Nada de
superficializar os fatos da vida. Pensar é preciso!!!
Por Alessandra
Leles Rocha
Concordo que seria uma maravilha se pudéssemos
superficializar os fatos da vida dentro de um simplismo quase infantil. Pena,
que não dá! A vida é demasiadamente complexa para construirmos esse tipo de
concepção ideológica. Por isso é tão importante não colocar os sentimentos, as
emoções, as dores do outro sob total desrespeito, desprezo, negligência,
indiferença... afinal, você não está calçado com os sapatos dele (a), ou está?
Em um tempo no qual todos querem seus “15 minutos de fama”, que falam pelos
cotovelos em uma verborragia compulsiva, que vivem sob o impacto da pressa e do
imediatismo, que transformam tudo em nada; mesmo assim, por trás ou nas
entrelinhas dessas histórias há sempre algo importante a se destacar, a
considerar, a avaliar. Nem tudo é bobagem, sabia?
Olhando para as pessoas, na profundidade da sua
pluralidade, reconheço que a contemporaneidade prejudicou muito a raça humana
no que diz respeito às suas linguagens e comunicações. É, o ser humano não se
expressa mais com a mesma qualidade e facilidade com a qual fazia há algumas décadas.
Como se estivesse cada vez mais difícil romper as suas bolhas existenciais e
deixar os pensamentos fluírem a contento.
De modo que ele se superficializa; mas,
também, superficializa o outro. Na medida em que desaprendeu a parar, a ouvir, a
processar, a degustar, a assimilar aquilo que emerge do consciente e do
inconsciente, tanto do seu quanto do outro.
Não é à toa que ele ri e faz graça com uma
comunicação em 144 caracteres, como se isso fosse de fato o suficiente para
traduzir todos os essenciais que a vida nos exige. É obvio, então, que as
ideias e os pensamentos fiquem truncados, desalinhados, esquisitos.
Sem contar, que a leitura atenta e precisa
também foi perdida ou desaprendida. Como se entender, compreender, interpretar a
expressão existencial humana tivesse se transformado em perda de tempo. Ora, a
leitura é um espelho! Nela nos projetamos, nos refletimos e nos encontramos em
nós mesmos e nos outros.
Porque ler é sim, dialogar em silêncio. Um diálogo
sem ruídos, sem interferências, sem interrupções. Você e seu (s) interlocutor
(es) ... sem máscaras, sem disfarces, sem pudores, sem limites. Um diálogo que
vai além das pessoas, de carne e osso, para transcender ao alcance daquilo que
habita as almas.
Veja o exemplo dos candidatos ao ensino
superior, por exemplo! Uma imensa maioria esbarra justamente na comunicação. A dificuldade
ou a inabilidade no trato com os conteúdos do Ensino Médio se reflete de
maneira decisiva na expressão linguística. Falta coesão. Falta coerência. Falta
argumentação. Falta criatividade. Falta...
Falta soltar as amarras que aprisionam o senso
comunicativo dos seres humanos contemporâneos, que os impedem a liberdade de
construir o seu próprio entendimento sobre o conhecimento. Daí, da pior forma,
eles descobrem que a superficialização não é a solução, não resolve os seus
problemas para ingressar em uma Universidade ou no mercado de trabalho.
Sim, porque se engana quem pensa que a vida é sintética.
Não, ela é prolixa! Ela precisa de forma e de conteúdo, de objetividade, de
clareza; então, não é possível viver de meias palavras. Como escreveu João Guimarães
Rosa, “Viver é etecetera”, porque viver
é pura comunicação.
Do nascer ao raiar do sol, tudo é linguagem
dentro de um propósito que se desdobra tal qual as Matrioskas, ou seja, uma
coisa dentro da outra, dentro da outra, dentro da outra... Para que no fim, nos
façam algum sentido. Na verdade, não tem aleatoriedade nesse processo. De um
jeito ou de outro os propósitos se organizam, se arranjam e se desarranjam, mas
não perdem o que há de mais essencial neles mesmos.
É por essas e por outras, que os seres humanos
foram dotados de capacidade intelectual e cognitiva. Eles têm raciocínio lógico,
têm inteligência. Mas, estão, lamentavelmente, deixando tudo isso escapar. Estabelecendo
um tipo de atrofia mental muito perigosa, porque o cérebro, o nosso grande
centro de comando, precisa de uso, precisa de prática, precisa de movimento.
Sem nos darmos conta, estamos deixando uma ínfima
parcela da humanidade pensar e criar por nós, para que nos deixemos levar pelos
feitos das ciências e das tecnologias, pelo assombro da “inteligência artificial”. Quem não se lembra do clássico filme “2001: Uma Odisseia no espaço”1, de 1968, e sua profunda reflexão entre
passado e futuro, homem versus máquina? Pois é, não nos esqueçamos de que “A verdadeira viagem de descobrimento não
consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos” (Marcel Proust –
escritor francês).