De
que lado a humanidade está???
Por
Alessandra Leles Rocha
Relembrando o que dizem as
Sagradas Escrituras, “Não se pode servir
a dois senhores” (Mateus 6:24). Mas, é exatamente isso o que aponta a
resistência em relação aos combustíveis fósseis, como se percebe na matéria “A corrida entre Brasil, China, EUA e países
da Europa para explorar ‘novo pré-sal’”1.
Algo que frustra profundamente as expectativas por um novo paradigma de
transição energética, no mundo, e a consolidação de práxis mais sustentáveis.
Acontece que essa é uma história
que em nenhum momento do seu curso se dignou a ponderar os prós e os contras. Foi
a ganância que moveu o mundo nessa direção. Mais precisamente, os interesses de
uma minoria em detrimento da maioria global. Portanto, é difícil para eles
admitir certas verdades e colocar em xeque a manutenção do seu status socioeconômico,
ainda que, desde a década de 70 já se saiba, por fontes seguras, que as
reservas de petróleo são finitas. O que, pelo menos em tese, significa que em
algum momento o mundo vai se deparar com a urgência de novas matrizes de
energia para atender às suas demandas.
Digo isso porque, talvez, nem
chegaremos a esse ponto. Ora, os combustíveis fósseis, em especial o petróleo,
que movem o mundo contemporâneo, o fazem sobre um rastro de impactos e degradações
bastante significativas. E são justamente estas que estão repercutindo nas
transformações das condições naturais do planeta, tornando-o cada vez menos
saudável e habitável para a população.
Algo que vai muito além da
quantidade expressiva de poluentes atmosféricos oriundos da queima desses combustíveis,
traduzida no que se chama de Efeito Estufa. Na verdade, a população humana já
convive com toneladas de plásticos, de diferentes tipos e densidades, cobrindo
vastas áreas oceânicas e terrestres, numa jornada praticamente impossível de
biodegradação.
Afinal, não é só a materialidade em
si dos resíduos plásticos o que preocupa; mas, o quanto ela contribui para a liberação
de partículas tóxicas na água, ou seja, os microplásticos. Além disso, tendo em
vista o volume de plástico produzido no planeta, quando se faz a opção pela
queima desse material promove-se a liberação de gases, também, extremamente
tóxicos, tais como dioxinas, furanos, mercúrio e bifenilos policlorados (PCB).
De modo que essa realidade
acrescida de todos os demais tipos de degradação ambiental – desmatamento, desertificação,
queimadas, exploração mineral criminosa, assoreamento dos rios, uso e ocupação
irregular do solo, ... – inviabiliza as condições da Terra, para que se faça
sentido as demandas dos combustíveis fósseis, no que diz respeito ao
desenvolvimento e ao progresso. O colapso da qualidade ambiental implica necessariamente
no colapso social, como ajuda a entender a matéria “Por que estamos perto de alta recorde nas temperaturas” 2. Aliás, recentemente os incêndios florestais
no Canadá deixaram Nova York coberta de cinzas e com a pior qualidade do ar no
mundo 3.
Todas essas considerações, então,
servem basicamente para mostrar que não se trata de uma birra ideológica contra
os pilares da produção global, como muitos tentam fazer parecer. O fato é que as
condições ambientais do planeta não só foram exauridas à revelia da sua
capacidade de recuperação, como expuseram os limites de tolerabilidade para a sobrevivência
humana. Na verdade, é a vida em todas as suas formas que está ameaçada
diariamente pela antropização. O que significa que quaisquer pretensões de
desenvolvimento e de progresso nessas conjunturas se tornam inviáveis.
Portanto, não adiantam eventos, fóruns,
debates, conferências que permaneçam sendo escritas sobre os mesmos rastros de
destruição. A eloquência dos discursos e das narrativas é totalmente inócua
diante da persistência das velhas práxis. O tempo dos prazos, dos limites, já
passou. A força dos impactos socioambientais não depende mais da confirmação técnico-científica;
pois, já se impõe pelos eventos extremos do clima arrasando os continentes. Os desequilíbrios
já estão instituídos, de modo que tudo agora gira em torno de mitigar desesperadamente
os processos danosos de reafirmação destrutiva.
Então, qual a razão de a
humanidade insistir nos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que, daqui e
dali, há milhares de peças publicitárias e matérias jornalísticas enaltecendo
os carros elétricos, por exemplo? De que lado estão os seres humanos? Quem
souber responder precisamente a essas perguntas que se manifeste. O mundo
anseia por respostas que façam sentido e, quem sabe, sinalizem novos caminhos dialógicos
de debate. Por enquanto, o que melhor traduz a realidade contemporânea, por incrível
que possa parecer, são as palavras de William Shakespeare de que “É uma infelicidade da época, que os doidos
guiem os cegos”.