segunda-feira, 25 de julho de 2022

As muitas maneiras de ver e entender as ruas


As muitas maneiras de ver e entender as ruas

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Vamos brigar? Brigar, xingar, ir para as ruas manifestar nosso ódio reprimido, ... Mas, e daí? O que isso significa de maneira concreta?  O que isso significa de bom, de produtivo, de eficaz? NADA. Absolutamente NADA. Porque nossos inimigos, na verdade, não são de carne e osso. Não retrucam. Não respondem. No entanto, permanecem altivos à espera de alguém que lute contra eles com as armas corretas. Que seja superiormente capaz do ponto de vista intelectual e cognitivo.

Pois é, exibições explícitas de valentia e de (pseudo) poder só funcionam como lustro para a vaidade narcísica de uns e outros, por aí, enquanto escondem um total desvirtuamento do seu exercício cidadão, da sua identidade cidadã. Sim. Afinal de contas, não há pauta que se sustente nessas manifestações a não ser a reafirmação de crenças, valores e princípios que estão longe de caber na realidade contemporânea do mundo. Que não passam de fiapos frágeis usados para segurar certas regalias e privilégios.

Isso quer dizer que o convite inflamado só faz escancarar a mais completa inversão de prioridades. Ninguém ali parece querer demonstrar sua fúria, sua indignação, seu descontentamento, sua frustração, pela realidade socioeconômica do país que pulsa escandalosamente uma inflação, uma carestia, um desemprego, um achatamento da renda, uns juros estratosféricos, uma desaceleração da produção, ... que fazem corar de vergonha e se desesperar diante dos veículos de comunicação e informação.

Muito embora, o não admitir essa verdade não signifique que todos eles não estejam sentindo os seus reflexos e desdobramentos na própria pele. Estão sim. Em maior ou em menor escala, as perdas acabam batendo na porta de todos. É inevitável! Porque o efeito cumulativo das crises econômicas acirra a expressão dos prejuízos. Acontece que o ranço colonial, ainda insistentemente presente no país, exige das classes mais abastadas a manutenção das aparências, dos fingimentos, para não se mostrar vulneráveis ou menos poderosas.

Então, esse “Vamos brigar?” é só uma estratégia para desviar o foco a seu respeito. Extravasar, enquanto expressão de reafirmação, a sua repulsa pela existência da diversidade, da pluralidade, seja de que natureza for. Inclusive dos problemas. Daí a necessidade de entreter as massas a partir do amedrontamento que vem do discurso beligerante da força, sustentado pelo espetáculo das armas a tiracolo. Criar a ilusão de que o país em que elas (as classes dominantes) se julgam a representação da dominância, não possui questões de ordem prática a se discutir e nem tampouco brigar, tudo está no “seu devido lugar”. Como se os problemas pudessem se resolver por si mesmos.

Vejam só! Essa é a valentia que essas pessoas propõem! A valentia pela valentia, sustentada por propósito algum. Me faz pensar em grandes marcas que depositaram sua inteira crença de que o nome era suficiente para se manterem firmes e inabaláveis no mercado e, na primeira grande crise, foram varridas do mapa. O nome foi inútil, não significou nada. Brigar, xingar, ir para as ruas manifestar o seu ódio reprimido, vestido como uma personagem teatral, segue mais ou menos essa mesma linha. Aparências, talvez, enganem pessoas; mas, não enganam a realidade, a conjuntura, os fatos.

E sabe por quê? Porque o mundo caminha adiante, se transforma, evolui, progride. E os cenários sociais vão sendo obrigados a se ajustarem a esses movimentos se não quiserem perder seu espaço, sua importância. Chega a ser bizarro ver pessoas com celulares de última geração nas mãos enviando Fake News sobre assuntos já superados ou retrógrados. Tentado se equilibrar com um pé no passado e outro no futuro, como se isso fosse realmente possível. Não sei se é para rir ou chorar!

Vamos e convenhamos, nessas alturas do campeonato, impor posição pelo grito só vai trazer rouquidão e cansaço. Não há nada de novo que possam dizer por meio do fervor acalorado de seus xingamentos, dos seus ódios reprimidos. Não só o Brasil; mas, o mundo, já sabe o que pensam, o que querem, a partir do que fizeram e/ou não fizeram até aqui. Não é novidade para ninguém! Também se sabe que não estão dispostos a ouvir nada diferente, na contramão de seus discursos e narrativas, na perspectiva da realidade cotidiana. Mas, tudo bem. Briguem, xinguem, manifestem, façam a sua exibição. After all, the show must go on!

No fim, bons entendedores, entenderão. O acirramento do nada acentua o muito, quando se analisa os dois lados de uma mesma moeda. O confronto entre o ideal ilusório e a realidade bruta e cruel é muito impactante e divide com muita propriedade o senso de cidadania presente no país. Separa quem quer e quem não quer um país melhor, mais justo, mais pacífico, mais desenvolvido, mais produtivo, mais protagonista, mais tudo de bom. Separa quem só olha para trás de quem olha para frente. Então, faça a sua escolha. Se posicione. Como já escrevi recentemente, “todo hoje é um amanhã! Não dá para postergar. Não dá para outorgar a quem possa interessar”. 

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