quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Em breve: OS CAÇADORES DO DINHEIRO PERDIDO


Em breve: OS CAÇADORES DO DINHEIRO PERDIDO

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Bastava um pouco de atenção para perceber como o desmantelamento das instituições e serviços públicos nacionais, nos últimos quatro anos, deixaria o país na penúria. Mas, agora, com o trabalho da equipe de transição do governo recém e democraticamente eleito e os relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), a dimensão da catástrofe se mostra com mais realismo e precisão. A iminência do colapso funcional se encontra generalizada dentro dos mais diferentes setores da administração pública. Portanto, colocar a casa em ordem vai ser um desafio hercúleo!  

Entretanto, um ponto vem me incomodando nesse processo. Que os grandes montantes de investimento para cada uma das pastas governamentais estão temporariamente em suspenso, não é novidade. Mas, a escassez de recursos que movem as engrenagens funcionais, é daí que emerge o espanto. Como assim? Que descaminhos foram esses que levaram o serviço público a raspar seus cofres e não deixar sequer o essencial para as despesas básicas? Para quem não sabe, uma parte significativa do capital utilizado para a manutenção das atividades advém de taxas e serviços; bem como, de multas. De modo que se tem uma receita corrente na contabilidade de diversos setores, institutos e autarquias federais.

Assim, onde está todo esse dinheiro? Em que ele foi empregado? Quais os documentos que comprovam a sua movimentação? Tomando como exemplo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sabe-se que “até o fim de 2022, pelo menos 2.297 multas ambientais podem prescrever e o Estado brasileiro deixar de arrecadar cerca de R$298 milhões, segundo estimativa interna” 1 do referido órgão. O que significa que providências urgentes precisam ser tomadas a fim de ressarcir a administração pública desses prejuízos; bem como, proceder a punição dos responsáveis.

Para que se possa pensar em governança, em projetos, em desenvolvimento nacional, é elementar que as instituições estejam minimamente funcionais. Mas, a situação atual aponta para dificuldades em pagar aluguéis, em manutenções e abastecimento de veículos, em aquisição de equipamentos tecnológicos e materiais de escritório, em liberação de diárias para funcionários em serviço em outras localidades, em fornecimento de lanche para as equipes, enfim... A verdade é uma só, deixaram o serviço público sem possibilidades de realizar o seu trabalho, ou seja, atender as próprias demandas da população e do país.

Frente aos recentes diagnósticos da equipe de transição, os quais vêm sendo repassados através de coletivas de imprensa e divulgação nos veículos de informação e comunicação, nacionais e estrangeiros, espera-se que o próximo passo seja dar publicidade às ações que visem seguir a trilha desse dinheiro estranhamente desaparecido. Vejam que só em multas emitidas pelo IBAMA, o déficit chega a quase R$300 milhões! Imaginem no restante dos setores, institutos e autarquias federais ligados aos respectivos Ministérios! É como se deixassem a fatura salgada desse absurdo a quem pudesse interessar, num gesto claríssimo de retaliação por conta de eventuais oposições.

E para que o ônus não recaia absoluto sobre os ombros do cidadão, que é quem geralmente paga pelas irresponsabilidades e negligências do Estado, volto a dizer que providências urgentes precisam ser tomadas a fim de ressarcir a administração pública desses prejuízos; bem como, a punição dos responsáveis. É preciso romper com esse ciclo de má-fé que existe, há séculos, no Brasil, em que o governo pensa que pode fazer bonito com o chapéu dos outros. No entanto, nas atuais conjunturas parece pouco provável que existam cidadãos em quantidade suficiente para arcar com mais despesas, com mais tributos.

Dizia o jornalista Joelmir Beting que “No Brasil, fomos dopados pela cultura da abundância, irmã siamesa da cultura da ineficiência, da acomodação e da tolerância; responsável pelo nosso atávico desperdício de terra, de água, de mata, de energia, de sossego e de gente”. Pena, que ele não esteja mais entre nós, para ver que dessa vez chegamos ao fundo do poço. Pois é, o perdularismo crônico nos colocou em xeque-mate! Portanto, está na hora do FOLLOW THE MONEY (siga o dinheiro) entrar em ação! Correr atrás de cada caraminguá fugido, reaver nota por nota de real aos cofres públicos e assim, poder religar a máquina do Estado. Se a dilapidação aconteceu com método, com planejamento, deve-se aplicar a mesma prática para a recomposição dos recursos.