Menos
turismo. Mais fogo cruzado. Zero desenvolvimento.
Por
Alessandra Leles Rocha
Um dos maiores atributos
brasileiros é o turismo. Seja no veio das extraordinárias belezas naturais. Seja
no conjunto da diversidade multicultural. Seja nos museus e espaços de exibição
artística. Seja na amplidão da expressão gastronômica. ... Fato é que o país
desfruta dessa possibilidade de intercâmbio e geração de emprego e renda, como
poucos ao redor do planeta. Entretanto, parece fazer pouco dessa graça, quando
não cria uma atmosfera agradável e apropriada para a manutenção do seu
desenvolvimento.
Pois é, foi exatamente no turismo
nacional que eu pensei, quando me deparei com a notícia de que “Usando dispositivo remoto, homem planejou
explosão sob caminhão com querosene” 1,
em Brasília, DF. Porque a beligerância, seja qual for a sua forma de expressão,
é sempre um prejuízo sócio, político e econômico, porque afasta o turista
diante da ameaça da violência. Sem contar que, considerando os recentes
impactos da pandemia sobre o mundo, não é nada inteligente eliminar quaisquer
possibilidades de reconstrução das bases econômicas.
Mas o Brasil quer jogar contra o patrimônio!
Quer esticar a corda e ver o circo pegar fogo! Isso explica porque, não raras às
vezes, nossa fiscalização e aplicação da legislação é demasiadamente flexível e
benevolente. Há sempre uma brecha aqui e outra acolá, para no caso de alguém
que queira agir na contramão da legalidade, da justiça, da coletividade, poder
fazê-lo sem empecilhos. Há uma reticência visível na sociedade brasileira
quanto aos maus feitos, aos comportamentos anticidadãos, fazendo parecer que muitos
têm receio de perder essa carta na manga.
Acontece que a cada precedente aberto,
em nome da ilegalidade, do desrespeito, da anticidadania, da antidemocracia, agrava-se
a situação 2. É fundamental dar o
trato certo aos acontecimentos desde a primeira tentativa de encená-los, ou
seja, cortar o mal pela raiz. Como dizia José Saramago, “A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça,
aparar-lhe as unhas não serve de nada”. Mas, infelizmente é isso o que
acontece no Brasil, há mais de 500 anos. O medo de quem pune hoje é o de poder
ser punido amanhã.
Bem, na verdade, façamos um parêntese
nessa alegação, porque ela não é 100% objetiva. Recapitulando nossa história colonial,
nem tudo o que vale para alguns, vale para todos. Haja vista a pirâmide social
que compõe o sistema carcerário brasileiro. O vale quanto pesa, que incide
sobre as decisões da justiça, que favorece o uso dos recursos jurídicos, cria
distorções visíveis na aplicação da lei. A tal ponto que, em muitos momentos,
se tem a percepção clara de que ela infringe a isonomia descrita na
Constituição Federal.
Então, quando a sociedade e as
instituições se calam diante da beligerância, como vem acontecendo no país, uma
tensão diplomática começa a se formar no âmbito do turismo, do comércio
exterior, da diplomacia. Ao se mostrar incapaz de garantir a segurança, a
tranquilidade e o bem-estar de seus próprios cidadãos, imagina em relação aos estrangeiros!
Muitos acreditam que esse é um cenário
de caos, quando, na verdade, estamos diante de um gigantesco e histórico buraco
negro, o qual vem sugando toda a energia, toda a criatividade, toda a singularidade,
comprimindo tudo a tal ponto que se forme uma massa homogênea, disforme, sem
identidade. O que explica o porquê dessa busca obstinada em desacreditar, em deslegitimar,
não só pessoas ou governos, mas o país em si.
Esse buraco negro quer constituir
um espaço idealizado, surreal, e totalmente sem luz. Por isso ele conduz o
estado ao status de pária, ou seja, quando não consegue cumprir regras ou
cooperações internacionais, expondo-o a severas sanções que retroalimentam a
sua invisibilização. De acordo com as teorias de Stephen Hawking, “As grandes conquistas da humanidade foram
obtidas conversando, e as grandes falhas pela falta de diálogo”. Assim...
O pior é que os atos
antidemocráticos, anticidadãos, frutos de uma manipulação ideológica polarizada,
que se acirraram mais precisamente nos últimos cinco anos, no Brasil, são um fenômeno
global impresso pela ultradireita para tomar o poder. Portanto, não há
quaisquer preocupações na sustentabilidade de suas ações, o que eles querem é o
poder, o resto é resto. Daí não se ver traços de coesão entre eles, ou de coerência
nos seus discursos e narrativas, ou de uma visão desenvolvimentista e
progressista. Muito pelo contrário! É só grito, insanidade, radicalismo e
violência.
Não é à toa que essas pessoas
pensam que “É mais fácil mobilizar os
homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre
foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de
conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz
para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas
as guerras foram declaradas” (José Saramago). O que explica porque “Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém
ganhará a próxima” (Eleanor Roosevelt).
Para um país que é rico, mas se
apresenta cada dia mais pobre e miserável, o Brasil deveria parar de tentar
criar “chifres em cabeça de cavalo”! Segundo
Isaac Asimov, “A violência é o último
refúgio do incompetente”. No entanto, parece que já avançamos algumas casas
nesse jogo e “O que está em causa não é a
violência, é a crueldade. Violenta é toda a natureza. Para que eu coma o meu
filé, tenho que matar um boi. Nós seres humanos, os tais seres racionais,
inventamos a crueldade” (José Saramago). Algo que na ânsia de justificar o
injustificável revela a obviedade de que os “Terroristas
não saqueiam para possuir, nem matam para saquear. Matam para punir e purificar
através do sangue” (Umberto Eco). Pense nisso!