terça-feira, 20 de junho de 2023

Aplausos, só no final!


Aplausos, só no final!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Muita calma! O julgamento de inelegibilidade do ex-presidente da República pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 1 é sim, uma resposta importante ao povo brasileiro. No entanto, é imperioso ressaltar a sua incapacidade de responder satisfatoriamente aos inúmeros ataques deflagrados contra a Democracia, o Estado de Direito e as Instituições nacionais, ocorridos nos últimos anos no país.

O Brasil, diante de sua população e do mundo, assistiu a uma série de atos delituosos graves que não podem passar impunes, mais uma vez. E isso não significa quaisquer vestígios de revanchismo. Muito pelo contrário! Trazer à tona a responsabilização por todos os acontecimentos de natureza nefasta ao país, aponta para um olhar amplo sobre muitos personagens. Afinal, o ex-Presidente nunca esteve só na sua empreitada golpista, como é de conhecimento público e notório.

Justamente, por isso, é que o simples fato de ele vir a tornar-se inelegível já fez florescer, nos veículos de informação e comunicação, as especulações em torno de quem o sucederia no espectro da direita nacional, com todos os seus matizes mais ou menos radicais e extremistas. Sinal de que todos os horrores e desmantelamentos, que se viu operacionalizar pelas mãos do projeto político desse grupo, contam com a clemência da impunidade. Em todas as expressões do seu silêncio, da sua inação, da sua negligência, do seu corporativismo, ...

Aliás, distante de qualquer obra do acaso, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), em curso no Congresso Nacional, demonstram exatamente a estratégia do enviesamento político-partidário para desqualificar a proposta investigativa de apuração dos fatos e conduzir o processo à velha práxis do “acabar em pizza”. Muito bate-boca. Muito oposicionismo de ocasião. Muito desrespeito. Muita superficialidade e omissão no trato dos trabalhos. Porque, no fundo, ninguém ali quer se comprometer. Sobretudo, aqueles cujas digitais estão presentes nas rotas dos assuntos discutidos.

Lamento, mas não dá para sentir alívio e julgar encerrados os absurdos, apenas com o tal julgamento no TSE. O Brasil foi subitamente tomado por figuras anticidadãs, terroristas, que se encontravam, ao longo de décadas, escondidas nas sombras de um pseudopatriotismo de fachada, garantido a peso de ouro pelo poder capital. Afinal, pouco mais de 500 anos de história foi sim, capaz de consolidar na consciência das elites, e de seus simpatizantes de estimação, um direito adquirido que não pode ser de mais ninguém.

De modo que, agora, depois de se sentirem legitimados para bradar aos quatro cantos, para fazer e acontecer nos espaços da República, imagina que eles irão se dignar ao exercício de uma autorreflexão que reconheça a Democracia, o Estado de Direito e as Instituições como elementos fundamentais para o país! Essas pessoas estão tomadas por um inconformismo, uma rebeldia, uma insubordinação, um descontentamento, ainda que tentem se disfarçar como lobos em peles de cordeiro. O nível de tensão que as habita é tão profundo que pelas palavras proferidas elas próprias se traem.

Engana-se completamente quem acredita que a dicotomia nacional, na representação nós e eles, o bem e o mal, a direita e a esquerda, é uma manifestação contemporânea. O Brasil dividido é o espelho da gênese nacional. A história brasileira se dá pela separação entre os importantes e os desimportantes. Daí a razão pela qual as desigualdades socioeconômicas não terem sido superadas. Há um embate de forças e poderes totalmente desigual nesse jogo, que nada tem a ver com o quantitativo numérico da população; mas, com a distribuição na pirâmide social. E assim, consolidou-se no inconsciente coletivo a velha máxima “manda quem pode e obedece quem tem juízo”!

Por ironia do destino, talvez, tenhamos sido colocados diante do mais importante ponto de inflexão para a sociedade brasileira, no sentido de validar as diretrizes constitucionais, quanto à igualdade e à equidade. As instâncias superiores da Justiça brasileira têm nas mãos uma oportunidade única para provar que a lei, nesse país, é para todos. Rompendo, de uma vez por todas, com o ranço histórico colonial que gestou gerações e gerações marcadas pela brutalidade das desigualdades e que, hoje, sustenta os comportamentos mais repugnantes manifestos pela direita nacional e seus matizes; sobretudo, aqueles mais radicais e extremistas.

Surfando na onda contemporânea da liberdade sem limite, essa gente impôs ao país um grau de insegurança e de instabilidade jamais vistos, e que não pode ser premiado com a ausência da devida responsabilização, no campo jurídico. Não é por falta de memória e, nem tampouco, de provas, que se pode fazer vista grossa a respeito. Houve sim, uma subversão completa da ética, da moral, da ordem, do progresso, das leis, para satisfazer aos desejos e interesses do espectro político que estava no poder.

Mais de 700 mil mortes pela COVID-19. Atraso e corrupção na compra de vacinas. Ameaças ao STF e seus ministros. Gastos públicos injustificáveis. Isolamento diplomático. Presentes não declarados. ... E inúmeras estratégias para deflagração de um Golpe de Estado. Acha pouco? É isso o que respalda a necessidade de responsabilizar os protagonistas, os coadjuvantes, os figurantes e o elenco de apoio, envolvidos em cada um desses acontecimentos. Caso contrário, eles terão argumentos suficientes para não só nutrir a sua fé incondicional na impunidade brasileira; mas, para retornar ávidos ao ponto onde estavam.