Ao
silenciarem-se, eles silenciam o direito do povo de conhecê-los
Por
Alessandra Leles Rocha
Aberta oficialmente a corrida
eleitoral de 2022, no Brasil, precisamos, enquanto cidadãos, saber se apenas a
euforia das Convenções Partidárias e do corpo a corpo com os eleitores é mesmo
o suficiente para uma tomada de decisão consciente. Ora, não se dá um cheque em
branco a ninguém!
Sim, porque a flagrante
desigualdade estabelecida dentro da legislação eleitoral, no que diz respeito
ao tempo de rádio e TV dos candidatos para a exposição das suas propostas e
perspectivas, beneficia claramente uns e detrimento de outros.
E ainda que a realidade contemporânea
nos oportunize os meios tecnológicos de informação e comunicação, não é preciso
recapitular a verdade sobre as discrepâncias de acessibilidade tecnológica no
país.
Seja por carência e insuficiência
estrutural no setor, que não abrange equitativamente o país. Seja pelo custo
que onera as despesas de milhões de famílias. Seja pela ausência de letramento digital
para o manuseio correto das ferramentas tecnológicas. Enfim...
De modo que esse cenário, como
está configurado, acaba por favorecer, e muito, a disseminação de Fake News, na medida em que tira da
expressão dos próprios candidatos as suas pretensões para repassá-las a partir
das perspectivas de terceiros, nem sempre muito bem-intencionados.
O que significa que das Fake News para as idealizações pessoais
é um pulo! De distorções em distorções da realidade se estabelece uma ideia
totalmente equivocada e absurda a respeito desse ou daquele candidato. Afinal,
ambos os lados, candidatos e eleitores, estão imersos em suas bolhas e
distanciados da possibilidade dialógica franca e objetiva.
Começa, assim, o estopim para a
fragilização da Democracia. Quando os candidatos se abstêm das oportunidades de
falar e de responder aos questionamentos da sociedade, ainda que por intermédio
de jornalistas e especialistas em Ciências Políticas e outras áreas do
conhecimento.
Ao silenciarem-se, eles silenciam
o direito do povo de conhecê-los um pouco mais. De exporem suas propostas para
o país a fim de recolocá-lo nos trilhos com práticas de gestão socioambientalmente
responsáveis capazes de resultar em benefícios sociais, atendendo aos mais
diversos espectros de demandas.
A recusa na participação democrática
dialógica traz à tona um simplismo constrangedor, dada a costumeira
justificativa de que os candidatos já são conhecidos. Ora, a discussão não é
sobre eles, enquanto pessoa física! A discussão, necessária e fundamental, é
sobre o que cada um, enquanto pretenso candidato a, objetiva fazer para o país
diante daquele recorte temporal que estabelece o novo mandato.
Como reconstruir, a partir das
perdas que se contabilizaram ao final desse ciclo? Como enfrentar os desafios?
Como superar as eventuais adversidades? Como recobrar o protagonismo no cenário
internacional? Como alavancar novas práxis de administração e gestão alinhadas
aos pensamentos sustentáveis? Como...?
São perguntas assim, de cunho
cidadão, que permitem aos eleitores construir um panorama do que pode ou não
ser alcançado na próxima gestão. Que podem minimizar os rompantes de
idealização em torno de transformações radicais e surpreendentemente rápidas,
trazendo para o campo da realidade, do possível, do palatável, a consciência da
população.
Sem contar, o essencial! A
participação dos candidatos, especialmente no que diz respeito aos cargos do
Executivo, nos eventos de discussão política, nos permite avaliar a segurança e
o nível de conhecimento e preparo deles para a investidura do cargo, ao qual
pretendem ocupar. Sabem se expressar ou não? Suas respostas são firmes e
diretas? São elegantes ou sarcásticos? São conscientes do seu papel ou dados as
aventuras políticas? ...
Mas, além de tudo isso, é preciso
reconhecer que a recusa de qualquer dos candidatos à participação nesses
eventos, não deixa de transmitir uma mensagem subliminar de arrogância, de prepotência
e de uma pseudossuperioridade em relação aos demais. Algo que advém, muitas
vezes, em razão dos percentuais estatísticos das pesquisas eleitorais de opinião.
Acontece que o fato de as pessoas
simpatizarem mais com esse ou aquele, é muito relativo. As pesquisas são
estruturadas a partir de perguntas genéricas e abrangentes, que não dissecam em
nenhum momento as intenções de cada candidato. Ali, é só uma amostra
superficial e não necessariamente estável da realidade, sujeita a constantes
mudanças.
Daí a necessidade de todos se
apresentarem. A participação nos eventos de discussão política traz a igualdade
e a equidade aos candidatos. Naquele momento todos desfrutam do mesmo tempo de
fala, sob o escrutínio dos mesmos interlocutores, sob o mesmo espaço físico, de
modo que eles estão sob as mesmas condições, sem privilégios ou regalias. Nenhum
é mais ou menos do que o outro.
Mais do que nunca é necessária essa reflexão. Precisamos nos questionar sobre a passividade de aceitação em relação a certos comportamentos dos nossos pretensos candidatos. Como escreveu Steven Levitsky, “Sempre há incerteza sobre como um político sem histórico vai se comportar no cargo, mas, como foi observado antes, líderes antidemocráticos são muitas vezes identificáveis antes de chegarem ao poder” 1.
1 LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Traduzido por Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. 272p.