quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Prestes a explodir???


Prestes a explodir???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Lamento, mas não há lógica capaz de sustentar os delírios daqueles que saltam na borda da Terra Plana. Basta passar os olhos pelos veículos de informação e comunicação! O mundo está a um peteleco de explodir belicosamente 1, enquanto o Brasil ao invés de raciocinar pragmaticamente, a fim de minimizar os prejuízos, se dá ao luxo de fazer bobagens em cima de bobagens.

É caro (a) leitor (a), o que acontece no mundo nos afeta! Somos um país e não um planeta que vive disperso na imensidão azul! E como a história já nos contou por diversas vezes, quando os atritos e as rusgas começam a se intensificar além do nosso quintal, sempre sobra uma quirela robusta de problemas para capturar a nossa atenção.

Ainda mais, em tempos nos quais nos permitimos perder algum protagonismo internacional. Afinal, quem somos nós na fila do pão? Uns zeros à esquerda, que estão brincando de fazer confusão para não assumir as grandes responsabilidades que teimam em existir. Só que o mundo não anda lá, com muita paciência para esse tipo infantilizado e ridículo de comportamento.

E nem adianta apontar exageros nessa percepção, tomando por base justificativas cunhadas sobre dados estatísticos colhidos às vésperas de um pleito eleitoral conturbado, que criam a ilusão de um país estável e equilibrado minimamente.

Simplesmente, porque elas não passam de engodo volátil que vai sumir no horizonte antes que as doze badaladas de 31 de dezembro se findem. Depois disso, o Brasil que vinha se equilibrando na corda bamba até aqui, terá o desafio de, entre mil e um malabarismos, não despencar ao chão.  

Então, onde está a graça? Onde estão as razões dos aplausos? Que “respeitável público” é esse que dá vida para um espetáculo non sense de quinta categoria? Diz com propriedade o provérbio espanhol, “quando você vir as barbas do seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”.

E é exatamente isso que o Brasil deveria estar se preocupando fazer. Mitigar impactos, evitar contratempos, provisionar recursos, planejar alternativas, ...

Mas, não. Parece que só pensa em “causar”. Causar vergonha. Causar desequilíbrio. Causar prejuízos. Causar mal-estar. Causar... O que paira no ar que, talvez, o Brasil nunca tenha querido de fato ser protagonista de nada, nem da sua própria história.

E por isso, fazer ou não fazer lhe parece sempre a mesma medida, não faz diferença. Dando-lhe, então, a permissão de devanear à vontade, de exercer a inação com propriedade, de acreditar que nada melhor do que “cada um por si e Deus por todos”.

Assim, vamos tropeçando amiúde em manchetes como essas. “Câmara aprova medida provisória que retira recursos de pesquisa para renovar frota” 2. “Mercado espera nova elevação de 0,5 ponto percentual na taxa Selic” 3.

Exibições, a conta-gotas, do desprezo que o país tem por si mesmo, em todas as suas instâncias. Que vive em voo cego; mas, nega terminantemente admitir.

No entanto, diante de tudo isso, deveríamos nos curvar e dizer “Só sei que nada sei”4. Ora, é por excesso de certezas que o país está se afundando em um mar de absurdos. Certezas que não têm quaisquer fundamentações, no mínimo, razoáveis.

Como se a vida pudesse ser analisada sob a perspectiva de uma perfeição absoluta. Sem sobressaltos. Sem surpresas. Sem contestações.

No entanto, isso é negar o óbvio. E a vida não é coisa que se negue. Vida se vive, se sente, por mais delirante que se permita ser. Porque ela está imersa nas engrenagens que movem todas as aventuras e as desventuras do dia a dia.

Não anda em linha reta. Não vive de atalhos. É o que é. Como dizia João Guimarães Rosa, “O real não está no início nem no fim, ele se mostra para gente é no meio da travessia” (Grande Sertão: Veredas).

Pena, que o Brasil não se deu conta disso! Pena, que vive a apostar alto na sorte! Com os olhos fixos na sua roleta imaginária. Com as mãos suando frio pela expectativa do resultado que almeja os seus desvarios. Mesmo sabendo, de antemão, que se der errado é nessas práxis que ele vai continuar se fiando.

E isso é o que vem nos colocando, mais e mais, diante da certeza de que “O ser humano é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer que seja a sua condição. Você pode ser rico ou pobre, mas os problemas que afetam verdadeiramente o ser humano são os mesmos” (Ariano Suassuna). Daí a necessidade de entender que “é preciso saber escolher as próprias ignorâncias” (Manuel Bandeira).