Precisamos falar de RACISMO, sim!
Por Alessandra Leles Rocha
Precisamos
falar de racismo, sim! Precisamos romper com esse silêncio histórico, cruel e perverso!
Precisamos desconstruir certos paradigmas que foram construídos a partir de uma
deturpada visão de regalias e privilégios de alguns em detrimento de outros. Precisamos! Precisamos muito!
Porque,
mesmo quando o racismo não é verbalizado, o corpo, o comportamento e as
atitudes gritam muito alto a sua existência. O (a) racista não é tão hábil,
quanto pensa, para dissimular os seus sentimentos, as suas intenções. Ele (a) é
movido (a) por um desconforto odioso tão intenso que extrapola ao seu controle.
Quando se dá conta, já disse, já fez, já manifestou!
De
modo que não há justificativas que possam, de fato, atenuar o racismo. O (a)
racista não está racista, ele (a) é. Infelizmente, o racismo faz parte das suas
crenças, valores e princípios. A sua formação social enquanto ser humano foi
lapidada a partir dessas convicções transmitidas de geração em geração.
Se
há uma lição de Nelson Mandela que todos deveriam parar e refletir é: “Se eles podem aprender a odiar, eles podem
ser ensinados a amar, porque o amor ocorre mais naturalmente ao coração humano
do que o seu oposto”. Afinal, esse é o ponto.
Como
escreveu Martin Luther King Jr., “Nunca
se esqueça que tudo o que Hitler fez na Alemanha era legal”. Isso nos faz
compreender que o racismo só permanece ocupando o seu espaço na sociedade
humana porque não encontrou mecanismos suficientemente capazes de luzir a consciência
em relação ao entendimento profundo de que “A
injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar” (Martin
Luther King Jr.). É injustiça para todos!
Afinal
de contas, injustiça diz muito sobre igualdade; mas, especialmente, sobre
liberdade. “Ser pela liberdade não é
apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore
a liberdade dos outros” (Nelson Mandela). Liberdade não é questão de pele,
é questão de alma, de essência, de identidade. Daí não se poder jamais esquecer
de que “Nossas vidas começam a acabar no
dia em que nos calamos sobre as coisas que importam” (Martin Luther King Jr.).
Então,
é através da liberdade que se aprende a ser, a estar, a permanecer, a ficar, a
tornar-se, a continuar, a viver. Não é à toa que Rubem Alves escreveu “Para voar é preciso ter coragem para
enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é
o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não
ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde
as certezas moram”.
E
a reflexão dele se ajusta perfeitamente ao mecanismo social que estabelece o
racismo. Afinal, racismo é gaiola. O (a) racista não sabe voar, ou tem medo de
voar, e por isso, impede que os outros o façam. Puro medo de que a liberdade do
outro possa afetá-lo e desestabilizá-lo de alguma forma. Então, ele cria
gaiolas no seu racismo. Palavras, xingamentos, ofensas, violências, tudo o que
possa atingir o outro, imobilizando-o, enfraquecendo-o, diminuindo-o.
No
entanto, nada disso muda o curso da história. Ser racista não torna ninguém
acima do Bem e do Mal. Não blinda de nenhuma adversidade. Não exime de nenhuma
doença. Não atenua os desafios e obstáculos do cotidiano. Não resolve nenhum
tipo de problema. Infelizmente, só acentua a pequenez humana ao impedir a
expressão da alteridade.
Talvez,
sem até dispor de muita consciência a respeito, o (a) racista enxerga a eugenia
com bons olhos. Trata-se do narcísico sentimento de ter um mundo que caiba
exatamente na sua imagem e semelhança. Sem diferenças. Sem diversidade. Sem pluralidade.
Tudo milimetricamente homogeneizado. Porém, isso não passa de idealismo! Não é possível homogeneizar o mundo!
Daí
a necessidade de falar de racismo, sim! De romper com esse silêncio histórico
ensurdecedor, cruel e perverso! De desconstruir retrógrados paradigmas que foram
construídos a partir de uma deturpada visão de regalias e privilégios de alguns
em detrimento de outros.
Como
disse o ex-presidente norte-americano Barack Obama, “A mudança não chegará se esperamos outra pessoa ou outro tempo. Somos nós
mesmos os que estávamos esperando. Somos a mudança que buscamos”.
E
essa mudança começa pela consciência, “Enquanto
a filosofia que sustenta a existência de uma raça superior e outra inferior não
for desacreditada e abandonada de uma vez por todas, em todas as partes haverá
guerra. Eu digo: guerra” (Bob Marley – War).
E se isso não for suficiente, se a educação se mostrar ineficaz nessa mudança, que se use os rigores da lei. Afinal de contas, o racismo é crime e a injúria racial também é. Portanto, pense bem antes de quaisquer tentativas de humilhar, de desqualificar, de constranger e/ou de menosprezar um ser humano.