Aguardemos
as cenas dos próximos capítulos...
Por
Alessandra Leles Rocha
Colocar um fim aos arroubos
alucinados da autoridade maior do país, não é uma questão de escolha; mas, de
necessidade. Afinal, de constrangimentos em constrangimentos o Brasil vai
ficando isolado na sua bolha de delírios que impedem o mínimo de desenvolvimento
e progresso.
E aos que ainda insistem e
resistem a encarar tudo isso de frente, tomando as medidas cabíveis, é importante
lembrar que não somos mais Colônia, que não estamos mais sob a batuta de um
Imperador, que se não fizermos por nós não haverá quem faça. Esperar por uma
solução miraculosa é tão insano quanto as próprias insanidades cometidas,
amiúde, pelo Presidente da República.
É fundamental entender que o não
fazer, o não tomar uma atitude, é uma escolha perigosa. Ele não coloca um ponto
final, ele não estabelece um limite de tolerância, de aceitabilidade. De modo
que ele reafirma os acontecimentos, não permitindo que sejam esquecidos e
solucionados. Sem contar que faz recair sobre os ombros de muito mais gente a
responsabilidade sobre eles.
Sim, porque aponta para uma
conivência, uma condescendência, quase servil. E se você concorda com um erro,
se você se abstém de posicionar-se contrariamente a ele, é sinal de que o seu
senso ético e moral está, no mínimo, desajustado, comprometendo demasiadamente
o seu juízo de valor sobre a vida. Portanto, você se torna sim, cúmplice da
situação.
Por isso nunca acreditei nessa
história de “ficar em cima do muro”.
Quem fica em cima do muro ou cai de um lado ou cai de outro, simples assim. Não
há neutralidade. Não há 100% de isenção. Na medida dos prós e dos contras, um
deles sempre apresenta numérica vantagem. Porque na vida há o que se pode
defender com clareza e profunda objetividade; mas, há também o indefensável.
Vamos e convenhamos, então, o que
se tem nesse comportamento é o mais explícito caso de anticidadania, de antidemocracia.
De certo modo, algo que reflete bem uma significativa parcela da população
brasileira que se apropria de maneira desvirtuada e equivocada do exercício cidadão
e da própria Democracia, limitando-o ao benefício de alguns em detrimento de muitos.
Assim, fica evidente de que lado eles estão.
Suas escolhas dão conta de bem
mais do que uma posição; mas, da sua identidade no que diz respeito às suas
crenças, valores e princípios. Elas dizem exatamente quem são eles, sem
precisar de uma palavra sequer. Porque a comunicação das ideias, dos
pensamentos, não se dá apenas por uma via de linguagem verbalizada.
O não verbal é, muitas vezes,
mais retumbante e preciso. Já diz o dito popular, “Um exemplo vale mais do que mil palavras”. Isso significa que qualquer que seja o grau de descompromisso,
de negligência, de omissão, de irresponsabilidade, lá está impressa a digital
da inação. Não há como negar. Todos conseguem ver. E vendo retiram suas próprias
conclusões. Vejam só! De repente se descobre que não é só o “rei” quem está nu; mas, a sua corte,
seus asseclas.
O vexame, então, cresce como se
tivesse sido fermentado a contento! Deteriorando a imagem do país, que parece
uma nau sem rumo. Como se não houvesse ninguém, suficientemente, capaz de
manejar o seu leme e conduzi-lo a terras firmes e prósperas. Como se para todos
os lados que se olhasse só existissem mentecaptos à solta, trazendo uma
sensação de infortúnio e desgraça sem fim. Afinal, as piadas de mau gosto
saltaram do discurso para materializar uma realidade infame.
E enquanto o mundo ri, o Brasil se
esfacela entre camadas de mazelas e desafios. Sim, porque não há obstáculo maior
para um país do que a mistura explosiva que resulta da insanidade com a inação.
A realidade é fatalmente subtraída por uma sucessão de delírios, que traz a
falsa impressão de um mundo em perfeita ordem, a caminhar tranquilo por si
mesmo.
Pois é, e enquanto o mundo ri ...
nós rimos de nervoso, talvez, quem sabe, choramos. Debulhamos lágrimas amargas,
salgadas, sangrentas. Na perspectiva do tempo presente, do agora, é o que cabe
para lavar a frustração, a impossibilidade, a irritabilidade, ... Para transformar
a angústia em força de transformação.
Porque no fundo sabemos que ela
há de vir. De um jeito ou de outro. Por mais que tentem as forças omissas
atuarem, seu trabalho não muda o curso das conjunturas. O mover das peças no
tabuleiro da vida é bem mais complexo do que se pode imaginar. Há sempre um plot twist prestes a acontecer! O jogo
só acaba quando termina, não é assim? Então.
O que vemos até aqui, só
representa isso, um fragmento. Não vemos o todo. De modo que é muita coragem
ter tanta certeza a respeito de alguma coisa nessa vida. Eles querem ter, porque
isso faz parte do seu pseudopoder; mas, é só. Eles precisam acreditar que têm
as rédeas do país nas mãos; mas, será?
Se fosse verdade, já teriam estourado a bolha, posto fim ao isolamento brasileiro, recolocado o país nos trilhos. Assim, no fim das contas, como aprendemos com os grandes clássicos da dramaturgia, a história vai dizer como esse capítulo acaba e vai apontar, sem cerimônias, quem foram os heróis e os vilões da vez. Aguardemos, portanto, as cenas dos próximos capítulos.