Às
favas...
Por
Alessandra Leles Rocha
Às favas com toda essa paciência desmedida,
essa inação providencial, essa preguiça macunaímica. Sejamos práticos e
objetivos; visto que, a vida é recortada pelos caminhos da economia. Estamos sendo
soterrados diariamente por notícias, as quais mais parecem um deboche
escancarado, de quinta categoria, que apontam para o dinheiro do país se
esvaindo por ralos e mais ralos.
A de hoje, por exemplo, anunciada
pelo próprio Presidente da República, que está em visita ao Oriente Médio, diz
que “o governo avalia reajuste para
servidores se PEC dos Precatórios for aprovada”1.
Simplesmente não há freios para conter a proliferação dos gastos. O país
gasta como se não houvesse amanhã. Gasta muito, muito mesmo, bilhões e bilhões.
Uma pena que não seja com o
necessário, o que inclui os problemas crônicos, as demandas históricas que vêm
se arrastando e repercutindo desdobramentos cada vez mais graves e urgentes. De
modo que a procura por novas fontes de recurso, como a tal PEC dos Precatórios,
esvazia-se de credibilidade e boas intenções, por si só.
Mas, embora, tudo pareça constituir
um modus operandi para satisfação de uma
ganância governamental compulsiva, o seu destempero excessivo demonstra que
não. Aliás, as bizarrices dessa gestão têm método, não decorrem do acaso ou do
excesso de oportunidades em cometê-las. Tudo é muito bem pensado, muito bem
planejado. E levar o país à bancarrota significa obstaculizar de maneira contundente
a próxima gestão.
Se houvesse reeleição do atual
governo, eles teriam uma justificativa concreta para a inação. Os maus caminhos
econômicos impediriam o país de realizar obras, de assumir novos compromissos,
de desenvolver políticas sociais, enfim. Seriam tempos de guerra total, de
cintos apertados ao extremo, de contenção de despesas, de fim dos supérfluos,
do essencial minguado.
Mas, se não houvesse reeleição o
caos configurado cairia no colo do vencedor do pleito. Portanto, a realidade áspera,
difícil, complexa, o impediria de construir pontes de popularidade e sucesso. Um
novo governo estaria refém das conjunturas e teria que se mostrar tão hábil e competente
quanto um esquadrão antibombas para desarmar o artefato deixado sobre a mesa.
Afinal de contas, querendo ou
não, à medida em que os nós apertam, a população se vulnerabiliza mais, a tal
ponto que a idealização em torno de um “salvador
da pátria” começa a pulsar com mais intensidade. E se ele não é capaz de
responder pronta e efetivamente aos pedidos de socorro que chegam de todos os
lugares, torna-se inevitável que ele caia em desgraça pública. Ainda que não
seja por incompetência, nem por falta de empenho, nem por falta de vontade, ...
pois, segundo o dito popular, “Em casa
onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão”.
E pensando assim, os quadros da
realidade atual começam a fazer sentido. Considerando todas as rupturas ocorridas
gradativamente, nesses três anos, em relação aos discursos e narrativas da
campanha de 2018, a atual gestão e seu séquito de apoiadores têm visto o declínio
caminhar a passos largos e o respaldo dos eleitores se esvair como fumaça.
Ora, dentro desse rol de pessoas,
cada grupo se aliou a essa gestão com base na crença em alguma (s) das
propostas apresentadas; então, na medida em que elas foram ruindo, eles foram
se decepcionando e se afastando.
Então, pensando em longo prazo, a
cartada mais plausível com vistas a um retorno triunfante, quem sabe em 2027, foi
desconstruir as possibilidades de sucesso de qualquer oponente que venha a se colocar
na disputa eleitoral dentro dessa conjuntura caótica.
Porque se o Brasil nunca foi para
amadores, agora, a situação está definitivamente pior. O país perdeu não só as
suas bases de sustentação econômica, haja vista a degradação explícita da Lei
de Responsabilidade Fiscal, como a credibilidade no cenário internacional, para
enfrentar os antigos fantasmas – inflação, alta de juros, desaceleração das
atividades produtivas, elevados índices de desemprego, perda do poder de
compra, e por aí vai.
Infelizmente, a realidade brasileira,
nesse momento, coloca qualquer pretenso candidato a Presidente da República
diante de uma perfeita sinuca de bico, ou em xeque-mate, como queiram dizer. O país
foi atingido no alvo. Nenhum país consegue avançar com uma economia em
frangalhos, porque todos os demais setores da gestão pública dependem de
recursos.
A vida e a sobrevivência do
Estado giram em torno disso. Se não há recursos, não há políticas públicas, não
há investimentos, não há projetos, não há obras, não há desenvolvimento, não há
progresso, não há absolutamente nada.
Por isso, eles não param. Por isso,
a gastança segue sem rumo. Porque as diversas faces da direita brasileira, que elegeram
e dão sustentação para o atual governo, pelo menos, por enquanto, não parecem
ter nenhuma intenção de interromper esse movimento. Elas parecem muito
convictas de que o plano pode dar certo e um eventual retorno seja garantido.
O que fica claríssimo, quando se
pensa a respeito das centenas de pedidos de impeachment
engavetados pelo Presidente da Câmara dos Deputados, ou de todas as
manobras jurídicas aplicadas pelo Procurador Geral da República a fim de
distensionar as pressões sobre o governo, em especial, o Presidente da
República.
Por mais que muitos queiram
fingir, fugir, se esconder da realidade, não dá. Estamos, portanto, à deriva! Sendo
metaforicamente devorados pela incompetência premeditada e calculista do nosso
ideário econômico. Roendo ossos e carcaças enquanto alguém rói os nossos. Contando
vinténs. Vivendo a luz de velas. Cozinhando a lenha. ...
Pois é. Quem diria que a classe
média tradicional alcançaria o mesmo patamar da classe baixa?! Em abril desse
ano, a notícia foi dada2. Então, às
favas com as mentiras, com a realidade paralela, com os delírios, com as
filosofias de botequim. Esse é o Brasil que estampa os veículos de informação e
comunicação, o país em que estamos aprendendo a viver um dia por vez; porque,
talvez, não haja amanhã.