E
aí, o extremo radicalismo compensa?
Por
Alessandra Leles Rocha
11 de setembro 1 ficou mesmo uma data marcada na
história mundial, sob o ponto de vista de uma reflexão profunda a se fazer em termos
dos extremismos e dos excessos de confiança e convicção que se tem. O que aconteceu
naquele dia fatídico provou de maneira cabal o perigo que se corre não lendo as
linhas e as entrelinhas da realidade, pelo simples capricho de se manter
isolado em uma bolha de perspectivas idealizadas.
Depois de duas décadas, o planeta
foi palco de muitos acontecimentos importantes, de muitas surpresas indigestas;
mas, talvez, o que mais me chame atenção nesse processo foi o fato de que os
extremismos, os radicalismos, saíram do protagonismo de certas correntes ideológicas
do Islã, predominantemente situadas no oriente, para cair nas graças de outras
correntes ideológicas, como as de direita, por exemplo, se disseminando pelo
ocidente.
Neste contexto, é importante
ressaltar que há uma pequena diferença que não pode ser desconsiderada nesse
movimento. O extremismo radical ligado ao Islã tem como objetivo principal das
suas ações a defesa da sua ideologia religiosa, tendo em vista de que Estado e
religião se fundem a partir do livro sagrado, o Alcorão. No caso, do extremismo
radical que se espalha no ocidente, a ideologia deixa de ser um objetivo para
ser instrumento de acesso e consolidação de poder. Seja este político, econômico
e/ou sociocultural.
No entanto, no fundo o extremo
radicalismo não tem pátria, não tem bandeira. Ele é fruto da barbárie humana,
do primitivismo que nunca nos abandonou. Seja em nome de Allah ou de qualquer outra
figura mítica, as suas práticas têm como ponto de convergências as mesmas
práxis, ou seja, os mesmos caminhos de violência, de disseminação do medo e do
terror, de alienação ideológica no que diz respeito ao conservadorismo e as
pautas de costume, que buscam culminar na consolidação de poderes e influências.
De modo que as narrativas construídas
em torno das facções extremistas do oriente foram se esgarçando lentamente nos
veículos de comunicação e de informação. Mesmo a retomada do Talibã no controle
do Afeganistão, em 2021, por exemplo, foi capaz de mobilizar maciçamente a
imprensa no contexto de narrativas pesadamente condenatórias em relação ao seu já
conhecido extremo radicalismo.
As notícias foram dadas, os
acontecimentos retratados; mas, é possível perceber que elas não tomaram um
contínuo protagonismo das manchetes, como se viu acontecer durante muitas
décadas. Afinal de contas, poderia esse grupo ser alçado à condição de bode expiatório
contemporâneo, diante de tantos outros episódios de extremo radicalismo
acontecendo ao redor do planeta? Haja vista a invasão do Capitólio, nos EUA, em
janeiro de 2021, e a recente invasão da Ucrânia pelos russos, em fevereiro de
2022.
Acontece que se por um lado o
planeta passa a se mostrar como um campo minado, que ao menor descuido de
alguém ele pode explodir, por outro as condições favoráveis para certas
alianças que favoreçam ao extremismo radical acontecer tornam-se menores,
diante do cenário plural de defensores do terrorismo. É o peso da lei da oferta
e da procura! A heterogenia das células terroristas, considerando a diversidade
e a particularidade das demandas, torna difícil encontrar um denominador comum
para elas e, nesse sentido, consolidar alianças se torna mais desgastante e
complexo.
Sem contar o próprio movimento
conjuntural delineado a partir de uma pandemia que ainda não chegou ao fim. O
desenho geopolítico do mundo, com todos os seus desafios, sejam eles naturais
ou não, foi abruptamente desfeito. Tanto que os resultados das consequências
desses quase três anos apontam para um processo de reconstrução global desigual
e parcial no contexto dos mais diferentes campos sociais. As desigualdades se
aprofundaram de uma maneira apocalíptica para diversos países.
De modo que eventuais
manifestações de extremo radicalismo não parecem encontrar terreno fértil para
se consolidarem. A gravidade atual não aponta para qualquer disposição ou tolerância
internacional para enfrentar eventuais episódios terroristas, onde quer que
aconteçam. Não é à toa que as discussões globais em torno dos princípios democráticos
vêm se intensificando, inclusive, como uma sinalização de advertência a todos
aqueles que se comprazem no extremo radicalismo.
Se as conjunturas atuais já
parecem demasiadamente desafiadoras, imagine com um cenário ainda mais
turbulento e beligerante? Os extremismos, os radicalismos, no fundo, têm um
traço de vaidade misturado a uma total inconsequência. Basta olhar os caminhos
por onde essas facções transitam para perceber o rastro de atraso, de miséria e
de declínio a se abater sobre as populações. Afinal, suas ações não estão
fundamentadas em competências, em conhecimentos, em nada. No fim das contas, tudo
gira em torno do poder pelo poder, e só.
Acontece que esse cenário não
fica restrito aos limites da sua própria geografia. Em nome da sobrevivência, legiões
de seres humanos se deslocam para outros lugares. Aliás, é preciso esclarecer
que “Dizemos ‘refugiados’ quando nos
referimos a pessoas que fugiram da guerra ou perseguição e cruzaram uma
fronteira internacional. E dizemos ‘migrantes’ quando nos referimos a pessoas
que se deslocaram por razões que não se encaixam na definição legal de
refugiado” (Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR) 2.
Portanto, os problemas começam a
adquirir novas proporções em um mundo já bastante impactado pelos efeitos
daquilo que é previsível e do que é imprevisível. Demandando esforços ainda
maiores e mais efetivos para, no mínimo, mitigar os impactos e garantir dignidade
e acesso aos direitos humanos fundamentais.
A pergunta a se fazer, então, é:
o extremo radicalismo compensa? Apoiá-lo de algum modo trará resultados
positivos? A presença dele no mundo o tornou um lugar melhor para se viver?
Quais foram os lucros que você obteve na sua vida a partir dele? Pense e depois
responda para você mesmo. Afinal, o mundo está sempre na iminência de um Efeito
Dominó 3 que certamente vai atingir a mim, a
você, ... à revelia de nossos queres e vontades; embora, consequência da nossa
ação ou inação.