terça-feira, 16 de novembro de 2021

Às favas...


Às favas...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Às favas com toda essa paciência desmedida, essa inação providencial, essa preguiça macunaímica. Sejamos práticos e objetivos; visto que, a vida é recortada pelos caminhos da economia. Estamos sendo soterrados diariamente por notícias, as quais mais parecem um deboche escancarado, de quinta categoria, que apontam para o dinheiro do país se esvaindo por ralos e mais ralos.

A de hoje, por exemplo, anunciada pelo próprio Presidente da República, que está em visita ao Oriente Médio, diz que “o governo avalia reajuste para servidores se PEC dos Precatórios for aprovada”1. Simplesmente não há freios para conter a proliferação dos gastos. O país gasta como se não houvesse amanhã. Gasta muito, muito mesmo, bilhões e bilhões.

Uma pena que não seja com o necessário, o que inclui os problemas crônicos, as demandas históricas que vêm se arrastando e repercutindo desdobramentos cada vez mais graves e urgentes. De modo que a procura por novas fontes de recurso, como a tal PEC dos Precatórios, esvazia-se de credibilidade e boas intenções, por si só.

Mas, embora, tudo pareça constituir um modus operandi para satisfação de uma ganância governamental compulsiva, o seu destempero excessivo demonstra que não. Aliás, as bizarrices dessa gestão têm método, não decorrem do acaso ou do excesso de oportunidades em cometê-las. Tudo é muito bem pensado, muito bem planejado. E levar o país à bancarrota significa obstaculizar de maneira contundente a próxima gestão.

Se houvesse reeleição do atual governo, eles teriam uma justificativa concreta para a inação. Os maus caminhos econômicos impediriam o país de realizar obras, de assumir novos compromissos, de desenvolver políticas sociais, enfim. Seriam tempos de guerra total, de cintos apertados ao extremo, de contenção de despesas, de fim dos supérfluos, do essencial minguado.

Mas, se não houvesse reeleição o caos configurado cairia no colo do vencedor do pleito. Portanto, a realidade áspera, difícil, complexa, o impediria de construir pontes de popularidade e sucesso. Um novo governo estaria refém das conjunturas e teria que se mostrar tão hábil e competente quanto um esquadrão antibombas para desarmar o artefato deixado sobre a mesa.

Afinal de contas, querendo ou não, à medida em que os nós apertam, a população se vulnerabiliza mais, a tal ponto que a idealização em torno de um “salvador da pátria” começa a pulsar com mais intensidade. E se ele não é capaz de responder pronta e efetivamente aos pedidos de socorro que chegam de todos os lugares, torna-se inevitável que ele caia em desgraça pública. Ainda que não seja por incompetência, nem por falta de empenho, nem por falta de vontade, ... pois, segundo o dito popular, “Em casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão”.

E pensando assim, os quadros da realidade atual começam a fazer sentido. Considerando todas as rupturas ocorridas gradativamente, nesses três anos, em relação aos discursos e narrativas da campanha de 2018, a atual gestão e seu séquito de apoiadores têm visto o declínio caminhar a passos largos e o respaldo dos eleitores se esvair como fumaça.

Ora, dentro desse rol de pessoas, cada grupo se aliou a essa gestão com base na crença em alguma (s) das propostas apresentadas; então, na medida em que elas foram ruindo, eles foram se decepcionando e se afastando.   

Então, pensando em longo prazo, a cartada mais plausível com vistas a um retorno triunfante, quem sabe em 2027, foi desconstruir as possibilidades de sucesso de qualquer oponente que venha a se colocar na disputa eleitoral dentro dessa conjuntura caótica.

Porque se o Brasil nunca foi para amadores, agora, a situação está definitivamente pior. O país perdeu não só as suas bases de sustentação econômica, haja vista a degradação explícita da Lei de Responsabilidade Fiscal, como a credibilidade no cenário internacional, para enfrentar os antigos fantasmas – inflação, alta de juros, desaceleração das atividades produtivas, elevados índices de desemprego, perda do poder de compra, e por aí vai.

Infelizmente, a realidade brasileira, nesse momento, coloca qualquer pretenso candidato a Presidente da República diante de uma perfeita sinuca de bico, ou em xeque-mate, como queiram dizer. O país foi atingido no alvo. Nenhum país consegue avançar com uma economia em frangalhos, porque todos os demais setores da gestão pública dependem de recursos.

A vida e a sobrevivência do Estado giram em torno disso. Se não há recursos, não há políticas públicas, não há investimentos, não há projetos, não há obras, não há desenvolvimento, não há progresso, não há absolutamente nada.

Por isso, eles não param. Por isso, a gastança segue sem rumo. Porque as diversas faces da direita brasileira, que elegeram e dão sustentação para o atual governo, pelo menos, por enquanto, não parecem ter nenhuma intenção de interromper esse movimento. Elas parecem muito convictas de que o plano pode dar certo e um eventual retorno seja garantido.

O que fica claríssimo, quando se pensa a respeito das centenas de pedidos de impeachment engavetados pelo Presidente da Câmara dos Deputados, ou de todas as manobras jurídicas aplicadas pelo Procurador Geral da República a fim de distensionar as pressões sobre o governo, em especial, o Presidente da República.

Por mais que muitos queiram fingir, fugir, se esconder da realidade, não dá. Estamos, portanto, à deriva! Sendo metaforicamente devorados pela incompetência premeditada e calculista do nosso ideário econômico. Roendo ossos e carcaças enquanto alguém rói os nossos. Contando vinténs. Vivendo a luz de velas. Cozinhando a lenha. ...

Pois é. Quem diria que a classe média tradicional alcançaria o mesmo patamar da classe baixa?! Em abril desse ano, a notícia foi dada2. Então, às favas com as mentiras, com a realidade paralela, com os delírios, com as filosofias de botequim. Esse é o Brasil que estampa os veículos de informação e comunicação, o país em que estamos aprendendo a viver um dia por vez; porque, talvez, não haja amanhã.