A
credibilidade ambiental brasileira em perigo
Por
Alessandra Leles Rocha
Que o atual governo brasileiro
não se esqueça de que o apoio internacional recebido durante o pleito
eleitoral, não se deveu apenas à defesa da Democracia global; mas, sobretudo,
em defesa da Amazônia. Afinal, a grande floresta tropical, que ocupa 58,93% do
território brasileiro, padeceu durante os últimos quatro anos com ataques destrutivos
sistemáticos por meio de queimadas, desmatamento ilegal, invasões de terras indígenas,
dizimação de indivíduos de diferentes etnias, exploração de ouro e outros
metais de alto valor econômico, contaminação das águas por mercúrio e demais substâncias
tóxicas e potencialmente letais.
E como as florestas tropicais têm
um papel importante na manutenção da vida no planeta, o que era para ser um
problema nosso tornou-se um problema de todos e, portanto, um ponto de
agregação de esforços, iniciativas, responsabilidades, parcerias e
investimentos, os quais vêm sendo discutidos amiúde entre o governo brasileiro
e grandes autoridades, através do papel fundamental da Ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, que desfruta de profundo prestígio, credibilidade e
respeitabilidade no cenário institucional e científico internacional.
Tanto que o Brasil já começa a
computar investimentos estrangeiros para a Amazônia, em apenas 5 meses da atual
gestão. Sinal de que vem sendo creditada ao Brasil a confiança no seu discurso
em torno da Sustentabilidade Socioambiental, como alavanca primordial para o
desenvolvimento de um novo viés econômico, ou seja, o da Economia Verde. O que
no campo das relações diplomáticas e de comércio exterior é algo bastante sensível,
demandando intensa vigilância e cuidados, para que as expectativas positivamente
depositadas não sejam frustradas por atitudes eticamente intempestivas e irresponsáveis,
como já se viu acontecer.
Por isso, a decisão do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em negar
o pedido da Petrobrás para perfuração na bacia da foz do Amazonas 1, parece perfeitamente ajustada à
narrativa que o atual governo brasileiro tem apresentado em diálogo diplomático
pelo mundo. Além disso, desde a década de 70 que já se sabe da finitude das
jazidas petrolíferas, no planeta, e da necessidade de planejar o
desenvolvimento e o progresso a partir de novas matrizes energéticas; sobretudo,
de energia limpa, tais como a eólica, solar e hídrica.
Mas, por força dos interesses
capitais, esse processo de substituição energética veio caminhando a passos lentos,
desde então, e sendo obstaculizado por um lobby
selvagem, exercido pelos principais produtores e distribuidores do setor de
petróleo, sobre os governos em todo o mundo, incluindo o Brasil. Até que, de
repente, o que eram apenas prognósticos científicos em torno dos efeitos deletérios
dos combustíveis fósseis sobre o planeta tonaram-se uma realidade avassaladora
e fora de controle, com o recrudescimento de eventos extremos do clima. Sim, a queima do petróleo e seus derivados é
capaz de gerar emissões de gases do chamado Efeito Estufa – CO2 (dióxido de
carbono), CH4 (metano), N2O (óxido nitroso), CFC (clorofluorcarbono) –, os
quais geram uma camada que envolve a Terra e retém o calor do sol, aumentando
significativamente as temperaturas.
Então, à revelia de práxis retrógradas
e resistentes, mesas de negociação passaram a ser criadas para discutir e
propor soluções para o problema, tendo em vista a iminência de um colapso socioambiental
global. Um dos sinais mais recentes desse processo de desconstrução narrativa vem
da midiática euforia com a produção automobilística de veículos movidos por
eletricidade. Mas, não para por aí! Milhares de indústrias, em todo o planeta,
já estão em fase de transição da utilização de energia fóssil, em seu sistema
produtivo, para fontes renováveis de energia limpa (eólica, solar e hídrica). O
que significa que esse é o caminho do progresso e do desenvolvimento do futuro;
embora, até lá, a humanidade tenha que lidar com inúmeras consequências nocivas
dos resíduos petrolíferos, como é o caso dos plásticos, por exemplo.
Infelizmente, a imensa maioria dos
plásticos utilizados no cotidiano da humanidade resultam de polímeros formados
principalmente por átomos de carbono obtidos de recursos naturais não
renováveis, como é o caso do petróleo e seus derivados. De modo que para
atender às demandas sociais eles configuram diferentes tipos, com características
muito particulares, e isso torna a sua degradação, no meio ambiente, um
processo que pode levar de 400 a 500 anos. Não é à toa que tantas ilhas de plástico
flutuam nos oceanos e comprometem a qualidade da água, da (micro) fauna e da (micro)
flora 2. Algo tão terrível que cientistas
brasileiros já detectaram a formação de rochas de plástico 3,
na ilha de Trindade, localizada a 1.140 km do litoral Atlântico.
Mas, independentemente dos plásticos
ou quaisquer outros produtos produzidos a partir do petróleo, tanto o óleo in natura quanto seus derivados
(gasolina, querosene, diesel, asfalto e outros), quando lançados
inadvertidamente no ambiente causam danos irreparáveis. Só no Brasil, desde a década
de 70, já foram inúmeros derramamentos petrolíferos no mar, ocasionado tragédias
incalculáveis para a sustentabilidade socioambiental dos locais afetados 4. O pior é que, na maioria dos casos, os
causadores não são devidamente responsabilizados e a mitigação dos impactos
corre por conta da capacidade que a natureza expresse em fazê-la.
Quer saber? O Brasil cansa! Talvez
seja esse o ultimato que o país precisa para se posicionar com clareza diante
do mundo. Ou pretende ser voz ativa e protagonista da Sustentabilidade
Socioambiental, ou permanece se rendendo aos humores retrógrados e
negacionistas dos capitalistas selvagens de plantão. Em cima do muro não dá
para ficar! Só posso dizer que se não quiserem incinerar de vez a credibilidade
que lhes foi empenhada no círculo diplomático internacional, desde antes do
resultado das eleições de 2022, melhor ser prudente, ético e técnico quando o
assunto for o Meio Ambiente e, principalmente, a Amazônia. Depois de tantos
fiascos recentes, em especial a tragédia humanitária com os Yanomamis, que ganhou
as páginas dos veículos de comunicação e informação do mundo inteiro, é
importante não nos permitirmos errar ou cometer mais quaisquer constrangimentos
desnecessários nessa seara.