terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Ação e reação. Vida e morte.


Ação e reação. Vida e morte.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

E assim é a vida. Os problemas não aguardam na fila pela sua vez de chegada. Tudo acontece junto e misturado, obrigando a ter jogo de cintura, ao mesmo tempo em que expõe as falhas e as fragilidades que não deveriam existir.

Mexe daqui, vira dali, e se não perceberam ainda, os maiores desafios do Brasil nesses dois primeiros meses do ano, orbitam a questão socioambiental. Yanomamis 1. Garimpo de ouro ilegal 2. Chuvas torrenciais 3. Uso e ocupação do solo 4. Sinal de que pensar o projeto de país com base na sustentabilidade não é equivocado, como persistem alguns afirmando por aí.

A dinâmica do cotidiano afeta e é afetado pelo Meio Ambiente. Daí a necessidade de criar uma relação harmônica e equilibrada. Mas, enquanto existirem pessoas acreditando que o direito maior é do ser humano, a situação vai descambar para o pior. Como se tem visto acontecer cada vez mais amiúde.

Embora esses sejam tempos de reconstrução de um país, que foi totalmente desmantelado na organização e no funcionamento das suas instituições, para servir a interesses nada republicanos e humanitários, a grande verdade, é que ele vive a sina de ser continuamente reconstruído.

Não entendeu? Ora, é simples. Na medida em que o Brasil é um notório desrespeitador das leis, das normas, tudo acaba sendo feito de qualquer jeito, meia boca, prevalecendo o que parece materialmente mais relevante na história.

Essa terra não costuma ser afeita ao planejamento, às concepções originais dos projetos, ao cumprimento estrito das obras, ao bom uso dos recursos, enfim. Fica sempre faltando alguma coisa. Há sempre um adendo aqui e outro ali. E aí, como já dizia o poeta português, Manuel Maria Barbosa du Bocage, “pior a emenda que o soneto”.

O país é uma potência em cronificar suas próprias mazelas. Nada é feito para resolver, ou no mínimo, mitigar. As ações são tomadas, muito mais, como instrumento midiático de visibilidade, de retórica vazia, de modo que no fundo, não dizem nada para coisa alguma. Talvez, por isso, vivemos de “Ais! ” e “Uis!” o tempo todo, dada a iminência dos sobressaltos que pesam sobre nossas cabeças.

E no caso específico das intempéries e das ações antrópicas produzidas contra o Meio Ambiente é preciso colocar as coisas na ordem certa das prioridades. Se elas têm um peso importante na deflagração dos infortúnios sociais, por outro lado, há de se reconhecer que elas encontram um cenário totalmente favorável para suas ações. O que subtrai qualquer possibilidade de isenção de responsabilidades por parte dos seres humanos.

A Natureza não age sob impulso. Ela age a partir da provocação que recebe. De modo que a forma, a intensidade, a velocidade, a periodicidade e a abrangência, que ela emprega nas suas atitudes está condicionada à reciprocidade do agravo por ela sofrido.

Por trás da imensa maioria das intempéries e das ações antrópicas estão as digitais humanas. Expressas pela poluição, pelo desmatamento, pelas queimadas, pela exploração indiscriminada dos recursos naturais, pelo uso abusivo de agentes químicos e potencialmente tóxicos, pelo mau uso e ocupação do solo, excesso de consumo e produção de resíduos.

Acontece que o tempo é implacável e vem demonstrando urgência na mudança de comportamentos e atitudes do ser humano. Há décadas se discute com bases científicas e tecnológicas a necessidade de uma nova ordem socioeconômica para o planeta, sob o risco da sua completa impossibilidade de sobrevivência.  

Clube de Roma (1968). Conferência de Estocolmo (1972). Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92), no Rio de Janeiro. Conferência das Partes – Protocolo de Kyoto (1995, Berlim), (1996, Genebra), (1997, Kyoto).   Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), em Johanesburgo. Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), no Rio de Janeiro.

Nesse sentido, por pior que seja admitir, a verdade é que a inação governamental e social em relação às questões ambientais está sim, contribuindo diretamente para a reafirmação da necropolítica, no Brasil. Na medida em que o “uso do poder político e social, especialmente por parte do Estado, de forma a determinar por meio de ações ou omissões (gerando condições de risco para alguns grupos ou setores da sociedade, em contextos de desigualdade, em zonas de exclusão e violência, em condições de vida precárias, por exemplo), quem pode permanecer vivo ou deve morrer” 5.

Diante dessa breve reflexão, só me resta concordar com o astrofísico Hubert Reeves, quando ele diz que “O homem é a mais insana das espécies. Adora um Deus invisível e mata uma natureza visível, sem perceber que a natureza que ele mata é esse Deus invisível que ele adora”.