segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Quando a bolha estourar...


Quando a bolha estourar...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O Brasil não é uma bolha! Ainda que alguns candidatos queiram insistir em promessas vãs 1 que não têm a menor possibilidade de sair do discurso para a prática, considerando o cenário econômico nacional 2. Sem contar o fato de que o encerramento do ciclo Elizabetano no Reino Unido já cena com novas turbulências na geopolítica global, acirrando os desafios em se colocar o desenvolvimento e o progresso nos trilhos.

Por isso, é cada dia mais frustrante perceber o despreparo que reinou no país nesses últimos quatro anos. Sim, porque foi o mais absoluto despreparo! Desmantelar as estruturas sem quaisquer planejamentos sobre o que viria a substituí-las ou a reformulá-las, foi de um amadorismo total! É certo de que essa era mesmo a ideia; mas, isso lançou o país a uma necessidade de reconstrução completa.

Acontece que o panorama adiante não é nada acolhedor, na medida em que o rastro de lambanças econômicas está pelo caminho, em meio a uma pulsante falta de recursos, e o peso da falta de credibilidade internacional acena com múltiplas resistências no mercado. O cobertor está cada vez mais curto! E os calotes, sob o nome de contingenciamentos ou remanejamentos, criam a falsa ilusão de medidas resolutivas para essa avalanche de constrangimentos.

Parece que o Brasil não aprendeu absolutamente nada com a pandemia, quando foi pego de surpresa e viu a realidade ruir diante dos seus olhos. Tudo continua a ser idealizado dentro de uma perspectiva totalmente desalinhada aos cenários conjunturais, expondo o país a riscos cada vez maiores de ser impactado por novas ações do imponderável. Estamos tão absortos, olhando só para o próprio umbigo, que nos esquecemos de ser parte de um contexto globalizado. Olhar para a movimentação do mundo é imprescindível, não é uma questão de escolha!

Mas, quem se lembra disso? O projeto de lei encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional, com a proposta de orçamento para 2023, prevê um déficit de R$63,7 bilhões para as despesas, sem levar em conta o pagamento de juros da dívida pública 3. De modo que o país precisaria contar com um cenário de total estabilidade dentro e fora das suas fronteiras, para tentar mitigar os efeitos desse desastre econômico. E quem pode cravar algo dessa natureza, hein?!

Pois é. Todos os dias o cidadão brasileiro acorda impactado por uma nova promessa de campanha do atual do governo, que tenta a reeleição, como um mágico que não se cansa de retirar coelhos da cartola. Só que esse truque de mágica tem preço e quem acaba pagando a conta da brincadeira é o próprio cidadão. Seja por meio de tributos. Seja por meio de cortes de políticas públicas. Seja pelo baixo desenvolvimento do país. Mas, que ele paga essa conta, ele paga!

De modo que esse caminho significa que estamos em rota de colisão. Colisão para o aprofundamento das nossas desigualdades, das nossas insuficiências, das nossas crises socioeconômicas. Sem ânimo para continuar acreditando no potencial de desenvolvimento e de progresso, dada a demonstração explícita da falta de planejamento, de conhecimento e de organização para levar o país adiante.

O resultado de terra arrasada é a síntese de que, no fim das contas, a política econômica idealizada pela atual gestão não conseguiu atender nem a gregos e nem a troianos! O panorama que se desenha no horizonte esteve longe de satisfazer aos interesses da elite, que acreditou na perspectiva de sucesso para suas demandas e por isso apoiou o atual governo; bem como, das demais camadas do estrato social, que foram duramente punidas e massacradas pelo desarranjo das políticas públicas.

O Brasil não avançou. O Brasil não superou seus desafios, inclusive, aqueles que já eram crônicos. O Brasil esgarçou seu discurso de protagonista e se resignou ao papel de mero figurante. Nenhum passo à frente; mas, muitos passos para trás. Sempre inventando desculpas, pretextos, narrativas, para desviar o foco e não admitir os erros, os equívocos, os enganos, os absurdos mais imperdoáveis. Fomos imobilizados pela nossa própria inação!

Que não reste mais dúvidas, o mundo real não cabe numa bolha! O Brasil não cabe numa bolha! Bolhas são frágeis, estouram. Bolhas não permitem respirar nem transcender. Bolhas limitam a capacidade de enxergar.  Dentro delas não se caminha adiante. É sempre mais do mesmo. Até que um dia todo o oxigênio tenha sido consumido e a vida começa a fenecer, sem que tenha realizado grandes feitos, construído um belo legado. Apenas acaba. De maneira melancólica e dramática. Como algo que foi sem nunca ter sido.