouco mais de 500 anos de história foi sim, capaz de consolidar na consciência
das elites, e de seus simpatizantes de estimação, um direito adquirido que não
pode ser de mais ninguém.
De modo que, agora, depois de se
sentirem legitimados para bradar aos quatro cantos, para fazer e acontecer nos
espaços da República, imagina que eles irão se dignar ao exercício de uma
autorreflexão que reconheça a Democracia, o Estado de Direito e as Instituições
como elementos fundamentais para o país! Essas pessoas estão tomadas por um inconformismo,
uma rebeldia, uma insubordinação, um descontentamento, ainda que tentem se disfarçar
como lobos em peles de cordeiro. O nível de tensão que as habita é tão profundo
que pelas palavras proferidas elas próprias se traem.
Engana-se completamente quem
acredita que a dicotomia nacional, na representação nós e eles, o bem e o mal,
a direita e a esquerda, é uma manifestação contemporânea. O Brasil dividido é o
espelho da gênese nacional. A história brasileira se dá pela separação entre os
importantes e os desimportantes. Daí a razão pela qual as desigualdades socioeconômicas
não terem sido superadas. Há um embate de forças e poderes totalmente desigual
nesse jogo, que nada tem a ver com o quantitativo numérico da população; mas,
com a distribuição na pirâmide social. E assim, consolidou-se no inconsciente
coletivo a velha máxima “manda quem pode
e obedece quem tem juízo”!
Por ironia do destino, talvez,
tenhamos sido colocados diante do mais importante ponto de inflexão para a
sociedade brasileira, no sentido de validar as diretrizes constitucionais, quanto
à igualdade e à equidade. As instâncias superiores da Justiça brasileira têm
nas mãos uma oportunidade única para provar que a lei, nesse país, é para todos.
Rompendo, de uma vez por todas, com o ranço histórico colonial que gestou
gerações e gerações marcadas pela brutalidade das desigualdades e que, hoje,
sustenta os comportamentos mais repugnantes manifestos pela direita nacional e
seus matizes; sobretudo, aqueles mais radicais e extremistas.
Surfando na onda contemporânea da
liberdade sem limite, essa gente impôs ao país um grau de insegurança e de
instabilidade jamais vistos, e que não pode ser premiado com a ausência da
devida responsabilização, no campo jurídico. Não é por falta de memória e, nem
tampouco, de provas, que se pode fazer vista grossa a respeito. Houve sim, uma
subversão completa da ética, da moral, da ordem, do progresso, das leis, para
satisfazer aos desejos e interesses do espectro político que estava no poder.
Mais de 700 mil mortes pela
COVID-19. Atraso e corrupção na compra de vacinas. Ameaças ao STF e seus ministros.
Gastos públicos injustificáveis. Isolamento diplomático. Presentes não
declarados. ... E inúmeras estratégias para deflagração de um Golpe de Estado. Acha
pouco? É isso o que respalda a necessidade de responsabilizar os protagonistas,
os coadjuvantes, os figurantes e o elenco de apoio, envolvidos em cada um
desses acontecimentos. Caso contrário, eles terão argumentos suficientes para não
só nutrir a sua fé incondicional na impunidade brasileira; mas, para retornar ávidos
ao ponto onde estavam.