terça-feira, 16 de novembro de 2021

Pense na Educação. Pense em você. Pense no mundo.


Pense na Educação. Pense em você. Pense no mundo.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Quaisquer nações do mundo sabem muito bem que a Educação é base de sustentação do desenvolvimento e do progresso. É através dela que se delineiam os indicadores de competitividade e inserção no cenário global. Sem suficiência e eficiência educacional, o cidadão não consolida suas habilidades e competências nas mais diversas áreas do campo profissional. Daí a necessidade de os brasileiros serem mais responsáveis e prestarem mais atenção nos (des) caminhos que a educação nacional está se permitindo transitar.

Engana-se quem pensa que esse é um problema da rede pública, de pessoas que não têm acesso à rede privada. Não, este é um problema de todo e qualquer brasileiro que paga impostos, na medida em que, pelo menos em tese, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, determina que cabe a União aplicar, anualmente, nunca menos de 18% dos seus recursos e aos Estados, Distrito Federal e Municípios, 25% (LDB, 1996, art.69). E este percentual mínimo, segundo a Constituição Federal de 1988, tem destinação obrigatória ao ensino público. De modo que, caso haja interesse dos entes federativos em destinar recursos oriundos de impostos à rede privada, estes não poderão fazer parte do percentual mínimo.

Além disso, segundo os dados do último Censo Escolar, “Quase metade dos alunos matriculados na Educação Básica são atendidos pelos municípios brasileiros (48,4%). Em 2020, a rede privada teve uma participação de 18,6%. A rede estadual é responsável por 32,1% das matriculas; e a federal, tem uma participação inferior a 1% do total de matrículas”1. Portanto, a rede pública é predominante, o que significa que é através dela que mais de 80% dos cidadãos brasileiros constroem as bases do conhecimento que os sustentarão futuramente no mercado de trabalho. O que tornam as reflexões em torno desse assunto relevantes à toda sociedade brasileira.

Portanto, ela não é uma questão de governo; mas, uma questão de estado. Governos passam, cidadãos ficam. E é justamente esse contingente de pessoas, que frequentam as escolas, que merecem uma Educação pensada quantitativa e qualitativamente. Uma Educação que seja capaz de lhes promover a verdadeira inserção no mundo contemporâneo. Afinal, estes são tempos de transformações intensas não somente do ponto de vista sociocomportamental; mas, sobretudo, científico, tecnológico e produtivo. Então, para que as expectativas sejam satisfeitas é preciso que as perspectivas educacionais traduzam a realidade mutante contemporânea.

Pena, que nem todos pensam assim. Há 3 anos que o governo federal fez do Ministério da Educação um palco de guerra ideológica para afirmação de suas próprias crenças e valores. Um tempo perdido, no qual tudo o que não se discutiu foram propostas, projetos e políticas educacionais que pudessem alçar o Brasil a melhores posições nos rankings internacionais. Inclusive, no auge da Pandemia, se permitiram abster da elaboração de uma rede de apoio aos docentes e alunos, deixando a cargo dos Estados, DF e Municípios a elaboração de protocolos a serem seguidos, criando milhares de realidades distintas dentro de uma realidade maior.

O resultado desse modus operandi revelou o despreparo de escolas, professores e alunos diante do ensino à distância, o nível de inacessibilidade digital por docentes e discentes, a desistência e a evasão educacional por conta das dificuldades; mas, sobretudo, a dimensão das perdas de aprendizagem. Um expressivo contingente de alunos apresentou retrocesso, o que tende a demandar um longo período de recuperação a fim de colocá-lo no patamar de suficiência adequado de aprendizado. O período pandêmico representou, sem dúvida alguma, uma lacuna gigantesca para a Educação brasileira porque se permitiu que os desafios se tornassem muitos maiores do que precisariam ser, em razão da inação e do descaso governamental.

Em contrapartida, quando o assunto é dar pitaco ideológico, eles não se furtam em manifestar. Pelos absurdos que chegam pelos veículos de informação e comunicação é perceptível o quanto essas pessoas, uma grande maioria em cargos de chefia e relevante importância, desconhecem o assunto Educação, começando por aquilo que determinam as legislações e afins. Porque se conhecessem, minimamente, entenderiam que a Educação do século XXI não pode ser encapsulada por uma bolha de ideias tortas e retrógradas que a dissocia da realidade do mundo.  

Ora, a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017, está fundamentada na “formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)” 2. De modo que essa concepção objetiva desenvolver no aluno competências, ou seja, “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BNCC, 2017, p.8). Quaisquer imposições, então, de viés ideologizado e radicalizado comprometem a Educação, na medida em que limitam e estreitam as possibilidades de valorização e utilização dos conhecimentos “historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade” (BNCC, 2017, p.9).  

A continuar nesse movimento de ingerência e desconstrução absurdos, apenas os investimentos destinados à Educação tornam-se inócuos para garantir quaisquer resultados positivos. Provas como o Programa Internacional de Alunos (PISA), realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, que “mede o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências” 3 tenderiam a apresentar resultados cada vez piores. Considerando que o objetivo desse tipo de avaliação é produzir indicadores que fomentem discussões capazes de “subsidiar políticas nacionais de melhorias na educação” e que as provas são formuladas a partir de parâmetros internacionais; logo, o processo estaria fora dos limites da “bolha educacional” estabelecida pelo governo e na contramão da OCDE. Algo que não é nada bom, dado o interesse do Brasil em ingressar no grupo de países membros da referida entidade.

Como se vê, são muitos os prejuízos que as manobras do atual governo federal estão produzindo na Educação; mas, que repercutem em diversas outras áreas. Com 13,7 milhões de desempregados, as discussões em torno da Educação não são supérfluas; mas, vitais. Torna-se imprescindível repensar as relações de trabalho na contemporaneidade frente as demandas que emergem em ritmo frenético, por causa da automatização e tecnologização dos meios de produção, a partir das bases educacionais. Como a Educação pode auxiliar nesse processo de mudança? De que forma o modelo de ensino pode incentivar a autonomia, a autoralidade, a criatividade e o empreendedorismo desde a formação educacional básica? ... Perguntas assim é que precisam estar na dianteira da gestão pública contemporânea, para possibilitar o surgimento de novos protagonismos econômicos para o país. Por enquanto estamos no fim da fila, amargando uma crise em cima da outra, minguando as expectativas, chorando as perspectivas.

Platão, filósofo grego, dizia “Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo”. No caso do brasileiro é preciso mover-se contra o atraso e a estagnação educacional. Gente sem acesso à escola é gente submetida à precarização do trabalho, à péssimas remunerações, condições indignas de exercício profissional, analogia à escravidão. Mas, também, e principalmente, a viver em um país cuja economia não avança, os índices de inflação consomem a renda, a miséria se alastra e a desigualdade se torna cada vez mais perversa e brutal. Lembre-se “A educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal. É através dela que a filha de um camponês pode se tornar uma médica, que o filho de um mineiro pode se tornar o diretor da mina, que uma criança de peões de fazenda pode se tornar o presidente de um país” (Nelson Mandela – estadista e Prêmio Nobel da Paz).  Afinal, a “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo” (Paulo Freire – educador e filósofo brasileiro).