Um
pouquinho de Cultura. Um pouquinho de Brasil.
Por
Alessandra Leles Rocha
Preferência é uma questão
pessoal. Mas, para que ela exista é fundamental a diversidade, e nesse sentido,
o Brasil é farto. Sobretudo, quando se trata da Cultura. São inúmeros os nossos
artistas e suas manifestações. Oriundos das ruas ou das Academias, não importa.
A expressão do talento, da competência e, porque não dizer, da genialidade
desses artistas, é indiscutível e consagrável a todos os aplausos e reverências.
É por isso que se torna
irrelevante tomar por base de opinião o comentário de uns e outros. O que anda
faltando no Brasil é retirar dos olhos as travas e se permitir enxergar a
Cultura na real dimensão que ela se permitiu alcançar por aqui. Afinal de
contas, para quem ainda não se deu conta, “A
Cultura é entendida como um modelo rico em símbolos que molda a consciência e o
comportamento humano” (RAJABI; KETABI, 2012, p.705) 1.
Portanto, viva a nossa arquitetura,
as nossas artes plásticas, a nossa literatura, as nossas artes cênicas, a nossa
dança, a nossa música, não importando se individualmente ou através de suas
variadas combinações! Muito além de traduzir as subjetividades que edificam a
nossa identidade multicultural e miscigenada, elas também são um pedaço desse
alicerce que sustenta o desenvolvimento e o progresso do país, dentro e fora de
suas próprias fronteiras.
Ao olharmos para a nossa
identidade cultural, com a devida atenção e respeito, conseguimos perceber o
quanto ela é “um processo contínuo em que
se acumulam conhecimentos e também práticas que resultam da interação social
entre os indivíduos” (COELHO; MESQUITA, 2013, p.27) 2.
A cultura do Brasil não se resume a isso ou aquilo, ela está sempre aberta à sua
capacidade e potencialidade de transformação, de renovação e de novas
descobertas.
É certo que demorou para isso ser
assimilado e compreendido. A cultura brasileira enfrentou muitos desafios para
se consolidar, para romper a bolha das influências estrangeiras que se formou a
partir do seu processo colonial. Durante muito tempo, éramos sim, uma cópia
representativa das expressões culturais dos outros. Mas, como nada por aqui é definitivo
é estático, a força dos movimentos internos provou que era preciso acompanhar o
fluxo do tempo, da história, dos acontecimentos, da própria diversidade
populacional.
Índios, negros e brancos, cada
qual ao seu modo, sempre impregnaram o país com suas contribuições culturais. O
que houve, durante séculos, foi a existência de uma resistência a verdade dos
fatos, pelo ranço colonial manifesto através da força da visão eurocêntrica que
se disseminou pelo mundo. A cultura das antigas colônias padecia com a pecha de
algo inferior, desimportante, fora dos padrões estabelecidos pelas metrópoles europeias.
Até que os realinhamentos,
trazendo novas conjunturas e realidades geopolíticas capazes de interferir na dinâmica
das relações sociais, estimularam as correntes culturais vanguardistas. Trata-se do momento em que cada expressão
cultural passou a buscar o seu lugar de fala no mundo, possibilitando dessa
forma a sua visibilização dentro do coletivo social e, portanto, o surgimento
da preferência, da escolha, da decisão dos indivíduos.
A cultura adquiria, então, uma verdadeira
apropriação por parte das pessoas, segundo o grau de significância que
estabeleciam com aquelas expressões. Ela
se descobria, então, multi e intercultural. Você pode gostar disso, daquilo e
daquilo outro. Você pode juntar, misturar, compor, segundo o seu próprio sistema
de crenças, de valores, de atitudes, porque a cultura tem tudo a ver com a liberdade.
A liberdade de ser, de estar, de sentir, de criar, de produzir... De modo que a
cultura é sempre um terreno totalmente flexível, cujos limites existem para
serem confrontados, desalinhados, desconstruídos, ressignificados.
Como escreveu Coll (2002), a
interculturalidade “representa uma experiência
libertadora para todas e cada uma das culturas que interagem, por meio da qual
podemos reconhecer os limites inerentes às nossas culturas e nossos mundos; ao
mesmo tempo, porém, ela nos permite perceber o caráter infinito e transcendente
de nós mesmos, de nossas identidades e de nossos respectivos mundos” 3. A cultura é, portanto, um universo
em expansão.
Assim, antes de encerrar essa
leitura e pôr fim à reflexão que ela propõe, convido o (a) leitor (a) a fechar os
olhos, por um instante, e pensar nas seguintes personalidades. Pode ser que não
as conheça em certa profundidade; mas, ao menos, já ouviu falar a seu respeito,
seja na arquitetura, nas artes plásticas, na literatura, nas artes cênicas, na
dança e/ou na música. Deixo aqui, então, um pouquinho de Cultura. Um pouquinho
de Brasil. Para você pensar e sonhar.
®
Oscar Niemeyer. Lúcio Costa. Roberto Burle Marx. Ruy
Ohtake. Lota de Macedo Soares. Aleijadinho. Rosa Kliass. Felipe Hess. Maurício
Arruda. Marcelo Rosenbaum. ... Esses são alguns dos expoentes da nossa
arquitetura, urbanismo e paisagismo. Artistas que alteraram a nossa percepção
sobre o espaço geográfico brasileiro, seja do micro ao macro.
®
Tarsila do Amaral. Djanira da Motta e Silva. Almeida
Junior. Cândido Portinari. Hélio Oiticica. Lygia Clark. Lygia Pape. Emanuel
Araújo. José Leonilson. Siron Franco. Arthur Bispo do Rosário. Adriana Varejão.
Rosana Paulino. ... Esses são alguns dos expoentes das nossas artes plásticas. Artistas,
cujo trabalho têm o potencial devastador de transformar nossa relação com as
formas, os materiais, os conteúdos, as energias.
®
Carlos Drummond de Andrade. Jorge Amado. Zélia
Gattai. Caio Fernando Abreu. Cecília Meireles.
Rachel de Queiroz. Marina Colasanti. Clarice Lispector. Rubem Alves. Paulo Coelho.
Mário de Andrade. Manuel Bandeira. Vinícius de Moraes. Cora Coralina. Adélia Prado.
João Cabral de Melo Neto. Ariano Suassuna. ... Esses são alguns dos expoentes da
nossa literatura.
São artistas
que nos apresentam, por meio de suas obras, a compreensão de que “A língua envolve todas as ações e
pensamentos humanos e possibilita ao indivíduo exercer influências ou ser
influenciado pelo outro, desempenhar o seu papel social na sociedade,
relacionar-se com os demais, participar na construção de conhecimentos e da
cultura, enfim, permitir-lhe se constituir como ser social, político e
ideológico” (COELHO; MESQUITA, 2013, p.26).
®
Fernanda Montenegro. Fernando Torres. Gianfrancesco
Guarnieri. Paulo Autran. Tony Ramos. Glória Pires. Raul Cortez. Tarcísio Meira.
Glória Menezes. Chico Anysio. Taís Araújo. Lázaro Ramos. Cláudia Raia. Jarbas
Homem de Mello. Tiago Abravanel. Amanda Acosta. Bibi Ferreira. Marília Pêra.
Lucinha Lins. Miguel Falabella. Matheus Nachtergaele. Selton Mello. Bruno
Gagliasso. ... Esses são alguns dos expoentes das nossas artes cênicas.
Artistas que nos permitiram sonhar e expiar sobre a própria condição humana,
através da ficção.
®
Ana Botafogo. Carlinhos de Jesus. Ivaldo Bertazzo.
Ady Addor. Mercedes Baptista. Deborah Colker. Ismael Ivo. Cecília Kerche. Lia
Rodrigues. Márcia Haydée. Thiago Soares. Iolanda Braga. Klauss Vianna. .... Esses
são alguns dos expoentes da nossa dança. Artistas que nos permitiram voar sem
asas, através da grandiosidade plástica dos seus corpos.
® Chico Buarque de Hollanda. Caetano Veloso. Gilberto Gil. Geraldo Vandré. Maria Bethânia. Gal Costa. Elis Regina. Nara Leão. Ivan Lins. Milton Nascimento. Lô Borges. Roberto Carlos. Erasmo Carlos. Maria Rita. Cartola. Pixinguinha. D. Ivone Lara. Beth Carvalho. Zeca Pagodinho. Demônios da Garoa. Zélia Duncan. Marisa Monte. Carlinhos Brown. Arnaldo Antunes. Maria Gadú. Lenine. Djavan. Rita Lee. Nelson Motta. Lulu Santos. Cazuza. Barão Vermelho. Engenheiros do Hawaii. Legião Urbana. Titãs. Os Paralamas do Sucesso. Anitta 4. Pabllo Vittar 5. ... Esses são alguns dos inúmeros expoentes da nossa música. Artistas que transcenderam a voz brasileira, tantas vezes silenciada e oprimida, para fazê-la ecoar além de quaisquer fronteiras.
1
RAJABI, S.; KETABI, S. Aspects of cultural Elements in Prominent English
Textbooks for EFL Setting. Theory and Practice in Language Studies, Finland,
v.2, n. 4, p.705-712, April 2012.
2 COELHO, L. P.; MESQUITA, D. P. C. de. Língua, Cultura e Identidade: Conceitos intrínsecos e interdependentes. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v.4, n.1, p.24-34, jan./jul.2013.
3 COLL, A. N. Interculturalidade - Propostas
para uma diversidade cultural intercultural na era da globalização. São Paulo,
Instituto Pólis, 2002. 124p.