quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Gal... Eternamente Gal.


Gal... Eternamente Gal.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Era fundamental aguardar um pouco para que a notícia pudesse ser absorvida. No entanto, não há silêncio com a morte de Gal Costa, há música. Da melhor qualidade, com a maior excelência, com todo o talento que possa existir. Gal será para sempre um ícone da Música Popular Brasileira (MPB). Algo que materializa as palavras de João Guimarães Rosa, ao dizer que “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Bem, pensar assim, entender assim, dá um alento, uma paz para alma, tão fantástico que consegue verdadeiramente aquietar a tristeza. Talvez, porque consiga trazer a consciência do desapego do mundo, para o campo do apego bonito da subjetividade, onde as lembranças, as histórias, os fatos, nunca desbotam, nunca perdem a sua essência genuína.

Amo música de paixão. Sou um ser musical. Músicas marcam a minha vida de maneira muito intensa e importante.  E, por esse motivo, Gal Costa, é parte da minha história. Suas interpretações em canções como Festa do interior; Um dia de domingo; Modinha para Gabriela; Divino, maravilhoso; Chuva de Prata; Baby; Aquarela do Brasil; Força Estranha; Alguém me disse; Sonho meu; Folhetim; Brasil; jamais sairão da minha mente.

Primeiro, pela identidade única que ela imprime às canções. Segundo, pela capacidade indiscutível de capturar no meu inconsciente as emoções mais ímpares daquilo que se chama de memória afetiva. Momentos. Pessoas. Lugares. Comidas. Paisagens. Enfim... É pela voz de Gal Costa que essa magia vai sempre acontecer para mim, porque foi assim que o processo se deu.

Não vou pensar que ela não está fisicamente entre nós. Ela está em algo muito maior, muito mais esplendoroso. Ela está na essência da sua existência que é a arte. Pode-se dizer que Gal Costa era feita de silêncios, de sons, de beleza, de coragem, de ousadia, que juntos possibilitavam a tecitura de canções e de tantas opiniões.  Ela não passou em brancas nuvens! Tanto que ela afirmou, “Meu nome é Gal...”, como quem faz questão de não deixar dúvidas sobre si mesma.

Entendo que tudo aconteceu de repente e certas pessoas não deveriam partir. Por mais que não sejamos íntimos, não estejamos em contato direto e frequente, é natural que conservemos a ideia de tê-la ali, perto dos holofotes e das novidades musicais, indefinidamente. Mas, a vida não pensa assim e traz as pessoas para esse mundo com prazo de validade, com passagem de volta marcada.

E aí somos frustrados nas nossas idealizações! Quanto ineditismo ainda estava guardado na mente da Gal, hein? Quanto coisa linda e gostosa não estava por vir? Quantos shows? Quantas entrevistas? Ficamos, portanto, com um gosto amargo de quero mais. Saudosos de um desconhecido, com base naquilo que já conhecíamos tão bem. Coisas dessa vida maluca!

Talvez, o que podemos cravar com alguma certeza é que o céu está em festa. Um encontro de estrelas de primeira grandeza da música acontece imperceptível aos nossos olhos; mas, bem pertinho do nosso coração, dada a exuberância das energias que tendem a nos envolver de lá até aqui. Para quem acreditava que os pontinhos brilhantes na imensidão azul eram silenciosos, lamento a decepção. Não há silêncio, nem quietude, por lá. Há música. De gente. De anjos. De serafins. De querubins.