sexta-feira, 19 de maio de 2023

A credibilidade ambiental brasileira em perigo


A credibilidade ambiental brasileira em perigo

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Que o atual governo brasileiro não se esqueça de que o apoio internacional recebido durante o pleito eleitoral, não se deveu apenas à defesa da Democracia global; mas, sobretudo, em defesa da Amazônia. Afinal, a grande floresta tropical, que ocupa 58,93% do território brasileiro, padeceu durante os últimos quatro anos com ataques destrutivos sistemáticos por meio de queimadas, desmatamento ilegal, invasões de terras indígenas, dizimação de indivíduos de diferentes etnias, exploração de ouro e outros metais de alto valor econômico, contaminação das águas por mercúrio e demais substâncias tóxicas e potencialmente letais.  

E como as florestas tropicais têm um papel importante na manutenção da vida no planeta, o que era para ser um problema nosso tornou-se um problema de todos e, portanto, um ponto de agregação de esforços, iniciativas, responsabilidades, parcerias e investimentos, os quais vêm sendo discutidos amiúde entre o governo brasileiro e grandes autoridades, através do papel fundamental da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que desfruta de profundo prestígio, credibilidade e respeitabilidade no cenário institucional e científico internacional.

Tanto que o Brasil já começa a computar investimentos estrangeiros para a Amazônia, em apenas 5 meses da atual gestão. Sinal de que vem sendo creditada ao Brasil a confiança no seu discurso em torno da Sustentabilidade Socioambiental, como alavanca primordial para o desenvolvimento de um novo viés econômico, ou seja, o da Economia Verde. O que no campo das relações diplomáticas e de comércio exterior é algo bastante sensível, demandando intensa vigilância e cuidados, para que as expectativas positivamente depositadas não sejam frustradas por atitudes eticamente intempestivas e irresponsáveis, como já se viu acontecer.  

Por isso, a decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em negar o pedido da Petrobrás para perfuração na bacia da foz do Amazonas 1, parece perfeitamente ajustada à narrativa que o atual governo brasileiro tem apresentado em diálogo diplomático pelo mundo. Além disso, desde a década de 70 que já se sabe da finitude das jazidas petrolíferas, no planeta, e da necessidade de planejar o desenvolvimento e o progresso a partir de novas matrizes energéticas; sobretudo, de energia limpa, tais como a eólica, solar e hídrica.

Mas, por força dos interesses capitais, esse processo de substituição energética veio caminhando a passos lentos, desde então, e sendo obstaculizado por um lobby selvagem, exercido pelos principais produtores e distribuidores do setor de petróleo, sobre os governos em todo o mundo, incluindo o Brasil. Até que, de repente, o que eram apenas prognósticos científicos em torno dos efeitos deletérios dos combustíveis fósseis sobre o planeta tonaram-se uma realidade avassaladora e fora de controle, com o recrudescimento de eventos extremos do clima.  Sim, a queima do petróleo e seus derivados é capaz de gerar emissões de gases do chamado Efeito Estufa – CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano), N2O (óxido nitroso), CFC (clorofluorcarbono) –, os quais geram uma camada que envolve a Terra e retém o calor do sol, aumentando significativamente as temperaturas.

Então, à revelia de práxis retrógradas e resistentes, mesas de negociação passaram a ser criadas para discutir e propor soluções para o problema, tendo em vista a iminência de um colapso socioambiental global. Um dos sinais mais recentes desse processo de desconstrução narrativa vem da midiática euforia com a produção automobilística de veículos movidos por eletricidade. Mas, não para por aí! Milhares de indústrias, em todo o planeta, já estão em fase de transição da utilização de energia fóssil, em seu sistema produtivo, para fontes renováveis de energia limpa (eólica, solar e hídrica). O que significa que esse é o caminho do progresso e do desenvolvimento do futuro; embora, até lá, a humanidade tenha que lidar com inúmeras consequências nocivas dos resíduos petrolíferos, como é o caso dos plásticos, por exemplo.

Infelizmente, a imensa maioria dos plásticos utilizados no cotidiano da humanidade resultam de polímeros formados principalmente por átomos de carbono obtidos de recursos naturais não renováveis, como é o caso do petróleo e seus derivados. De modo que para atender às demandas sociais eles configuram diferentes tipos, com características muito particulares, e isso torna a sua degradação, no meio ambiente, um processo que pode levar de 400 a 500 anos. Não é à toa que tantas ilhas de plástico flutuam nos oceanos e comprometem a qualidade da água, da (micro) fauna e da (micro) flora 2. Algo tão terrível que cientistas brasileiros já detectaram a formação de rochas de plástico 3, na ilha de Trindade, localizada a 1.140 km do litoral Atlântico.

Mas, independentemente dos plásticos ou quaisquer outros produtos produzidos a partir do petróleo, tanto o óleo in natura quanto seus derivados (gasolina, querosene, diesel, asfalto e outros), quando lançados inadvertidamente no ambiente causam danos irreparáveis. Só no Brasil, desde a década de 70, já foram inúmeros derramamentos petrolíferos no mar, ocasionado tragédias incalculáveis para a sustentabilidade socioambiental dos locais afetados 4. O pior é que, na maioria dos casos, os causadores não são devidamente responsabilizados e a mitigação dos impactos corre por conta da capacidade que a natureza expresse em fazê-la.

Quer saber? O Brasil cansa! Talvez seja esse o ultimato que o país precisa para se posicionar com clareza diante do mundo. Ou pretende ser voz ativa e protagonista da Sustentabilidade Socioambiental, ou permanece se rendendo aos humores retrógrados e negacionistas dos capitalistas selvagens de plantão. Em cima do muro não dá para ficar! Só posso dizer que se não quiserem incinerar de vez a credibilidade que lhes foi empenhada no círculo diplomático internacional, desde antes do resultado das eleições de 2022, melhor ser prudente, ético e técnico quando o assunto for o Meio Ambiente e, principalmente, a Amazônia. Depois de tantos fiascos recentes, em especial a tragédia humanitária com os Yanomamis, que ganhou as páginas dos veículos de comunicação e informação do mundo inteiro, é importante não nos permitirmos errar ou cometer mais quaisquer constrangimentos desnecessários nessa seara.