E
todos os caminhos levam ao mesmo Brasil
Por
Alessandra Leles Rocha
Gostaria muito de encontrar
razões suficientemente robustas para explicar os motivos que levam a política
brasileira a uma saga sem fim, em busca de um “salvador da pátria”. Porque essa insistência deliberada em
reproduzir os mesmos erros nos mantêm presos a um retrocesso vexatório, que não
nos conduz a lugar algum.
Por mais que uma grande parcela
da população não disponha de uma construção identitária cidadã apurada, não me
parece estar apenas nessa fragilidade o ponto nevrálgico da questão. Aqui, como
em outros países latino-americanos, pulsa uma passionalidade política que
arrebata as pessoas por um partidarismo cego e inconsequente, semelhante ao que
se vê no futebol. Que une e converge as pessoas a partir de uma análise
superficial e tendenciosa dos fatos.
Como se projetassem suas
idealizações e aspirações em figuras inexistentes. Seres de carne e osso não
são capazes de sustentar esse peso, porque não foram feitos para se ajustar as
projeções alheias; mas, ao seu próprio arcabouço de defeitos e qualidades. Além
disso, não é essa a perspectiva de reflexão no campo político. Nele não se
discutem pessoas, se discutem ideias, projetos, propostas, capacidade técnica
de gestão, envergadura das relações sociais e diplomáticas, enfim...
Algo que o próprio acompanhamento
diário pelos veículos de informação e comunicação é capaz de fornecer. Basta,
portanto, um pouco de disponibilidade e interesse do cidadão. Aliás, de saída, deveria
se construir uma linha histórica a respeito dos acontecimentos capazes de
revelar as ligações e relações da classe política entre si. A começar, pela
observação atenta quanto ao que se chama “fidelidade
partidária”. Não são raros os políticos que já transitaram, por idas e
vindas, em mais de uma dezena de legendas ao longo da carreira, sempre em busca
de algum benefício de momento. O que significa muito pouca, ou quase nenhuma,
fundamentação político ideológica presente nas suas escolhas.
Entregues a esse movimento em
razão de interesses, de promessas, de barganhas, sempre à espera de algo mais,
eles demonstram, portanto, pouca aderência ao espírito representativo e aos
valores e princípios que regem os cargos públicos. O que ressalta os ares de
profissionalização à carreira político-partidária no país. Não acredita? Isso é
fácil de apurar. Informações a respeito existem em profusão.
No entanto, não há garantias que
esses mandatos “Ad aeternum”
consolidam experiência e credibilidade. Haja vista o arrastar de correntes das
mazelas nacionais nesses séculos de história. Essa “pseudoprofissionalização” da política brasileira demonstra, cada
dia mais, como a função representativa não representa a população; mas, os
interesses pessoais e partidários dos eleitos. Tanto que projetos essenciais
para o desenvolvimento do país, os quais trariam enormes benefícios para a
população, são esquecidos no fundo de gavetas empoeiradas do Congresso e das
Assembleias Legislativas. Enquanto outros, não essenciais, são votados a toque
de caixa, na calada da noite.
Aliás, é importante ressaltar,
que nessas horas de “prejuízo à
população” os conchavos e as alianças entre partidos totalmente antagônicos
ideologicamente acontecem como em um passe de mágica. Sem o menor pudor ou
constrangimento. O que torna difícil sustentar suas narrativas e discursos
posteriormente; afinal de contas, flexibilizaram demasiadamente as suas
convicções.
Mas, como o cidadão aprendeu a
conviver com as aparências, muito mais do que com a credibilidade e a lisura
política, rapidamente tudo é recomposto ao seu lugar de costume. Basta um meia “mea culpa” aqui e outro ali, ou um
engajamento oportunista acolá, para que, com o apoio da claque, se encham os
olhos do eleitor e se reacenda a chama do herói, do eterno “defensor dos fracos e oprimidos”. Tanto é verdade, que apesar dos
pesares, eles acabam reeleitos. E aí, começa todo o martírio, outra vez.
A pergunta é, até quando? A
verdade está bem diante do nariz. Trata-se de uma questão simples, querer
enxergá-la, querer admitir a sua existência, querer lidar com a sua aspereza,
tantas vezes, inconveniente. Tarefa difícil. Sair das zonas de confortos
legitimadas pelos séculos, não é pouca coisa. Demanda esforço e energia. Então,
entre avançar e retroceder, a maioria bate em retirada, abandona o ímpeto e
deixa a mudança para amanhã, para depois, para alguém que se disponha a
arregaçar as mangas e tomar uma atitude.
E nessa conjuntura, abre-se
espaço para desenhar mais um “salvador da
pátria”, um super-herói saído da ficção popular. Boa aparência. Discurso
raso; mas, envolvente. Promessas e desculpas na ponta da língua. ... Uma figura
talhada para zunir delicadamente, nos ouvidos desatentos, as soluções que
desesperam cada parcela da população. Fim da corrupção. Fim da carestia. Fim do
desemprego. Fim da miséria. ... de modo que as mazelas vão evaporando uma a
uma, alvejadas por uma retórica ilusoriamente certeira.
Ora, ora. Nessas horas, ninguém
para e pensa na história do Brasil. Nos seus mais de 500 anos vividos aos
trambolhões. Só se permite enganar, mais
uma vez, pelo “canto da sereia”, para
depois chorar e sofrer, como é de costume. É; eu quis muito acreditar que os
acontecimentos desses últimos três anos seriam suficientes para impactar um
número bastante significativo de brasileiros e brasileiras. Mas, me enganei. A
insuficiência está marcada na tomada de posição das pessoas, na sua
incapacidade de refletir a respeito de seus frágeis pontos de vista.