Sobre
o silêncio dos bons
Por
Alessandra Leles Rocha
Imagino que a maioria de vocês já
deve ter lido essa citação de Martin Luther King Jr., “O que me preocupa não é o
grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Por isso, nada me parece mais
indigesto do que as tendenciosidades enviesadas que se afirmam nessa eleição!
Parem de dizer que a polarização
política é um fenômeno recente no Brasil! Não, esse movimento sempre existiu
por aqui. O que temos, agora, é uma versão bastante piorada da violência política.
Algo que ultrapassa as fronteiras da civilidade e da racionalidade para
demonstrar todo o seu potencial de ignorância e de estupidez.
E, talvez, seja essa a razão pela
qual se coloca de lado todos os problemas graves e reais para se debruçar em
discussões especulativas baseadas em dados de pesquisas eleitorais. Vejam só, o
tamanho do absurdo!
O país parou de funcionar como se
estivesse hipnotizado por uma bola de cristal que tenta prever a eleição. Sem contar,
que não percebe (ou finge que não percebe) que está se tornando refém de uma
intimidação violenta que não encontra limites jurídicos e institucionais para
lhe conter.
Se ninguém se deu conta, de tantas
qualidades e virtudes brasileiras, o pacifismo de seu povo também desapareceu
nesses últimos anos. Cedeu lugar para uma valentia que coloca em risco
desnecessário milhares de pessoas, só para reafirmar os seus pseudopoderes, as
suas pseudoinfluências, as suas pseudoideologias, enquanto desaprende a pensar,
a refletir e a dialogar como um ser que foi dotado para tal.
E o pesar não fica nisso! Se expande
e se dissemina, quando se assiste de camarote a passividade retida pela
arbitrariedade afrontosa que desrespeita as leis, os códigos, as doutrinas, os princípios,
os valores, estabelecidos como parâmetro do senso coletivo. Há um silêncio ruidoso
pairando sobre nós, causando um incômodo desgastante que não se extingue pela
mais completa ausência de ação.
Fala-se muito sobre o que a
história dirá, quais serão as percepções futuras das gerações a respeito desse
momento. Mas, falam isso como se atribuíssem as culpas e as responsabilidades
apenas a esses ou aqueles.
Acontece que não. Todos seremos
julgados, seja por atos ou por omissões. Todos nós carregaremos nos ombros e na
alma o peso da cruz de nossa própria negligência, irresponsabilidade e inação. Não
há pretextos ou desculpas suficientes para nos isentar e nos absolver desse processo.
Então, não entendo, às vezes, como
conseguem conviver com a manipulação, com a distorção da realidade. Isso é
brutal, é perverso demais! Mahatma Gandhi dizia que “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está
ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”. Ele tinha
razão!
Mas, as pessoas estão se abstendo
desse senso para acreditar que, pelo fato de fazerem isso ou aquilo, não estão
inertes, ou alheias, ou indiferentes; quando, de fato, sabem que estão sim. Quando
tem plena consciência de serem protagonistas nesse gigantesco Efeito Borboleta 1 que vem acontecendo no país.
Estamos sendo, portanto,
enredados a olhar as horas e os dias pela perspectiva do pleito eleitoral, da
escolha de um candidato, da influência dessa ou daquela narrativa, do poder
desse ou daquele estrato social, como se a vida estivesse condicionada ao
recorte de dois de outubro.
E apesar de o antes e o depois
estarem sendo invisibilizados, anulados, desconsiderados, nada disso altera o
curso da história deles, ou seja, a vida e seus desdobramentos continuam
acontecendo à revelia das pessoas prestarem ou não atenção a ela.
Entretanto, esse comportamento
tem um preço muito alto. Será que estamos preparados? Será que podemos arcar
com os custos? Será que há possibilidade de reparação? Segundo José Saramago, “Para que serve o arrependimento, se isso
não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar”.
E esse me parece o ponto, será
que queremos mudar? O desconforto parece tão confortável! O constrangimento
parece tão suportável! O sofrimento parece tão tolerável! Enfim... E olhando
para tudo isso, nunca pensei que o Brasil chegaria a esse ponto!
Se por um lado tudo parece
colocado às claras, sem chance de interpretações equivocadas e distantes da
realidade, por outro tem-se tempos brutalmente caóticos que rompem com a
idealização de país cultivada há séculos.
É tudo muito contrastante nesse
misto de razão e de sensibilidade, que não sei até quando conseguiremos girar
nessa espiral insana. Há uma carência visível de terra firme para pousar nossos
pés, nossos pensamentos, nossas demandas, como se a vida tivesse mesmo sido
reduzida a uma corrente de águas profundas e agitadas.
Assim, mesmo absortos pelo caos
angustiante desses tempos, prestemos atenção às seguintes palavras de Paulo
Coelho, “Quando cresceres, descobrirás
que já defendeste mentiras, enganaste-te a ti mesmo ou sofreste por tolices. Se
és um bom guerreiro, não te culparás por isso, mas também não deixarás que teus
erros se repitam”.
Desse modo, você tem a
possibilidade de perceber e de entender que “No
presente é que está o segredo; se você prestar atenção ao presente, poderá
melhorá-lo. E se você melhorar o presente, o que acontecerá depois também será
melhor” (Paulo Coelho – O Alquimista).