sábado, 10 de setembro de 2022

Sobre o silêncio dos bons


Sobre o silêncio dos bons

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Imagino que a maioria de vocês já deve ter lido essa citação de Martin Luther King Jr., “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Por isso, nada me parece mais indigesto do que as tendenciosidades enviesadas que se afirmam nessa eleição!

Parem de dizer que a polarização política é um fenômeno recente no Brasil! Não, esse movimento sempre existiu por aqui. O que temos, agora, é uma versão bastante piorada da violência política. Algo que ultrapassa as fronteiras da civilidade e da racionalidade para demonstrar todo o seu potencial de ignorância e de estupidez.

E, talvez, seja essa a razão pela qual se coloca de lado todos os problemas graves e reais para se debruçar em discussões especulativas baseadas em dados de pesquisas eleitorais. Vejam só, o tamanho do absurdo!

O país parou de funcionar como se estivesse hipnotizado por uma bola de cristal que tenta prever a eleição. Sem contar, que não percebe (ou finge que não percebe) que está se tornando refém de uma intimidação violenta que não encontra limites jurídicos e institucionais para lhe conter.

Se ninguém se deu conta, de tantas qualidades e virtudes brasileiras, o pacifismo de seu povo também desapareceu nesses últimos anos. Cedeu lugar para uma valentia que coloca em risco desnecessário milhares de pessoas, só para reafirmar os seus pseudopoderes, as suas pseudoinfluências, as suas pseudoideologias, enquanto desaprende a pensar, a refletir e a dialogar como um ser que foi dotado para tal.  

E o pesar não fica nisso! Se expande e se dissemina, quando se assiste de camarote a passividade retida pela arbitrariedade afrontosa que desrespeita as leis, os códigos, as doutrinas, os princípios, os valores, estabelecidos como parâmetro do senso coletivo. Há um silêncio ruidoso pairando sobre nós, causando um incômodo desgastante que não se extingue pela mais completa ausência de ação.

Fala-se muito sobre o que a história dirá, quais serão as percepções futuras das gerações a respeito desse momento. Mas, falam isso como se atribuíssem as culpas e as responsabilidades apenas a esses ou aqueles.

Acontece que não. Todos seremos julgados, seja por atos ou por omissões. Todos nós carregaremos nos ombros e na alma o peso da cruz de nossa própria negligência, irresponsabilidade e inação. Não há pretextos ou desculpas suficientes para nos isentar e nos absolver desse processo.

Então, não entendo, às vezes, como conseguem conviver com a manipulação, com a distorção da realidade. Isso é brutal, é perverso demais! Mahatma Gandhi dizia que “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”. Ele tinha razão!

Mas, as pessoas estão se abstendo desse senso para acreditar que, pelo fato de fazerem isso ou aquilo, não estão inertes, ou alheias, ou indiferentes; quando, de fato, sabem que estão sim. Quando tem plena consciência de serem protagonistas nesse gigantesco Efeito Borboleta 1 que vem acontecendo no país.

Estamos sendo, portanto, enredados a olhar as horas e os dias pela perspectiva do pleito eleitoral, da escolha de um candidato, da influência dessa ou daquela narrativa, do poder desse ou daquele estrato social, como se a vida estivesse condicionada ao recorte de dois de outubro.

E apesar de o antes e o depois estarem sendo invisibilizados, anulados, desconsiderados, nada disso altera o curso da história deles, ou seja, a vida e seus desdobramentos continuam acontecendo à revelia das pessoas prestarem ou não atenção a ela.

Entretanto, esse comportamento tem um preço muito alto. Será que estamos preparados? Será que podemos arcar com os custos? Será que há possibilidade de reparação? Segundo José Saramago, “Para que serve o arrependimento, se isso não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar”.

E esse me parece o ponto, será que queremos mudar? O desconforto parece tão confortável! O constrangimento parece tão suportável! O sofrimento parece tão tolerável! Enfim... E olhando para tudo isso, nunca pensei que o Brasil chegaria a esse ponto!

Se por um lado tudo parece colocado às claras, sem chance de interpretações equivocadas e distantes da realidade, por outro tem-se tempos brutalmente caóticos que rompem com a idealização de país cultivada há séculos.

É tudo muito contrastante nesse misto de razão e de sensibilidade, que não sei até quando conseguiremos girar nessa espiral insana. Há uma carência visível de terra firme para pousar nossos pés, nossos pensamentos, nossas demandas, como se a vida tivesse mesmo sido reduzida a uma corrente de águas profundas e agitadas.

Assim, mesmo absortos pelo caos angustiante desses tempos, prestemos atenção às seguintes palavras de Paulo Coelho, “Quando cresceres, descobrirás que já defendeste mentiras, enganaste-te a ti mesmo ou sofreste por tolices. Se és um bom guerreiro, não te culparás por isso, mas também não deixarás que teus erros se repitam”.

Desse modo, você tem a possibilidade de perceber e de entender que “No presente é que está o segredo; se você prestar atenção ao presente, poderá melhorá-lo. E se você melhorar o presente, o que acontecerá depois também será melhor” (Paulo Coelho – O Alquimista).