Ai,
os humores do mercado financeiro!
Por
Alessandra Leles Rocha
O surgimento das Fake News pelas mãos das mais inovadoras
ferramentas tecnológicas trouxe para a dinâmica das relações sociais contemporâneas
um prejuízo de proporções ainda subestimadas; mas, plenamente visível. E nesse
contexto, a beligerância instalada pelas guerras de narrativas, que tentam se
sobrepor, obriga um grau de consciência reflexiva cada vez maior por parte dos indivíduos.
Então, diante dos recentes
acontecimentos antidemocráticos que emergiram do pós pleito eleitoral, torna-se
oportuno pensar a esse respeito. Porque esse movimento não é socialmente
salutar, ele é tóxico, segregador, destrutivo, de tal maneira que ele impede o
fluxo natural do aprendizado humano, na medida em que ele se opõe radicalmente
a existência do contraditório. O que esse tipo de mentira, de inverdade, de
distorção da realidade, pretende é estabelecer uma homogeneização do
pensamento, a partir da validação, da legitimação de um único ponto de vista,
de uma única opinião.
E para se ter uma ideia concreta
a esse respeito basta ver o frisson
causado pela fala do Presidente da República eleito, na manhã de ontem, sobre
as perspectivas do seu governo em relação à Economia. Sob efeito multiplicador das
células da ultradireita nacional e seus matizes, os veículos de informação e
comunicação se puseram rapidamente a tentar enviesar as considerações do
Presidente, apontando o fato como um problema, um grave deslize. A opção clara
por desconsiderar que aquela figura enunciadora já havia sido devidamente submetida
ao escrutínio das urnas, da população e do mercado financeiro por duas vezes,
foi lamentável.
Aliás, desde que o Presidente
iniciou a sua caminhada para essa eleição, as Fake News e as guerras narrativas em torno da sua campanha político-partidária
estiveram sempre tentando aderi-lo aos episódios de corrupção durante seu período
de governança anterior; mas, particularmente, aos insucessos que existiram na
gestão da sua sucessora e companheira de partido. Como se fosse sua
responsabilidade responder por atos cometidos por outros, inclusive, em gestões
para as quais ele nem foi escolhido partícipe.
Ora, ele só poderia responder sobre
os sucessos e os insucessos da sua administração, dentro do período de 2003 a 2010.
E isso, os registros históricos podem facilmente ajudar, tanto do ponto de
vista nacional quanto internacional; pois, são públicos, não estão sob sigilo
de 100 anos. E no que diz respeito à Economia, as alegrias superaram em longe
as tristezas. Houve indiscutivelmente responsabilidade, previsibilidade,
estabilidade, apesar de toda a dedicação empenhada no campo das políticas
públicas sociais. O Brasil viveu tempos sem fome, sem grandes contingentes de
desempregados, sem inflação galopante, ... A tal ponto que muitos de seus programas
sociais foram premiados e copiados mundo afora.
Portanto, o frisson do mercado financeiro e da impressa foi puro chilique! Mesmo
porque, até 31 de dezembro, ainda há um governo vigente e muitas das repercussões
negativas na Bolsa de Valores é decorrente da sua própria falta de habilidade e
competência para conduzir satisfatoriamente os rumos da economia nacional, até lá.
Haja vista a situação do Orçamento para 2023 entregue pela atual administração
federal ao Congresso Nacional. Esse documento dá uma claríssima dimensão do que
foi o governo que se encerra. Um orçamento que deixa de fora as prioridades
constitucionais e faz malabarismos excêntricos para satisfazer supérfluos, é
sim, surpreendente!
Mas, não pretendo cometer
injustiça e me abster do fato de que tudo isso, também, é acrescido da mais
plena imprevisibilidade do cenário global; afinal, temos uma guerra em curso
promovida pela Rússia, demonstrações de força e beligerância pela Coreia do Norte,
enfim. Isso sem falar, nos mais de 2000 casos de cólera no Líbano e outros
tantos no Haiti, o aumento do número de casos das novas subvariantes da cepa ômicron
da COVID-19 na Europa, nos EUA e no Brasil, e os eventos extremos do clima,
cada vez mais aterrorizantes e devastadores. O que deixa claro como tem sido
complicado cravar com tanta exatidão e eficiência, como quer e exige o mercado,
qualquer previsibilidade econômica no planeta.
Apesar de que transitam, por aí,
certos doidivanas que desrespeitam as leis, as instituições, o bem-estar da
população, em nome da sua vaidade, da sua arrogância, da sua prepotência, eles
são minorias bastante pontuais. Depois de termos travado recentemente um embate
seríssimo em defesa da Democracia, no Brasil, que é o pilar maior do seu
desenvolvimento e do seu progresso, seria insano para qualquer um pensar que a
vitória seria marcada por uma gestão imprudente.
Sim, porque não atentaram apenas
contra um regime político, um sistema de governança, uma ideia do campo
político; mas, contra o próprio país, no que diz respeito as tentativas de
desmantelamento e desorganização das instituições. De certo modo, pode-se
entender o Brasil, deste momento, como uma terra arrasada pelas atitudes
vilipendiosas daqueles que estão, ainda, no poder, a qual precisa ser
recomposta, restaurada, recuperada para seguir adiante.
O mais interessante, diante dos últimos acontecimentos, é que lá fora, no cenário global, nem as palavras e nem a figura do Presidente da República eleito causam desconforto, incredulidade, insegurança; muito pelo contrário. Aguardam ansiosos por ele, pelo seu protagonismo, pela sua capacidade dialógica, pela continuidade do legado que ele constituiu até aqui. Portanto, é aqui dentro, na Terra Brasilis, que o frisson arde suas chamas fomentadas pelas correntes da ultradireita nacional e seus matizes. Que não querem um país melhor para não ter que dividi-lo com seus compatriotas, para não ter que romper com o ciclo histórico das desigualdades socioeconômicas. Entendeu agora???