As
muitas maneiras de ver e entender as ruas
Por
Alessandra Leles Rocha
Vamos brigar? Brigar, xingar, ir
para as ruas manifestar nosso ódio reprimido, ... Mas, e daí? O que isso
significa de maneira concreta? O que
isso significa de bom, de produtivo, de eficaz? NADA. Absolutamente NADA.
Porque nossos inimigos, na verdade, não são de carne e osso. Não retrucam. Não
respondem. No entanto, permanecem altivos à espera de alguém que lute contra
eles com as armas corretas. Que seja superiormente capaz do ponto de vista
intelectual e cognitivo.
Pois é, exibições explícitas de
valentia e de (pseudo) poder só funcionam como lustro para a vaidade narcísica
de uns e outros, por aí, enquanto escondem um total desvirtuamento do seu exercício
cidadão, da sua identidade cidadã. Sim. Afinal de contas, não há pauta que se
sustente nessas manifestações a não ser a reafirmação de crenças, valores e
princípios que estão longe de caber na realidade contemporânea do mundo. Que não
passam de fiapos frágeis usados para segurar certas regalias e privilégios.
Isso quer dizer que o convite
inflamado só faz escancarar a mais completa inversão de prioridades. Ninguém
ali parece querer demonstrar sua fúria, sua indignação, seu descontentamento,
sua frustração, pela realidade socioeconômica do país que pulsa
escandalosamente uma inflação, uma carestia, um desemprego, um achatamento da
renda, uns juros estratosféricos, uma desaceleração da produção, ... que fazem corar
de vergonha e se desesperar diante dos veículos de comunicação e informação.
Muito embora, o não admitir essa
verdade não signifique que todos eles não estejam sentindo os seus reflexos e
desdobramentos na própria pele. Estão sim. Em maior ou em menor escala, as
perdas acabam batendo na porta de todos. É inevitável! Porque o efeito
cumulativo das crises econômicas acirra a expressão dos prejuízos. Acontece que
o ranço colonial, ainda insistentemente presente no país, exige das classes
mais abastadas a manutenção das aparências, dos fingimentos, para não se
mostrar vulneráveis ou menos poderosas.
Então, esse “Vamos brigar?” é só uma estratégia para desviar o foco a seu
respeito. Extravasar, enquanto expressão de reafirmação, a sua repulsa pela
existência da diversidade, da pluralidade, seja de que natureza for. Inclusive
dos problemas. Daí a necessidade de entreter as massas a partir do
amedrontamento que vem do discurso beligerante da força, sustentado pelo
espetáculo das armas a tiracolo. Criar a ilusão de que o país em que elas (as
classes dominantes) se julgam a representação da dominância, não possui questões
de ordem prática a se discutir e nem tampouco brigar, tudo está no “seu devido lugar”. Como se os problemas
pudessem se resolver por si mesmos.
Vejam só! Essa é a valentia que
essas pessoas propõem! A valentia pela valentia, sustentada por propósito
algum. Me faz pensar em grandes marcas que depositaram sua inteira crença de
que o nome era suficiente para se manterem firmes e inabaláveis no mercado e,
na primeira grande crise, foram varridas do mapa. O nome foi inútil, não
significou nada. Brigar, xingar, ir para as ruas manifestar o seu ódio
reprimido, vestido como uma personagem teatral, segue mais ou menos essa mesma
linha. Aparências, talvez, enganem pessoas; mas, não enganam a realidade, a
conjuntura, os fatos.
E sabe por quê? Porque o mundo
caminha adiante, se transforma, evolui, progride. E os cenários sociais vão
sendo obrigados a se ajustarem a esses movimentos se não quiserem perder seu
espaço, sua importância. Chega a ser bizarro ver pessoas com celulares de última
geração nas mãos enviando Fake News
sobre assuntos já superados ou retrógrados. Tentado se equilibrar com um pé no
passado e outro no futuro, como se isso fosse realmente possível. Não sei se é
para rir ou chorar!
Vamos e convenhamos, nessas
alturas do campeonato, impor posição pelo grito só vai trazer rouquidão e
cansaço. Não há nada de novo que possam dizer por meio do fervor acalorado de seus
xingamentos, dos seus ódios reprimidos. Não só o Brasil; mas, o mundo, já sabe
o que pensam, o que querem, a partir do que fizeram e/ou não fizeram até aqui. Não
é novidade para ninguém! Também se sabe que não estão dispostos a ouvir nada
diferente, na contramão de seus discursos e narrativas, na perspectiva da
realidade cotidiana. Mas, tudo bem. Briguem, xinguem, manifestem, façam a sua
exibição. After all, the show must go on!
No fim, bons entendedores, entenderão. O acirramento do nada acentua o muito, quando se analisa os dois lados de uma mesma moeda. O confronto entre o ideal ilusório e a realidade bruta e cruel é muito impactante e divide com muita propriedade o senso de cidadania presente no país. Separa quem quer e quem não quer um país melhor, mais justo, mais pacífico, mais desenvolvido, mais produtivo, mais protagonista, mais tudo de bom. Separa quem só olha para trás de quem olha para frente. Então, faça a sua escolha. Se posicione. Como já escrevi recentemente, “todo hoje é um amanhã! Não dá para postergar. Não dá para outorgar a quem possa interessar”.