Rir
ou chorar???
Por
Alessandra Leles Rocha
Não, não há o que comemorar.
Mantendo-se estagnada em 11,2% nesse primeiro trimestre do ano, a taxa de
desemprego no país é só mais um componente do desarranjo social
brasileiro. Afinal, isso significa que
há 12 milhões de desempregados, 4,7 milhões de desalentados, uma interrupção no
contingente populacional ocupado e na queda de rendimento do cidadão 1. Enquanto isso, a inflação galopa, os
juros extrapolam as expectativas, o PIB (Produto Interno Bruto) é
constantemente reavaliado para baixo, e não se vê uma economia com sinais de recuperação,
ou avanços, ou melhorias.
Portanto, esse cenário não torna
o Brasil nenhum espelho de desenvolvimento e progresso. Muito pelo contrário.
Esse acirramento das conjunturas econômicas não só traduz uma precarização do trabalho;
mas, por consequência, da vida do próprio cidadão. Porque ela não se restringe
as relações de trabalho em si; mas, ela tem uma capilaridade assustadora por
toda a engrenagem produtiva e de comercialização. Tudo está visivelmente se
precarizando, ano após ano, sem que medidas eficientes e suficientes sejam
tomadas a esse respeito.
Perdemos o bonde da história?
Esquecemos de fazer o dever de casa? Parece que sim. Muito antes que quaisquer imprevisibilidades
rompessem com o equilíbrio do mundo, a situação por aqui já não era das
melhores. Então, não há outra maneira senão pagar o custo alto e amargo que
advém dessa inação. O Brasil quer um protagonismo no cenário global; mas,
insiste em se manter no atraso, absorvido por convicções retrógradas,
desalinhado das inovações nos meios de produção. Não se vê um planejamento bem
estruturado para os diversos setores da economia, tudo parece pontual,
desconectado, como se estivessem mesmo, correndo atrás dos prejuízos.
São raras as exceções, nos
parques industriais brasileiros, que se mostram estruturadas a partir das mais
modernas tecnologias e inovações. No geral, a realidade está bem aquém dos
concorrentes mais diretos no mercado. Temos dificuldade de mão de obra técnica
e especializada para diversos setores. Pecamos na ausência de investimentos e
de produção de certos insumos que poderiam desafogar a dependência de
importação; bem como, reduzir custos ao produto final. Esbarramos na
precariedade do escoamento de produtos através de rodovias, hidrovias, portos e/ou
aeroportos que não conseguem atender as demandas mais elementares do processo.
Enfim...
Além disso, no que diz respeito a
ausência de uma nova formulação para as relações de trabalho há uma visível
incompatibilidade com as demandas produtivas contemporâneas; bem como, com as
demandas de trabalhadores existentes e a chegar no mercado. Afinal, esse
trânsito às cegas da economia, inevitavelmente, esbarra na escassez e na
fragilidade de políticas públicas que possam mitigar as fronteiras da desigualdade
social.
Isso significa que o país,
portanto, perde muito em termos de competividade internacional e quem paga o
preço disso são os seus cidadãos. Porque lá fora, eles simplesmente nos colocam
de fora das mesas de negociação. Eles param de comprar os nossos produtos e vão
dar lucro para quem possa atendê-los mais satisfatoriamente. Eles querem bom
preço, boa qualidade, agilidade na entrega, alinhamento as práticas comerciais
contemporâneas.
A percepção que se tem, olhando
para o Brasil, especialmente nos últimos três anos, é que não se vê, por parte
do governo, quaisquer problemas em dissociar a precarização nos processos de
produção da precarização do trabalho, ou seja, como se não estivesse no
somatório dessas precarizações uma parte importante da expressão do perfil
conjuntural da crise econômica que se tem. Basta ver que a quantidade de vagas
disponíveis, por exemplo, é cada vez menor e supre cada vez menos as demandas
de um contingente de trabalhadores que só faz crescer. O que obriga essas
pessoas, então, a buscarem soluções alternativas para sua sobrevivência que
representam uma verdadeira precarização da precarização.
E um dos aspectos importantes a
ser destacado é o fato de que em paralelo a essas precarizações citadas, houve
mais uma precarização extremante importante que diz respeito a Educação. Sem planejamento e investimentos na Educação
não há Ciência e nem Tecnologia para atender tanto as necessidades dos meios de
produção quanto da formação profissional e cidadã do trabalhador.
Sim, porque uma Educação bem
consolidada, bem pensada, possibilita ao indivíduo transitar por épocas de “vacas gordas”; mas, também, de “vacas magras” no mercado de trabalho.
Porque lhe possibilita conhecer seus próprios talentos, suas próprias
habilidades, suas próprias competências, suas multifacetadas aptidões,
permitindo criar planos A, B, C, ... na hora de enfrentar as adversidades do
cotidiano. Gente assim, conscientemente preparada, não deixa a peteca da
economia cair, mantendo o consumo seguindo o fluxo, as contas em dia, os planos
em pleno vapor.
Mas, por isso precisa ser uma “senhora Educação”! Não pode ser mais ou
menos! Anos e anos nos bancos da escola, canudos na mão, já mostraram que não
são por si só a chave do sucesso profissional. Infelizmente, a Educação no
Brasil está impregnada de idealizações, de elitismos, na sua formulação e
aplicação que fragilizam tanto a formação profissional quanto cidadã. Não é à
toa que, em pleno século XXI, ainda se venda, por aí, a ideia de certas profissões
como passaporte de uma vida estável e bem-sucedida, quando a realidade é bem
outra.
Pois é, entre esses milhões de
desempregados, de desalentados, há tantos diplomados, tanta gente teoricamente
qualificada, habilitada; mas, segundo os analistas de talentos humanos, não “cabem no perfil” das vagas disponíveis.
Às vezes, são muito qualificados. Outras são menos. Às vezes, estão migrando de
áreas muito diferentes. Às vezes, a formação implica em salários superiores aos
oferecidos e, por essa razão, contratá-los pode significar problemas jurídicos
futuros. Às vezes, a distância do local de trabalho se torna um obstáculo para
contratação. E por aí vai... Senões para não contratar esse ou aquele candidato
se proliferam, também, aos milhões.
De modo que a pergunta a se fazer
é: sinceramente, temos ou não razões para comemorar? Porque a impressão, no
momento, é de que chegamos a um beco sem saída e que os prognósticos não
apontam para nada muito positivo mais adiante. Há um universo de crises dentro
de uma crise econômica e elas tensionam o sistema, afetando outros setores da
vida cotidiana e exacerbando o descontentamento, a indignação, a preocupação
popular. Tamanha instabilidade, insegurança, imprevisibilidade nos rumos da
economia nacional não tem oferecido outra perspectiva a não ser tirar o sono e
a tranquilidade do cidadão. Afinal, não dá para esquecer de que a fome tem
pressa. A doença tem pressa. ... A vida tem pressa.