Quem
diria! A negação venceu!
Por
Alessandra Leles Rocha
Será que o brasileiro realmente
não entende ou prefere fingir que não entendeu, hein? Uns e outros falando por
aí que os resultados dão conta do jogo político, que na democracia é mesmo
assim, me parece de um simplismo alienado sem tamanho. Não, não dá para
dissociar história de política.
O que vimos foi resultado sim, de
um ranço colonial que nos afeta a consciência e não permite ao país avançar,
evoluir. Muito pelo contrário, é algo para que ele permaneça sendo pequeno,
controlado pelas mãos de uma direita manipuladora, refém do pensamento ultrarretrógrado.
A eleição ou reeleição de certas figuras, depois desses quatro anos de intenso
desmantelamento do país, é afrontoso demais!
É preciso dar o nome certo para
as coisas, tratar o caso com a seriedade necessária. Não descobrimos nada! O Brasil
é que decidiu, em um dos piores momentos da sua história, revelar a sua
verdadeira face, para não deixar quaisquer rastros de dúvidas para ninguém. Ele
escolheu certos reprepresentantes para o Legislativo e para o Executivo que
jamais o representarão, que jamais colocarão os interesses nacionais acima de
seus próprios.
Lamento, mas é indigerível pensar
que depois de tudo o que aconteceu, nesses quatro anos, no país, houve quem
entregasse seu voto nas mãos de certas pessoas. Que abrisse mão da sua
dignidade dessa maneira! Nem se trata de estranhamento; mas, de uma profunda
perplexidade. Só posso supor que ao longo da história nacional, o brasileiro
acabou se tornando uma vítima crônica da Síndrome de Estocolmo 1, o que torna tudo ainda mais grave, pois
demonstra um desequilíbrio socioemocional e psicológico presente na sociedade.
O que explica porque as situações
são sempre analisadas de maneira dissociada, fragmentada, e depois justificadas
a partir de uma excessiva contemporização. O brasileiro, pelo menos em uma
significativa maioria, parece ter medo de se posicionar, de melindrar os
interesses do outro, de defender seus direitos, e fica tentando se equilibrar
em cima do muro, vestido por uma diplomacia de meia tigela, que o torna uma
figura extremamente caricata, uma representação bizarra do puxa-saco servil.
Então, não adianta que haja
pessoas, indivíduos conscientes e atentos em relação à cidadania, porque os
impactos desse comportamento nocivo e deletério afetam a todos, prejudicam a
todos. Se houve quem se colocasse contrário a escolha de certos pretensos
candidatos, no fim das contas, eles acabaram eleitos e continuarão a sina de
prestar o melhor desserviço possível ao país, promovendo mais e mais
constrangimentos; embora, talvez, nada disso incomode seus eleitores.
O quadro que se desenhou ontem
vai reverberar suas consequências por muito tempo. No entanto, perdeu-se todo e
qualquer direito de reclamar, de lamuriar, de xingar, de contestar. O voto referendou
os absurdos, os despautérios, as insanidades! O voto depositado voluntariamente
pelo cidadão. Que deveria ser instrumento de expressão transformadora foi
reduzido a um oneroso silêncio alienado.
Jamais a Terra foi tão plana! Ontem,
foi mesmo a vitória da negação, em todas as suas formas e conteúdos. Bem, como
escreveu José Saramago, “Por que foi que
cegamos? Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te
diga o que penso? Diz. Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que
veem. Cegos que, vendo, não veem”. O que significa que “A pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que
temos pela frente”, por isso, “Estamos
a destruir o planeta e o egoísmo de cada geração não se preocupa em perguntar
como é que vão viver os que virão depois. A única coisa que importa é o triunfo
do agora. É a isto que eu chamo a cegueira da Razão” (Ensaio sobre a Cegueira).
1 A Síndrome de Estocolmo é caracterizada por um estado psicológico de intimidação, violência ou abuso em que a vítima é submetida por seu agressor, porém, ao invés de repulsa, ela cria simpatia ou até mesmo um laço emocional forte de amizade ou amor por ele. Fonte: https://www.telavita.com.br/blog/sindrome-de-estocolmo/#:~:text=de%20Estocolmo%3A%20Tratamento-,O%20que%20%C3%A9%20S%C3%ADndrome%20de%20Estocolmo%3F,amizade%20ou%20amor%20por%20ele.