segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Menos turismo. Mais fogo cruzado. Zero desenvolvimento.


Menos turismo. Mais fogo cruzado. Zero desenvolvimento.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Um dos maiores atributos brasileiros é o turismo. Seja no veio das extraordinárias belezas naturais. Seja no conjunto da diversidade multicultural. Seja nos museus e espaços de exibição artística. Seja na amplidão da expressão gastronômica. ... Fato é que o país desfruta dessa possibilidade de intercâmbio e geração de emprego e renda, como poucos ao redor do planeta. Entretanto, parece fazer pouco dessa graça, quando não cria uma atmosfera agradável e apropriada para a manutenção do seu desenvolvimento.

Pois é, foi exatamente no turismo nacional que eu pensei, quando me deparei com a notícia de que “Usando dispositivo remoto, homem planejou explosão sob caminhão com querosene” 1, em Brasília, DF. Porque a beligerância, seja qual for a sua forma de expressão, é sempre um prejuízo sócio, político e econômico, porque afasta o turista diante da ameaça da violência. Sem contar que, considerando os recentes impactos da pandemia sobre o mundo, não é nada inteligente eliminar quaisquer possibilidades de reconstrução das bases econômicas.

Mas o Brasil quer jogar contra o patrimônio! Quer esticar a corda e ver o circo pegar fogo! Isso explica porque, não raras às vezes, nossa fiscalização e aplicação da legislação é demasiadamente flexível e benevolente. Há sempre uma brecha aqui e outra acolá, para no caso de alguém que queira agir na contramão da legalidade, da justiça, da coletividade, poder fazê-lo sem empecilhos. Há uma reticência visível na sociedade brasileira quanto aos maus feitos, aos comportamentos anticidadãos, fazendo parecer que muitos têm receio de perder essa carta na manga.

Acontece que a cada precedente aberto, em nome da ilegalidade, do desrespeito, da anticidadania, da antidemocracia, agrava-se a situação 2. É fundamental dar o trato certo aos acontecimentos desde a primeira tentativa de encená-los, ou seja, cortar o mal pela raiz. Como dizia José Saramago, “A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada”. Mas, infelizmente é isso o que acontece no Brasil, há mais de 500 anos. O medo de quem pune hoje é o de poder ser punido amanhã.

Bem, na verdade, façamos um parêntese nessa alegação, porque ela não é 100% objetiva. Recapitulando nossa história colonial, nem tudo o que vale para alguns, vale para todos. Haja vista a pirâmide social que compõe o sistema carcerário brasileiro. O vale quanto pesa, que incide sobre as decisões da justiça, que favorece o uso dos recursos jurídicos, cria distorções visíveis na aplicação da lei. A tal ponto que, em muitos momentos, se tem a percepção clara de que ela infringe a isonomia descrita na Constituição Federal.

Então, quando a sociedade e as instituições se calam diante da beligerância, como vem acontecendo no país, uma tensão diplomática começa a se formar no âmbito do turismo, do comércio exterior, da diplomacia. Ao se mostrar incapaz de garantir a segurança, a tranquilidade e o bem-estar de seus próprios cidadãos, imagina em relação aos estrangeiros!

Muitos acreditam que esse é um cenário de caos, quando, na verdade, estamos diante de um gigantesco e histórico buraco negro, o qual vem sugando toda a energia, toda a criatividade, toda a singularidade, comprimindo tudo a tal ponto que se forme uma massa homogênea, disforme, sem identidade. O que explica o porquê dessa busca obstinada em desacreditar, em deslegitimar, não só pessoas ou governos, mas o país em si.

Esse buraco negro quer constituir um espaço idealizado, surreal, e totalmente sem luz. Por isso ele conduz o estado ao status de pária, ou seja, quando não consegue cumprir regras ou cooperações internacionais, expondo-o a severas sanções que retroalimentam a sua invisibilização. De acordo com as teorias de Stephen Hawking, “As grandes conquistas da humanidade foram obtidas conversando, e as grandes falhas pela falta de diálogo”. Assim...

O pior é que os atos antidemocráticos, anticidadãos, frutos de uma manipulação ideológica polarizada, que se acirraram mais precisamente nos últimos cinco anos, no Brasil, são um fenômeno global impresso pela ultradireita para tomar o poder. Portanto, não há quaisquer preocupações na sustentabilidade de suas ações, o que eles querem é o poder, o resto é resto. Daí não se ver traços de coesão entre eles, ou de coerência nos seus discursos e narrativas, ou de uma visão desenvolvimentista e progressista. Muito pelo contrário! É só grito, insanidade, radicalismo e violência.  

Não é à toa que essas pessoas pensam que “É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas” (José Saramago). O que explica porque “Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima” (Eleanor Roosevelt).

Para um país que é rico, mas se apresenta cada dia mais pobre e miserável, o Brasil deveria parar de tentar criar “chifres em cabeça de cavalo”! Segundo Isaac Asimov, “A violência é o último refúgio do incompetente”. No entanto, parece que já avançamos algumas casas nesse jogo e “O que está em causa não é a violência, é a crueldade. Violenta é toda a natureza. Para que eu coma o meu filé, tenho que matar um boi. Nós seres humanos, os tais seres racionais, inventamos a crueldade” (José Saramago). Algo que na ânsia de justificar o injustificável revela a obviedade de que os “Terroristas não saqueiam para possuir, nem matam para saquear. Matam para punir e purificar através do sangue” (Umberto Eco). Pense nisso!