Prestes
a explodir???
Por
Alessandra Leles Rocha
Lamento, mas não há lógica capaz
de sustentar os delírios daqueles que saltam na borda da Terra Plana. Basta passar
os olhos pelos veículos de informação e comunicação! O mundo está a um peteleco
de explodir belicosamente 1, enquanto
o Brasil ao invés de raciocinar pragmaticamente, a fim de minimizar os prejuízos,
se dá ao luxo de fazer bobagens em cima de bobagens.
É caro (a) leitor (a), o que
acontece no mundo nos afeta! Somos um país e não um planeta que vive disperso
na imensidão azul! E como a história já nos contou por diversas vezes, quando
os atritos e as rusgas começam a se intensificar além do nosso quintal, sempre
sobra uma quirela robusta de problemas para capturar a nossa atenção.
Ainda mais, em tempos nos quais
nos permitimos perder algum protagonismo internacional. Afinal, quem somos nós
na fila do pão? Uns zeros à esquerda, que estão brincando de fazer confusão
para não assumir as grandes responsabilidades que teimam em existir. Só que o
mundo não anda lá, com muita paciência para esse tipo infantilizado e ridículo
de comportamento.
E nem adianta apontar exageros
nessa percepção, tomando por base justificativas cunhadas sobre dados estatísticos
colhidos às vésperas de um pleito eleitoral conturbado, que criam a ilusão de
um país estável e equilibrado minimamente.
Simplesmente, porque elas não
passam de engodo volátil que vai sumir no horizonte antes que as doze badaladas
de 31 de dezembro se findem. Depois disso, o Brasil que vinha se equilibrando na
corda bamba até aqui, terá o desafio de, entre mil e um malabarismos, não
despencar ao chão.
Então, onde está a graça? Onde
estão as razões dos aplausos? Que “respeitável
público” é esse que dá vida para um espetáculo non sense de quinta categoria? Diz com propriedade o provérbio
espanhol, “quando você vir as barbas do
seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”.
E é exatamente isso que o Brasil
deveria estar se preocupando fazer. Mitigar impactos, evitar contratempos, provisionar
recursos, planejar alternativas, ...
Mas, não. Parece que só pensa em “causar”. Causar vergonha. Causar
desequilíbrio. Causar prejuízos. Causar mal-estar. Causar... O que paira no ar
que, talvez, o Brasil nunca tenha querido de fato ser protagonista de nada, nem
da sua própria história.
E por isso, fazer ou não fazer
lhe parece sempre a mesma medida, não faz diferença. Dando-lhe, então, a
permissão de devanear à vontade, de exercer a inação com propriedade, de
acreditar que nada melhor do que “cada um
por si e Deus por todos”.
Assim, vamos tropeçando amiúde em
manchetes como essas. “Câmara aprova
medida provisória que retira recursos de pesquisa para renovar frota” 2. “Mercado espera nova elevação de 0,5
ponto percentual na taxa Selic” 3.
Exibições, a conta-gotas, do
desprezo que o país tem por si mesmo, em todas as suas instâncias. Que vive em
voo cego; mas, nega terminantemente admitir.
No entanto, diante de tudo isso, deveríamos
nos curvar e dizer “Só sei que nada sei”4. Ora, é por excesso de certezas que
o país está se afundando em um mar de absurdos. Certezas que não têm quaisquer
fundamentações, no mínimo, razoáveis.
Como se a vida pudesse ser
analisada sob a perspectiva de uma perfeição absoluta. Sem sobressaltos. Sem surpresas.
Sem contestações.
No entanto, isso é negar o óbvio.
E a vida não é coisa que se negue. Vida se vive, se sente, por mais delirante
que se permita ser. Porque ela está imersa nas engrenagens que movem todas as aventuras
e as desventuras do dia a dia.
Não anda em linha reta. Não vive
de atalhos. É o que é. Como dizia João Guimarães Rosa, “O real não está no início nem no fim, ele se mostra para gente é no meio
da travessia” (Grande Sertão: Veredas).
Pena, que o Brasil não se deu
conta disso! Pena, que vive a apostar alto na sorte! Com os olhos fixos na sua roleta
imaginária. Com as mãos suando frio pela expectativa do resultado que almeja os
seus desvarios. Mesmo sabendo, de antemão, que se der errado é nessas práxis
que ele vai continuar se fiando.
E isso é o que vem nos colocando,
mais e mais, diante da certeza de que “O
ser humano é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer que seja
a sua condição. Você pode ser rico ou pobre, mas os problemas que afetam
verdadeiramente o ser humano são os mesmos” (Ariano Suassuna). Daí a
necessidade de entender que “é preciso saber
escolher as próprias ignorâncias” (Manuel Bandeira).
1 https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/08/sob-a-sombra-da-guerra-na-ucrania-paises-comecam-revisao-de-tratado-de-nao-proliferacao-nuclear.ghtml
2 https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/08/02/camara-aprova-mp-que-retira-recursos-de-pesquisa-para-renovar-frota-de-caminhoes.ghtml
4 Citação atribuída ao filósofo grego Sócrates.